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A Eternidade de Ana [Português, Brasil]
Capítulo 75 - Abyssal Reverie

Capítulo 75 - Abyssal Reverie

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— Eu havia esquecido o quão calmo esse lugar era — sussurrou Ana, sentada no chão, abraçando os joelhos com os olhos fechados. Sem os ataques, o lugar ficou extremamente silencioso, trazendo um forte sentimento nostálgico. A escuridão era tão profunda que abrir os olhos parecia inútil. Sabia que precisava voltar, mas permitiu-se um momento de descanso enquanto refletia sobre tudo que havia acontecido.

As horas anteriores foram um contínuo massacre. Diferente do outro local mais escuro anterior, este continha incontáveis insetos das mais estranhas e diversas aparências, todos pelo menos tão grandes quanto cachorros, mas com alguns maiores que vans escolares. Não eram fortes ou particularmente espertos, mas sua quantidade era avassaladora, vindo em contínuas ondas para tentar subjugar a intrusa, uma estratégia que os levou à sua queda.

Com seus reflexos mais afiados do que nunca, havia cortado a carne macia incansavelmente sem conseguir ordenar seus pensamentos. A espada negra, fincada no chão à sua frente, se erguia imponente, agora mais de dez centímetros maior, reflexo da matança desenfreada.

— Vai ser insustentável se você continuar crescendo assim, minha amiga.

Ela não sabia exatamente quando começou a recobrar a sanidade, mas a cada porção de mana absorvida, pequenos lampejos de quem era voltavam à sua mente. Infelizmente, contrastando com o retorno da sanidade, sua força física diminuía, e a luta contra os monstros insetos ficava mais difícil.

— Meu corpo foi muito além do que pode suportar… — murmurou, suspirando enquanto massageava os braços. Suas feridas lentamente se fechavam, mas seus músculos gritavam de exaustão. — Bom, vamos ver se é realmente assim que funciona.

Esticando um dedo, pensou em uma esfera de fogo, mas dessa vez em uma escala menor. Em sua mente formou algo que a permitisse ver e a esquentasse, um fogo caloroso, não um arauto da destruição. Como um milagre, a mana se condensou em frente a seus olhos, criando uma chama tão bruxuleante quanto a de uma vela.

— Essa merda não faz nenhum sentido — enquanto falava consigo mesma, a pequena esfera de calor girava ao redor da sua mão em movimentos pouco ágeis.

Era difícil, mas gradualmente tornou-se mais natural, e em poucos minutos já estava se movendo quase ao mesmo tempo em que pensava nos comandos. Sentia a mana que havia absorvido durante o combate, desgastando-se a cada segundo, como se uma gota de cada vez escorresse de dentro de seu corpo. Pensando em mais um teste, fez a chama ficar mais intensa, e a luz se expandiu, iluminando ainda mais os arredores, revelando grandes poças de sangue carmesim abaixo de seus pés. Consequentemente, a mana começou a ser drenada mais rápido, apesar de ainda ser muito mais lentamente do que na tentativa que fez com Lúcia.

Quando estava prestes a parar, querendo economizar a energia aparentemente não renovável que possuía, a pequena chama começou a ficar negra, assim como antes. O fogo ainda emitia uma fraca luz e continuava a dançar, mas seu calor começou a trazer uma sensação angustiante de desespero.

Franzindo a testa, Ana estendeu outro dedo. Imitando Lúcia, imaginou uma pequena brisa girando em alta velocidade ao redor dele. Dessa vez não tentou controlar ou algo semelhante, apenas esperou, e logo o mesmo voltou a ocorrer; uma intensa escuridão se mesclou com o redemoinho em miniatura.

— A mana reversa parece sempre querer dominar tudo — disse, surpresa, ao prestar atenção no que acontecia com seu corpo, entendendo rapidamente a situação. — Bom, talvez perca um pouco a utilidade em manifestações normais, mas ainda não posso dizer se é uma benção ou uma maldição…

Conforme mantinha as manifestações obscuras, sentia seus lábios voltarem a forçosamente formar um sorriso em seu rosto e pensamentos viscerais brotarem dos cantos de sua mente, então rapidamente parou o fluxo de mana. Balançando a cabeça para recobrar a razão, levantou-se com dificuldade e pegou a espada. Embora tivesse crescido apenas dez centímetros, ficou bem mais pesada.

Cansada, arrastou a lâmina pelo caminho que tinha vindo, com o som do metal raspando contra a pedra ecoando pelo vazio. Não era difícil seguir o trajeto, havia um longo rastro de vermelho como guia.

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Ana encontrou o resto do grupo no local onde havia lutado contra o estranho protetor do portão. Estavam sentados, mas alertas, e se levantaram de imediato ao vê-la se aproximar. O lobo se ergueu na frente de Lúcia, que observava com olhos arregalados a mulher coberta de sangue, como se quisesse protegê-la. Um silêncio se instalou por um instante, parecia que ninguém sabia o que dizer ou fazer, mas logo todos suspiraram simultaneamente em alívio.

— Eu voltei — disse Ana, se aproximando devagar com um aceno e um sorriso relaxado no rosto.

Aquelas palavras foram o suficiente para desencadear uma enxurrada de emoções em Lúcia. A menina correu em direção a voz, jogando-se sobre ela e começando a chorar copiosamente. As lágrimas corriam livremente pela pequena face enquanto a enterrava no peito da mercenária. A sensação da armadura fria e o sangue seco contra seu rosto tornava o momento ainda mais real.

— Achei que você tinha ido embora — soluçou Lúcia, a voz trêmula e mais infantil que o comum.

— Não conseguiria me livrar de você tão facilmente — respondeu Ana, tentando aliviar a tensão com uma brincadeira enquanto acariciava o cabelo da criança. A fragilidade da menina era um contraste gritante com a brutalidade que vira pouco tempo antes. — Pode se aproximar, garoto. Obrigada por ter pensado tão rápido, você fez um bom trabalho cuidando dela.

O lobo ainda estava alerta, pronto para qualquer sinal de ameaça, mas trouxe o focinho para perto, aceitando o carinho oferecido. Ela sentiu a tensão nos músculos do animal relaxar aos poucos.

— Bom, consegui abrir o caminho, podemos seguir em frente agora.

Ouvindo as palavras de sua mentora, Lúcia se afastou, secando as lágrimas restantes com a manga da camisa. Ela lançou um olhar furtivo para a espada negra. Algo nela a deixava desconfortável, uma sensação que não conseguia explicar, mas decidiu deixar isso de lado. Era hora de aproveitar apenas a felicidade do momento. No entanto, algo mais chamou sua atenção.

— Você está diferente. Sua aura está estranha — comentou Lúcia, franzindo a testa.

— Como assim?

— Seu limite de mana. Parece que diminuiu.

— Limite? Pode me explicar o que é?

— Você realmente não sabe? Não está só brincando comigo? — Lúcia achou a pergunta estranha, e seu olhar de preocupação se aprofundou.

— Eu realmente não sei muito sobre… É uma longa história, mas prometo que vamos falar sobre isso em breve.

— Certo... — murmurou a menina, intrigada, antes de continuar. — Existe um certo limite para todo mundo que usa mana. Ele meio que cresce sempre que outro ser vivo morre por perto, como se a gente roubasse a mana que ele tinha, bem devagarzinho. Quando usamos alguma manifestação, nossa mana vai gastando desse limite, mas quando paramos de usar ela vai voltando pro nosso corpo até ele encher de novo. O estranho é que ele geralmente só cresce, mas o seu parece estar menor do que quando treinamos ontem!

“Não parece que tenho a sorte da mana voltar sozinha para o meu corpo, mas a absorção a partir dos mortos funciona, apesar de não ser algo devagar igual ela diz ser… Terei que estudar sobre esse tal de limite mais a fundo…”, refletiu Ana, lembrando-se de ter lido algo sobre o assunto a muito tempo atrás.

— Entendi, conhecia o básico sobre, mas é mais claro com você explicando. Obrigada.

A garota acenou com um sorriso e arrumou o cabelo em um gesto tímido, o qual logo voltou a bagunçar-se com o vento que soprava levemente. Algumas folhas secas no chão dançavam ao redor delas no ritmo da brisa e Ana acompanhou a cena com os olhos, sentindo a rara tranquilidade do ambiente.

Após se espreguiçar, esticando os músculos doloridos, Ana pegou Lúcia e, antes que ela pudesse protestar, a colocou sobre o lobo. Após também montar, tocou a lateral do corpo do animal, o qual começou a caminhar vagarosamente, como se hesitasse entrar na escuridão absoluta a sua frente.

— Ana… — uma voz suave veio das costas da mercenária, e uma pequena mão apertou a sua. — De verdade, estou feliz que tenha voltado…

Ana apenas sorriu, e novamente afagou de leve o cabelo da menina. Em seguida, começou a cantarolar.

— Você está proibida de fazer isso!

A mão que calorosamente segurava a sua se soltou com um puxão brusco e o lobo no qual montavam arqueou as costas pelo pavor, quase às derrubando. Em frente a seus olhos Ana viu uma garota com olhos tremendo e um corpo encolhido, como se um medo instintivo tomasse conta dela.

— Ok… ok… — respondeu a mercenária, suspirando.

Ainda assim, temendo que Ana voltasse a cantar, o lobo disparou para frente, deixando de se importar com onde seu galope levaria.

Agora, tudo escureceu.

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