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Alguns minutos depois, um som súbito e pesado foi ouvido, chamando a atenção de Eva e Alex. Eles olharam para cima no exato momento em que Lana surgiu abruptamente, saltando diretamente de algum lugar acima com uma leveza surpreendente para alguém de sua estatura.
Sua aterrissagem foi um impacto controlado, as pernas ligeiramente flexionadas, e com o rosto ainda sério, Lana varreu a sala com os olhos, encarando os dois por um instante. Assim como sua mãe, demorou alguns segundos para reconhecê-los.
Quando finalmente percebeu a situação, seus olhos brilharam e o sorriso se abriu de uma forma radiante.
— Eva! — exclamou com uma alegria genuína em sua voz enquanto corria até a garota..
Sem hesitar, envolveu-a em um abraço apertado, erguendo-a do chão com facilidade surpreendente. Lana, com seus 17 anos, era um pouco mais alta que ela, cerca de 1,75 de altura. Sua pele escamosa e parda brilhava sob a luz suave da sala, e seus cabelos pretos, cortados curtos, davam-lhe um ar prático e destemido. Havia uma energia vibrante em seus gestos, e a confiança jovial que ela transmitia era contagiante.
Eva foi pega de surpresa pela força da jovem. A pele rígida da escamosa raspava em seus braços, causando leve desconforto, mas a arqueira ruiva soltou um leve suspiro quando, para seu alívio, não sentiu nenhuma aversão pela aparência mutada da amiga.
Lana soltou uma risada alta e envolvente enquanto girava Eva no ar por um momento, antes de colocá-la de volta no chão com um último aperto caloroso.
— Achei que você nunca mais fosse visitar a pobre menina corrompida! — comentou, ainda sorrindo. — Você tá bem?
— Estou sim — respondeu Eva, sorrindo pela animação que parecia renovar o ambiente. — E você? Parece que está mais... energética do que nunca.
— Igualzinha! Tô bem demais! — com um gesto casual, pegou o arco que pendia nas costas da visitante, avaliando-o. — Os riquinhos da cidade e suas bizarrices… espero que me deixe testar ele mais tarde.
Então, os olhos de Lana se voltaram para Alex, que estava quieto, observando a interação com um leve sorriso por trás da máscara. Ela franziu o cenho, analisando-o por um momento.
— E esse cara aqui? Ainda não se cansou de andar com esse tio?
Alex suspirou, e deu um pequeno aceno para a garota.
— Quanto mais velha, mais irritante?
— Não! Você que tá ficando mais chato! — respondeu a garota, também dando um aceno.
— É bom saber que você tá bem, Lana. Queríamos ter vindo aqui a um bom tempo, mas tudo tá cada vez mais bagunçado… por sinal, gostei das escamas, combinam com você — disse ele, em um tom que misturava melancolia e descontração.
Lana ergueu as sobrancelhas, surpresa com a brincadeira inesperada de Alex. Mas, sem perder tempo, deu um pequeno giro, exibindo suas nova camada de pele com um sorriso travesso.
— Não é mesmo? — disse ela. — Essas escamas são a última moda por aqui, Alex. Você deveria experimentar!
— Eu passo, por enquanto, mas vou pensar na ideia.
A sala ficou leve com as risadas. A interação brincalhona aliviava a tensão inicial e trazia um contraste divertido àquela reunião.
Lana então inclinou-se um pouco para frente, sua curiosidade despertada ao observar mais de perto as máscaras que os dois usavam. Ela cruzou os braços, com um toque de dúvida no olhar.
— Ei... e essas máscaras? O que tá rolando? Vocês estão numa missão secreta ou é alguma moda nova? — ela riu alto, inclinando-se para trás, colocando as mãos nos quadris, claramente interessada.
A dupla trocou um olhar rápido ao ouvir a pergunta, com um entendimento mútuo que já era hora de seguir com o assunto.
— Na verdade... — começou Eva, sua voz ficando mais séria, embora ainda calma. — A gente não veio só para uma visita. Somos parte da cidade das máscaras agora…
O sorriso de Lana vacilou por um momento, e seus olhos se arregalaram de surpresa. A excitação usual dela deu lugar a uma expressão curiosa e cautelosa.
— Sério? Ouvi uns boatos de que eles estavam se reerguendo, mas pensei que fosse só papo... — a menina réptil balançou a cabeça, ainda assimilando a informação. — Mas, sabe de uma coisa? Fico feliz que você saiu de perto daqueles desgraçados de Barueri.
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— Os puros estão causando problemas por aqui também? — perguntou Alex, se aproximando com interesse.
Lana fez uma careta ao ouvir o nome deles.
— Não chamaria de problemas ainda. A gente não trocou sangue com eles... por enquanto. Mas sempre tem um ou outro idiota que aparece falando sobre se render ou qualquer besteira dessas.
— Entendo... — sussurrou Eva, pensativa, mas sabia que aquele não era o momento para aprofundar o assunto. — A gente tem muito o que conversar, mas estamos aqui por um motivo mais urgente. Seu pai ainda é um dos generais que comandam a cidade, certo?
Lana soltou uma gargalhada alta, sua energia retornando com força total depois da breve tensão ao falar dos puros.
— Claro que ele é! Você não viu o emblema do clã logo na entrada? — disse, apontando para uma parede próxima, onde a imponente figura “Semi-Dragões” destacava-se em uma cor carmesim, quase pulsante, como se fosse impossível de ignorar.
Eva assentiu, compreendendo o significado do símbolo. Ela respirou fundo, entendendo a inconveniência do que pediria.
— Sei que foge do procedimento padrão… mas será que você consegue nos ajudar a marcar uma reunião com ele o mais rápido possível?
Lana parou por um momento, o sorriso desaparecendo de seus lábios. Ela fez uma expressão complicada, cruzando os braços e franzindo o cenho. No entanto, antes que pudesse responder, seu nariz se ergueu levemente no ar, como se estivesse farejando algo.
— Hmmm... vocês deram sorte. — disse ela, um sorriso lento voltando ao seu rosto. — Não seria fácil encontrar ele, mas...
Eva e Alex tinham olhares confusos, sem entender o ponto das palavras da garota. Lana, no entanto, parecia completamente à vontade.
— Sente esse cheiro? — ela perguntou casualmente, sem esperar uma resposta. — Cheiro de sangue.
Eva franziu o cenho, enquanto Alex olhava ao redor, tentando identificar o que Lana estava falando.
— Ele está chegando. — Lana disse com uma confiança brincalhona. — Em... três... dois...
Antes que a garota pudesse terminar a contagem, a porta da frente se abriu com um estrondo surdo, como se o próprio ar tivesse sido expulso do ambiente. Uma figura gigantesca entrou na sala, preenchendo o espaço com uma presença avassaladora. O homem que surgiu era uma verdadeira montanha de músculos, ultrapassando facilmente os dois metros de altura. Suas escamas escuras e ameaçadoras pareciam mais sólidas e espessas do que as de qualquer outro habitante da cidade, reluzindo à luz suave que atravessava as janelas. Ele parecia feito de pedra viva, intransponível.
Sua cauda, ao contrário das outras que tinham visto até o momento, não era lisa e ágil, mas cravejada com cristas e protuberâncias que lembravam a de um crocodilo, aumentando ainda mais sua aparência intimidadora. E seus olhos... Pupilas amarelas, cortadas como as de um grande réptil, fixaram-se imediatamente nos visitantes mascarados. O olhar penetrante e predatório do homem os examinou com uma intensidade aterrorizante.
— Droga, errei por um segundo! — exclamou Lana, rindo com sua pequena falha na contagem, enquanto corria para ele, jogando-se sem hesitar nos braços de seu pai.
O gigante a levantou com uma facilidade surpreendente, segurando-a no ar como se fosse uma pena, seus músculos tensos mostrando o mínimo esforço. Ele manteve a filha suspensa por um momento, um raro sorriso surgindo em seu rosto marcado pelas batalhas. Depois, a colocou de volta no chão com uma gentileza inesperada para alguém tão imponente. Sem dizer nada, apoiou sua enorme lança, adornada com runas que brilhavam fracamente em verde no canto da porta. Surpreendentemente, diferente das que viram até o momento, era inteiramente feita de metal, e ecoou levemente quando tocou a parede.
— O que mascarados estão fazendo na minha casa? — Sua voz era grave, profunda, e pareceu vibrar por cada canto, ecoando com uma autoridade inquestionável. A sala, que já era pequena diante de sua presença, parecia encolher ainda mais.
Lana, percebendo a tensão que se instalava no ambiente, rapidamente se interpôs entre seu pai e os visitantes, mantendo o tom leve e animado que sempre carregava.
— Pai, é a Eva! Lembra dela? Ela veio falar com você. Parece que tem algo importante pra discutir. — seu sorriso era confiante, mas seu olhar pedia ao pai que confiasse nela.
O escamoso manteve o olhar fixo nos dois por mais alguns segundos, seus olhos escaneando cada movimento deles. O silêncio se alongou, denso e sufocante, até que ele finalmente quebrou o contato visual com um leve movimento da cabeça, deixando escapar uma risada baixa, quase imperceptível.
— Isso não parece coisa boa — murmurou, sua voz ainda carregada de desconfiança.
Eva exalou a respiração que segurava, sentindo a tensão pulsar em seus ombros, mas manteve a postura firme e o olhar decidido.
— Não é, general — respondeu com firmeza, sem hesitar. Suas palavras foram rápidas e diretas, o que pareceu agradá-lo. Ele a encarou por mais um instante antes de caminhar até o centro da sala com passos pesados.
Em um gesto repentino, se deixou cair no chão com um baque seco, sentando-se de maneira relaxada, cruzando as pernas. Apesar de sua posição mais casual, a pressão que emanava de seu corpo não baixou em nada.
Nesse momento, a mulher de antes reapareceu em silêncio, quase sem ser notada. Ela carregava um grande pote cheio de carne, cozida, mas quase crua, com o cheiro forte se espalhando rapidamente pela sala. Com um gesto de carinho, ela se aproximou do marido, entregando-lhe recipiente e beijando sua bochecha.
— Seja gentil, Leandro. É a amiga da nossa pequena.
Com mais um carinho na pele rígida, recuou discretamente para o lado da sala, puxando um pequeno banco para se sentar. O general pegou um pedaço de carne e o mordeu com um prazer quase animal, mastigando devagar.
— Bom, podem falar — disse ele, com a boca ainda cheia.
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