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A Eternidade de Ana [Português, Brasil]
Capítulo 84 - Justiça dos Caídos

Capítulo 84 - Justiça dos Caídos

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Ana olhou para a mulher ruiva que emergiu das sombras, a imagem de Júlia surgindo brevemente em sua mente. A semelhança era notável, mas, aos poucos, a visão de sua antiga companheira de batalhas se desfez, revelando uma garota bem mais jovem, talvez apenas alguns anos mais velha que Lúcia. Sua mente rapidamente fez a conexão: aquela era Eva, a irmã de Júlia.

— Pare! — gritou Alex, a voz rasgando o silêncio tenso. Ele rapidamente se levantou, interpondo-se entre Ana e Eva. — Ela não é uma inimiga! Calma, Eva!

Eva hesitou, o arco ainda tensionado, a flecha pronta para ser solta. Seus olhos se fixaram em Ana, tentando entender a situação. O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pela respiração pesada de todos na cabana.

O tempo parecia ter parado, quando, de repente, a mercenária ergueu as mãos em um gesto de paz, observando a jovem com curiosidade. Eva ainda parecia confusa, mas lentamente abaixou o arco, uma expressão começando a brotar em seu rosto.

— Olá, Eva — disse Ana, tentando suavizar a situação. Sua voz era agitada, mas havia uma ponta de curiosidade. — Você cresceu muito desde a última vez que te vi.

Eva piscou, processando a informação. Ficou paralisada, sem saber como reagir. Seus olhos se voltaram para Alex, que acenava freneticamente com a cabeça, e depois de volta para Ana. Finalmente, o arco caiu de suas mãos, batendo no chão com um leve estrondo metálico.

— Ana? — perguntou ela, a voz vacilando. — Você é a Ana?

Ana assentiu e Eva deu um passo hesitante à frente, depois outro, e então correu até a mulher, abraçando-a com força.

— Obrigada... — murmurou a garota, os olhos baixos enquanto a emoção tomava conta de sua voz. — Obrigada por tudo.

A mercenária machucada fez uma careta de dor, mas não afastou a menina. Desconcertada, retribuiu o abraço, suas mãos trêmulas dando tapinhas nos cabelos ruivos de Eva.

— Fico feliz que me agradeça, mas… pelo quê?

— Por me salvar anos atrás e... por fazer a minha irmã sorrir. Júlia sempre tinha um olhar de preocupação, mas com você por perto, parecia relaxar.

— Eu fiz o que qualquer um faria — respondeu, com um sorriso suave. — Mas é uma surpresa te encontrar junto com o Alex… como você o conheceu? — perguntou, apontando para o homem que ainda parecia abalado.

Eva saiu do abraço e acompanhou a direção do dedo com um sorriso gentil em seu rosto. Ela respirou fundo, olhando para Ana com um olhar intenso, mas logo desviou os olhos, timidamente.

— Minha irmã me pediu para verificar o covil de vez em quando até ela voltar da viagem. Um dia, quando cheguei aqui, encontrei ele... estava murmurando coisas sem sentido em um canto. Primeiro fiquei com medo, mas logo percebi quem ele era.

Ana olhou para o caçador, que estranhamente tinha um certo orgulho nos olhos.

— Desde então, venho aqui para organizar a casa de vez em quando e trazer algumas refeições — continuou Eva. — Ele tá meio doido, mas pelo que conversamos, realmente amava minha irmã.

— Enquanto isso, saio para ganhar dinheiro e treino essa jovem! Sou muito bom nisso, por sinal — falou o magro homem com um tom determinado, tentando parecer mais firme ao endireitar-se.

Ana sorriu, reconhecendo a bravata de Alex. Então, lembrando-se da caixa, o homem correu até a estante e pegou uma das fileiras de moedas, entregando-a para Ana com um sorriso animado.

— Esta é a sua parte! — exclamou ele, com uma animação infantil.

Ana pegou as moedas, guardando-as no bolso. Sabia que a mente de Alex estava quebrada, mas ainda havia um resquício do homem que conhecera.

— Obrigada, eu estava totalmente quebrada! — disse ela animadamente, antes de se virar para Eva, mudando de assunto. — Parece que você está seguindo os passos de Júlia, uma arqueira.

A garota ficou tímida e pegou o arco do chão. O guardou cuidadosamente em um canto, mostrando respeito pelo objeto de grande importância. Ana notou os detalhes intrincados da arma, uma peça que combinava beleza e letalidade.

— Sim, mas já com o martelo descobri que não tenho talento… Minha arma é uma espada dobrável adaptada para um arco.

— É uma peça impressionante — comentou Ana, tentando aliviar a tensão. Ela se jogou no sofá, balançando os pés como se estivesse inquieta. — Nunca vi algo assim por aqui.

— Não é tão impressionante assim, o consegui de um vendedor itinerante em uma das feiras da cidade — a garota sorria timidamente, como se omitisse alguns pontos relevantes da história.

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— Bom, realmente há pessoas talentosas em todos os lugares — disse Ana, apreciando o cuidado com que cada dobradiça foi feita. — Bom, então está seguindo o caminho para virar uma caçadora?

De repente, a mercenária notou que a expressão da jovem ruiva mudou, ficando mais agressiva.

— Não. Eu preciso dele para ir atrás da Colecionadora — respondeu ela, com a voz mal passando de um sussurro.

Neste instante, os olhos de Alex ficaram estranhamente focados, perdendo sua loucura anterior. Sua voz era séria enquanto complementava as falas de Eva.

— É para isso que estamos treinando tanto. Teremos nossa vingança.

Ana não pôde deixar de levantar uma sobrancelha. Ela não esperava isso, mas sentiu uma conexão com a fúria dos dois. Sua cabeça caiu para trás, e o sorriso que se esforçava para conter começou a brotar no seu rosto. Suas motivações violentas se sincronizavam, e ela sabia que essa era a direção que precisavam tomar.

— Parece que temos um objetivo em comum — murmurou Ana, com um brilho sombrio no olhar. — Mas antes, preciso da ajuda de vocês para buscar uma pessoa no centro da cidade.

Ouvindo isso, Alex balançou a cabeça em negativa.

— Isso é impossível agora. Uma Sombra ousou ir diretamente para os portões internos, sem saber sobre os campos de detecção de mana reversa que colocaram ano passado. Tão estúpida! — O homem começou a gargalhar, como se realmente achasse a atitude absurda. — Vai tudo ficar em quarentena. Será complicado entrar ou sair de lá por semanas.

Ana começou a coçar a cabeça em um gesto de culpa, seu sorriso psicótico tornando-se um pequeno sorriso torto no canto de sua boca.

— O que foi? — perguntou Eva, vendo a estranha atitude ao invés de preocupação por seu conhecido estar preso com um potencial inimigo.

— Bem, sobre esse assunto… eu fui acusada de ser uma Sombra — Ana riu, mas uma risada que parecia debochar de si mesma. — Um erro, claro, mas quem diria que isso se tornaria um problema tão grande…

Eva e Alex se entreolharam, intrigados pelas palavras da mulher à sua frente.

— Temos muito o que conversar. Que tal nos sentarmos um pouco? — sugeriu Alex, apontando para onde a antiga mesa deveria estar. — Ou talvez seja melhor caminharmos! Acho que todos nós precisamos de um momento para respirar — falou rapidamente, lembrando-se da cena onde o móvel desgastado de madeira explodiu em mil pedaços ao ser jogada na parede.

— Ótimo… caminhar — respondeu Eva, revirando os olhos ao pensar da cena que viu quando entrou. — Já aviso que não vou encostar um dedo nesse lugar, tratem de organizar tudo mais tarde.

Os dois insanos brigões levantaram o polegar em sinal de concordância ao mesmo tempo, com expressões de dar pena em seus rostos. A garota ruiva apenas suspirou, virando-se para sair da casa.

Ana puxou a espada presa no teto e a prendeu às suas costas. Seus olhos caíram novamente na foto do Ironia Divina, e sentiu certa resignação por ter que se despedir, ao menos temporariamente, de sua pequena companheira.

“Te desejo uma boa sorte, Lúcia. Espero que nos reencontremos algum dia”, pensou, esperando que a menina que lutou tanto para sair do abismo estivesse segura nesse mundo desconhecido.

"Mate-os"

A palavra ecoou em sua mente de repente, uma presença imponente que não aceitaria uma negativa como resposta.

“Mate-os. Mate-os. Mate-os”

O eco voltava incessantemente em sua cabeça, cada repetição martelando mais forte, como uma batida rítmica que ressoava com o desejo de sangue. Ana sentiu um arrepio gelado percorrer sua espinha, e sua visão estreitou-se, focando-se apenas nos dois à sua frente.

"Mate-os"

A voz era irresistível, a fazendo sorrir só de pensar na alegria de obedecê-la.

— Mate-os… — sem perceber, a mercenária sussurrou as palavras para si mesma, seus lábios movendo-se em uníssono com a voz da espada. Seu olhar ficou distante e seus músculos se tensionaram, como uma pantera prestes a saltar sobre a presa.

Com um movimento fluido, mas quase mecânico, Ana entrou em posição de ataque. Seu corpo se inclinou levemente para frente, os joelhos flexionados, a mão direita repousando levemente sobre a empunhadura da espada em suas costas. Seus olhos, agora tomados por uma frieza gélida, fixaram-se nas costas de Eva e Alex, que caminhavam em uma calma conversa, alheios ao perigo iminente. O ar ao redor parecia vibrar com a tensão crescente, cada segundo que passava esticando-se como uma corda prestes a se romper.

A mente de Ana estava em um turbilhão. Uma parte dela gritava para que parasse, que se controlasse, mas outra já podia sentir o prazer da carne sendo cortada. O mantra sinistro que a incitava a ceder ao caos que habitava dentro dela fez suas mãos começarem a tremer levemente, e uma gota de suor escorreu por sua testa.

Eva, após ouvir os murmúrios da mulher, virou-se para ver o que estava acontecendo, mas seus olhos se arregalaram ao ver a postura ameaçadora de Ana e a expressão fria e vazia em seu rosto. Ela engoliu em seco, sua mão instintivamente indo em direção ao arco, mas hesitando ao perceber que estava desarmada.

— Ana... tá tudo bem? — Eva chamou, com sua voz tremendo levemente.

A palavra da garota ruiva foi como um estranho despertador, fazendo Ana sair momentaneamente de seu transe. Rapidamente fincou a espada no chão com um movimento brusco, e em um gesto aparentemente bobo bateu com força nas próprias bochechas, deixando duas grandes marcas na tentativa de se trazer de volta à realidade.

— Não foi nada, só me distrai por um momento — respondeu ela, forçando um sorriso que não alcançava seus olhos.

Ela olhou para os dois por um instante, então mordeu os lábios inferiores, uma mordida que fez um fino fio de sangue começar a escorrer.

— Talvez seja melhor irmos comer algo antes da nossa conversa — sugeriu de repente, desviando o olhar.

Sem esperar uma resposta, ela começou a caminhar com passos rápidos, quase correndo. Eva e Alex hesitaram por um momento, trocando olhares preocupados e confusos enquanto assistiam Ana entrar no bosque próximo.

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