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A Eternidade de Ana [Português, Brasil]
Capítulo 164 - Aviso dado. Escolhas feitas.

Capítulo 164 - Aviso dado. Escolhas feitas.

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— Esse é o cara? — perguntou Ana, sua voz carregada de curiosidade enquanto observava a figura imponente a distância.

— Sim, tava no bar junto ela. — Alex respondeu, o peso da situação refletido em sua expressão. — Mas parece que ninguém sabe de nada sobre ele.

— Eu disparo? — questionou Eva, já ajustando o encaixe de sua arma.

— Não... vamos ver o que acontece primeiro. Se ele não interferir, não temos motivos pra gastar energia com essa luta.

— Então a gente só chega lá e fala com ele? — Alex arqueou uma sobrancelha, o tom sarcástico contrastando com a tensão evidente no ar.

Ana balançou a cabeça, um pequeno sorriso dançando em seus lábios.

— Na verdade, parece que não vamos precisar fazer isso.

Como se estivesse acompanhando de perto a conversa, a figura deu um passo à frente.

CLANG. CLANG.

O som ecoou pelo corredor vazio, pesado e antinatural. Cada baixada de pé parecia ressoar como um martelo batendo em metal, criando uma vibração que reverberava nas paredes e nos ouvidos dos três. Tais ruídos claramente não eram de carne ou osso.

Os integrantes do Punição Divina trocaram olhares breves, como se tentassem interpretar o que estava acontecendo. Instintivamente, suas mãos apertaram as armas, o movimento sincronizado de veteranos prontos para o que viesse.

Os segundos pareciam se estender mais do que deveriam. O som dos passos pesados continuava, ampliando a tensão. Antes que percebessem, os dois lados estavam cara a cara.

A figura, agora parada, era imensa e intimidante. O capuz escuro obscurecia grande parte do rosto, mas dois pontos brilhantes sob o tecido sugeriam olhos que observavam cada detalhe.

O silêncio que seguiu foi ensurdecedor, mas o próprio homem não deparou para o quebrar. Sua voz metálica e distorcida cortava o ar como o ranger de engrenagens mal lubrificadas, mas eram carregadas de uma calma casual, contrastando com a vigilância que permeava o ar.

— Este castelo… é fascinante — ele virou levemente a cabeça, seu olhar brilhante varrendo as colunas, as paredes ornamentadas e o teto alto. — A arquitetura é… robusta, mas também refinada. Imponente e prática, mas com um senso de elegância que raramente se encontra em lugares como este.

Ana permaneceu imóvel, apertando o cabo da lança-espada com mais força. Seu olhar fixo no homem era afiado, mas ela não interrompeu.

— Suponho que você seja a responsável por isso, rainha Annabelle. Te parabenizo.

Ana arqueou uma sobrancelha, mas sua postura não mudou.

— Agradeço. Se abrir caminho, pode ficar aqui admirando a decoração à vontade. Apesar que infelizmente imagino que não está aqui pra isso.

O homem fez um som que poderia ser uma risada seca, mas que mais parecia o ranger de metal se dobrando.

— Não, não estou — ele ergueu a mão lentamente, apontando para uma das colunas ornamentadas ao lado. — Mas é difícil ignorar. Veja só isso. Raramente encontro estruturas que misturam tão bem utilidade e beleza. É uma pena que talvez seja tomado de você em breve. Tristes guerras…

Eva, que estava na retaguarda, apertou os dentes, a flecha já pronta em seu arco, enquanto Alex imbuia suas manoplas com energia. A figura não reagiu de imediato. Seu olhar vagou lentamente pelos dois, como se estivesse analisando-os. Em seguida, voltou-se para Ana, ignorando completamente a suposta ameaça da dupla.

— Eu vou ser direto — Sua voz perdeu a leveza, tornando-se mais grave. — Não entrem naquela sala. Apenas entreguem as armaduras. Não precisamos de mortes sem sentido.

A oferta inesperada fez Alex dar um sorriso repleto de ironia.

— Não precisamos de mortes sem sentido? E todos os guardas lá fora? Vai realmente bancar o pacifista?

Eva acenou em concordância com as palavras do pugilista, mas ao mesmo tempo, franziu o rosto e cruzou os braços enquanto coçava a parte do ombro onde a armadura se conectava à carne. Sua expressão era de desconforto, como se lembrasse da dor de ter o equipamento implantado.

— Avisamos para recuarem... — sua resposta foi direta, sem emoção. — Eles escolheram lutar. E morrer.

Ana enfim deu um passo à frente, os olhos fixos no homem. Sua voz saiu calma, mas com uma leve provocação.

— Chega de conversa à toa. Não são armaduras, estão conectadas à carne. Logo, a resposta é não.

O homem inclinou levemente a cabeça, como se considerasse a informação por um momento, antes de responder novamente com a calma mecânica.

— Então arranquem seus braços. Não desperdicem a vida.

Apesar de ainda calmo, ele fez um movimento que não passou despercebido pela mercenária: sua mão esquerda pousou no braço direito, os dedos ajustando algo com cuidado. Era um gesto pequeno, mas carregado de significado.

Ana estreitou os olhos, alterando a postura com a qual segurava a arma negra.

— Ou... a gente mata vocês dois por invadirem propriedade privada. É uma mania bem fodida, sabia?

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A figura misteriosa permaneceu imóvel, encarando a mulher mascarada à sua frente.

— Aviso dado. Escolhas feitas.

Então, sem mais palavras, ele estendeu o braço.

Foi um movimento rápido, mas parecia estranhamente lento. Nem um segundo se passou quando uma luz alaranjada envolveu sua pele, queimando a parte do manto que cobria até seu cotovelo. Sob o tecido carbonizado, revelou-se um braço inteiramente feito de peças interconectadas, todas cravejadas por runas. Um item brilhante, mas mortal, com suas juntas iluminadas por pulsos de energia que corriam como veias artificiais.

A luz começou a convergir para a palma da mão, crescendo imediatamente em intensidade.

O disparo veio sem hesitação, com seu som ressoando como um trovão por cada sala do castelo.

Mas a energia luminosa não atingiu seu alvo. Com uma precisão quase desdenhosa, Ana moveu sua longa lança. Em um arco fluido, a lâmina cortou o ar, atingindo a parte inferior do braço robótico no exato momento em que a energia foi liberada.

O ataque desviou para o teto, explodindo em faíscas e pedaços de pedra. Fragmentos do disparo iluminaram o corredor por um breve instante antes de desaparecerem, mas os resquícios do impacto continuaram reverberando como uma lembrança do quão perto havia chegado de ser fatal.

O homem deu um salto para trás, distanciando-se rapidamente de sua atacante, parando para inspecionar a pequena marca deixada em seu corpo. O corte era superficial, mas suficiente para danificar levemente o revestimento metálico. Sob o grande capuz escuro, os dois pontos brilhantes se estreitaram, assemelhando-se a um singelo franzir de sobrancelhas.

— Interessante...

Seu olhar vagou uma vez mais pelo arranhão, dirigindo-se em seguida para a arma que o causara. Passou pela empunhadura, subiu pela lâmina negra e, finalmente, fixou-se na espadachim que a empunhava.

— Essa espada… Onde a conseguiu?

Ana não respondeu.

Em vez disso, avançou novamente, preparando um grande corte vertical.

O homem não se intimidou. Ele desviou para o lado em um movimento rápido e, com a mesma mão que analisara o corte, atirou diretamente contra a lâmina.

O impacto do disparo empurrou Ana para o lado. Ela cambaleou brevemente, mas recuperou o equilíbrio com agilidade. Seus olhos fixaram-se no adversário, a irritação evidente.

— Vocês dois vão ficar só assistindo? — gritou, girando a lança para estabilizá-la novamente. — Temos que matar esse cara antes que aquela mulher decida sumir de novo!

As palavras dela pareceram trazer Alex e Eva de volta à realidade. Os dois se entreolharam rapidamente, antes de avançarem em conjunto contra o oponente.

Alex correu pela lateral direita, as manoplas crepitando enquanto preparava o primeiro soco. Eva posicionou-se na retaguarda, puxando a corda do arco com tanta força que seus dedos queimaram. Ativou a riscagem de runas com um movimento do dedo, e, quando disparou, uma flecha elétrica cortou o ar com um silvo agudo, criando uma explosão de faíscas por onde passava.

Mas o homem, ao invés de enfrentá-los diretamente, ergueu a outra mão. Um brilho surgiu em seu pulso antes que um gancho fosse disparado em direção a uma coluna próxima.

Com um movimento ágil, ele se puxou para longe, evitando ser cercado. Seu corpo metálico balançou no ar antes de pousar em uma posição elevada, onde permaneceu por um instante, observando os três como um predador calculando o próximo movimento.

— Merda… — resmungou Ana — Alex, acha que consegue enfrentá-lo sozinho?

O pugilista ponderou por um momento, revisando os movimentos do oponente.

— Os ataques dele até agora não parecem particularmente refinados, diria até que são bem simples. Em uma luta direta, diria que sim. Mas esses dispositivos de engenharia mágica… são um problema.

— Certo — Ana assentiu. — Eva, siga apoiando ele na luta. Tenta ficar o mais afastada possível.

— Tá bom!

Acatando a ordem, se pôs a pegar outra flecha, puxando a corda do arco velozmente, pronta para disparar. Ela se apoiou em um joelho, assumindo uma posição que lhe dava o maior alcance possível.

Ana deu um último olhar para os dois, o foco em seus olhos queimando.

— Segurem ele. Vou para a sala do trono. Matem-no rápido e me encontrem.

Sem esperar por uma resposta, virou-se e começou a correr em direção à grande porta no final do corredor.

Vendo que seu oponente se preparava para impedir a ida de sua rainha, Alex saltou em direção a ele, concentrando sua força para um golpe de baixo para cima direcionado ao estômado. Eva, rastreando sua trajetória, disparou a nova flecha. Seguido pelos dois ataques, o adversário foi relutantemente forçado a desviar, inclinando-se para trás no último segundo.

Alex rosnou em frustração, mas jogou-se novamente em sua direção.

— Só mantenha a pressão! — gritou ele, suas mãos se movendo em socos cada vez mais poderosos que forçavam o inimigo a se manter em movimento.

Apesar disso, mesmo pressionada, a figura manteve a compostura. Ele continuava usando o gancho sempre que julgava algo perigoso, movendo-se rapidamente entre as colunas para evitar ser atingido. Parecia estudar os padrões de Alex e Eva, assim como o próprio conselheiro de guerra o estudava, adaptando-se cada vez melhor a tais movimentos, seguindo-o cada vez mais de perto.

As flechas complementares não ficavam atrás da luta direta em termos de analise. Mantiveram o ritmo, muitas vezes passando a centímetros de Alex, sincronizadas com seus poderosos ataques, podendo assim quase acertar o inimigo, acumulando aos poucos pequenos danos.

Enquanto isso, Ana corria.

Com os esforços de seus companheiros, pôde chegar à porta sem ser interrompida, e sem hesitar, colocou a mão diretamente sobre ela. Seu coração batia forte, mas não de medo — era a expectativa do que viria. Ela empurrou as folhas de madeira esculpida, o som baixo e reverberante preenchendo o silêncio, e o salão se revelou lentamente.

A primeira coisa em sua visão foram os grandes vitrais, com suas cores vibrantes que pareciam dançar nas paredes. Cada raio de luz que os atravessava coloria o espaço com um brilho que parecia inquietante, mas também belo, algo que, por algum motivo, Ana começara a apreciar cada vez mais no último ano. No entanto, tal beleza era eclipsada pelo peso da presença à sua frente.

Os olhos cor de mel da rainha, que não demoraram para chegar em seu trono, se depararam com um sorriso enigmático e uma aura de absoluta confiança. Ali, como se apreciando o tom marfim da escadaria, estava a Colecionadora.

Aqui, a verdadeira batalha a esperava.

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