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A Eternidade de Ana [Português, Brasil]
Capítulo 168 - Disciplina de Aço

Capítulo 168 - Disciplina de Aço

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— Por quê... me trouxe aqui...? — A voz de Felipe era rouca e fraca, mas carregava um ódio visceral. Seu olhar estava fixo na discursante a sua frente, cada palavra saindo como se fosse cuspida.

Natalya ergueu uma sobrancelha, um sorriso de escárnio curvando seus lábios.

— Porque eu quis — sua resposta foi firme e direta. Ela colocou a ferramenta de lado com calma e cruzou os braços, inclinando-se levemente na direção dele. — E não é como se você estivesse em posição de questionar minhas motivações. Estava morrendo, e agora não está. Quer saber? Agradeça ou não, para mim tanto faz.

Felipe cerrou os dentes, tentando ignorar a dor lancinante enquanto forçava mais uma vez o corpo a se erguer.

— Sua... maldita...!

A Colecionadora não recuou. Seu olhar frio o analisava, como se ele fosse pouco mais que um objeto quebrado tentando se tornar relevante.

— Ah, então você ainda tem energia para me odiar? — comentou, em um tom de interesse cruel. — Talvez eu tenha feito um trabalho melhor do que imaginei te costurando.

Felipe tentou avançar, mas seu corpo não respondeu. A exaustão o fez recair novamente na cama com um baque surdo, o som acompanhado por um rosnado de fúria impotente.

A frustração o consumia, o ódio fervilhava e os dois se misturavam à humilhação que sentia. Ele queria gritar, queria arrancar aquele sorriso dela, queria machucá-la. Se não tinha braços, usaria os dentes, a cabeça, qualquer coisa que pudesse fazê-la sentir uma fração da dor, não apenas física, que o cobria.

Mas o esforço cobrou um preço alto. Sua visão começou a escurecer, e ele sentiu o controle sobre seu corpo desaparecer.

— Não... — murmurou, mas a palavra mal saiu.

Natalya apenas encarou em silêncio quando ele finalmente desmaiou.

— Criança idiota.

Com um pequeno bufar e um movimento ágil, voltou ao trabalho que estava fazendo. Pegou um novo lote de peças de metal, junto com ferramentas um pouco maiores do que as anteriores.

E assim seguiram os primeiros dias após o contato inicial, um tormento absoluto para Felipe. Ele mal conseguia mover o que restava de seu corpo, e a dor constante tornava impossível descansar adequadamente. Natalya cuidava dele apenas o suficiente para mantê-lo vivo. As visitas dela eram práticas e impessoais: entrava, deixava remédios ou um prato de comida que ele mal conseguia engolir, e então se sentava para trabalhar em suas peças.

A impotência do garoto só aumentava sua frustração, mas ela não se importava. Sempre retribuía seu olhar com um desdém casual, um pequeno sorriso nos lábios que o fazia se sentir ainda mais insignificante.

Um minuto de cada vez, ele ficava ali, ouvindo apenas o ritmo hipnótico de cliques, estalos e chiados dos desmontes e remontes que sua captora fazia. Às vezes, ela murmurava algo para si mesma, uma crítica ao próprio trabalho ou um comentário irônico, mas nunca falava diretamente com ele. À noite, ela saía sem dizer uma palavra, deixando Felipe sozinho com seus pensamentos amargurados e a sensação persistente de inutilidade.

Os dias seguiam esse padrão exaustivo, até que, na terceira semana, algo mudou.

Quando Natalya entrou no quarto, não trazia apenas os itens usuais. Desta vez, carregava algo maior: uma caixa de metal robusta, que parecia pesada, mas que ela transportava com graciosa facilidade.

Sem cerimônia, ela a colocou sobre uma mesa próxima à cama. O som rangente ao abrir a tampa reverberou pelo ambiente. Dentro, uma coleção de peças cuidadosamente organizadas brilhou sob a luz pálida. Eram partes de próteses, cabos, pequenos mecanismos intrincados e ferramentas adicionais, tudo disposto como uma pequena oficina portátil.

— Hoje é um dia especial, garoto.

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Ela tirou uma das peças maiores, segurando-a contra a luz enquanto analisava cada detalhe. Parecia uma estrutura de metal para um braço, compacta, mas robusta, com encaixes perfeitos para os cabos e pequenos motores rúnicos embutidos.

— Preparei isso especificamente para hoje — continuou, mais para si mesma do que para ele.

Felipe a observou com uma mistura de curiosidade e desprezo, a mandíbula travada enquanto tentava adivinhar suas intenções. Apesar do ódio que ainda borbulhava em seu peito, havia algo hipnotizante no modo como ela trabalhava. A precisão meticulosa de seus movimentos, o som das ferramentas ajustando metal contra metal, o brilho dos componentes refletindo pela sala — tudo parecia orquestrado com perfeição.

— Por quê? — ele perguntou finalmente, sua voz carregada de desconfiança.

Não tinha mais vontade de xingá-la. Não por falta de ódio, mas porque já havia feito isso exaustivamente nos dias anteriores, sem qualquer efeito. Agora, o amargor dava lugar a uma aceitação relutante de seu estranho destino.

Natalya ergueu outra das peças, ajustando-a com cuidado antes de responder.

— Porque você precisa voltar a andar. Chegou a hora de ver se é mais que um peso morto.

Ela colocou a peça em cima da mesa e levantou os olhos para encará-lo.

— Mas, antes que pergunte, deixo claro que isso vai doer. Vai exigir de você, e você vai me odiar ainda mais no processo. Mas no final... vai valer a pena.

Felipe rangeu os dentes, lutando para não reagir.

— Como vou andar com peças aleatórias?

— Uma coisa de cada vez — seu tom assumiu um ar de comando e ela soltou uma risada curta. — Primeiro, você vai começar a mostrar sua utilidade dessa cama mesmo.

Pegando mais duas peças, aproximou-as do rosto dele, obrigando-o a olhar de perto.

— Isso aqui, garoto, é um conector E-7, projetado para se integrar com sistemas básicos de mobilidade. Veja o formato dos terminais. Qual é a diferença dele para um conector E-5?

Felipe piscou, confuso, mas antes que pudesse responder, Natalya já estava falando novamente.

— Vamos, olhe mais de perto. Preste atenção. O E-7 tem terminais reforçados para lidar com cargas mais intensas, enquanto o E-5 é usado em sistemas mais simples. Isso significa que, se você usar o E-5 aqui…

— Vai queimar com a sobrecarga — ele completou, embora hesitante.

Natalya arqueou uma sobrancelha, impressionada.

— Ótimo. Ótimo. Agora, memorize isso. E memorize rápido.

Ela largou as peças sobre a mesa e apontou para outro componente maior, com um núcleo translúcido.

— Este é um capacitor de mana G-12. Ele regula a energia que flui entre o núcleo e os motores. Acontece que, se você conectar isso de forma errada, sabe o que acontece?

Felipe balançou a cabeça, incerto.

— Você frita a porra toda e volta a ser um saco de carne no chão — Natalya se aproximou mais, os olhos fixos nos dele. — Agora, me diga, como você conecta isso corretamente?

Felipe olhou para o componente, os olhos estreitados enquanto tentava decifrar o que via.

— Eu... não sei.

— Errado! — Natalya pegou o componente e o colocou na mesa com força suficiente para ecoar pelo ambiente. — Você vai aprender. E rápido. Não há almoço para idiotas. Se não souber me responder isso até o fim do dia, você não come.

Os olhos de Felipe se arregalaram, mas ele fechou a boca antes de protestar. A fúria em seu olhar só aumentava, mas havia algo mais ali — determinação.

— Agora, preste atenção — continuou Natalya, ignorando o olhar dele. Ela segurou o capacitor, girando-o para mostrar os terminais e as marcações finas. — Os pontos azuis indicam a entrada de energia. A conexão negativa vai aqui, e o positivo... aqui. Um erro, garoto. Um. E você pode dar adeus à sua segunda chance.

Ela colocou o capacitor de volta na caixa e pegou outra peça, falando sem parar.

A rotina repetitiva e intensa se repetiu incessantemente. Natalya, com sua paciência fria e métodos rigorosos, explicava cada detalhe. Felipe, ainda preso à cama, assimilava as informações cada vez mais rápido. A visão de um aprendiz forçado era incomum para a solitária Colecionadora, mas não era um cenário que desgostava completamente.

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