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As garotas avançavam lentamente pelas ruas vazias do vilarejo, observando as casas modestas com janelas fechadas e portas trancadas, suas sombras se alongando com o crepúsculo.
— Parece que estão todos escondidos... Será que acharam que estávamos aqui para causar problemas? — Júlia questionou, olhando para Ana em busca de sua liderança.
— Talvez seja apenas precaução. Vamos encontrar o chefe do vilarejo.
Não foi difícil achar a velha casa, e, diferente do esperado, um senhor com as costas curvadas rapidamente as atendeu ao baterem na porta. A conversa foi clara e direta, e rapidamente elas descobriram que o verdadeiro problema era um grande mal-entendido sobre a distribuição de água, que tinha sido interpretado como um prenúncio de conflito.
— Vejam só, a maior parte dos problemas do mundo vem da falta de comunicação — Ana comentou, saindo da casa com uma expressão cansada.
As “atividades suspeitas” reportadas no mural em realidade tratavam-se de pequenas sabotagens feitas entre famílias rivais da aldeia. Com sua autoridade natural, Ana conseguiu dissipar os temores e esclarecer o mal-entendido. As horas passaram, e ao fim, as famílias concordaram em trabalhar juntas para melhor gerir os recursos hídricos do vilarejo.
— Até que foi fácil, né? — disse Júlia com um suspiro de alívio enquanto deixavam o vilarejo atrás de si.
— Bem, é o esperado de uma missão que pagava apenas algumas moedas de prata. Nem tudo envolve sair por aí batendo nas coisas — Ana respondeu com um sorriso. — Às vezes as pessoas só precisam ser ouvidas.
A missão foi concluída em poucas horas, então a fria neblina da madrugada ainda estava presente no ar. Não vendo necessidade de se acomodar nas humildes casas dos moradores, elas decidiram acampar na borda da floresta antes de retornar.
Um silêncio confortável se instalou no grupo, e em meio a ele Ana acendeu um pequeno fogareiro portátil.
— E então, o que você gostaria de comer?
— Ahn? Eu posso realmente escolher?
— Na verdade não, eu só trouxe uns poucos ingredientes — respondeu Ana, soltando uma breve risada contida.
Júlia encarou a garota com um olhar confuso, mas logo voltou a se encostar na árvore próxima.
— Bem, então aceito qualquer coisa.
— Ótimo!
A caçadora observava enquanto Ana habilmente preparava alguns vegetais e estranhas plantas coloridas, aparentemente para um ensopado simples.
— Sabe, cozinhar não é muito diferente do remédio que fiz para Eva. É tudo sobre entender os ingredientes e como eles reagem juntos. A comida pode ser simples, mas ainda assim, satisfazer as necessidades do corpo.
Ana começou um estranho monólogo enquanto suas mãos se moviam instintivamente, copiando os intrincados movimentos de uma vaga sombra que se projetava a seu lado.
“É o mesmo cheiro”, pensou ela para si mesma ao inspirar o aroma do ensopado, mas logo despertou de seus devaneios, oferecendo a Júlia uma prova do que estava preparando.
— Como você sabe fazer tudo isso? — perguntou a garota ruiva, genuinamente curiosa após sentir o rico sabor que estava na colher.
— Acho que não tenho explicação para isso. Eu preciso comer, então aos poucos, aprendi.
— É impossível que seja só isso, você poderia ser uma chef!
— Talvez, mas prefiro o campo de batalha — Ana deu de ombros, fugindo lentamente do assunto.
Júlia observava fascinada, percebendo uma faceta diferente de sua líder. O processo era metódico, cada movimento calculado, como se estivesse em um laboratório e não ao redor de uma fogueira.
Enquanto comiam, o assunto fluiu naturalmente para os acontecimentos do dia.
— Júlia, me conta, como se sentiu usando a nodachi hoje? — Ana perguntou, querendo entender mais sobre como a jovem se sentia em campo.
— Senti como se finalmente pudesse lutar do meu jeito. Não é tão bruto quanto um martelo, mas é poderoso — Júlia respondeu com entusiasmo, fazendo Ana sorrir.
— Ótimo, isso significa que estamos no caminho certo. — Ana recolheu os utensílios de cozinha e preparou-se para a noite. — Eu estava pensando em alguns atributos para ela, mas não sou tão experiente no assunto. Antes de fazer as novas armas, irei procurar alguém apto para me ajudar no processo.
A noite terminou com as duas rindo e compartilhando histórias e canções. Ana observava Júlia com uma nova apreciação, notando como a jovem tinha crescido desde que se juntaram.
Nos dias seguintes, Ana e Júlia participaram de várias missões simples aleatórias, cada uma ajudando Júlia a aprimorar suas habilidades com a nova lâmina. Com o tempo, Felipe e depois Alex se juntaram a elas, cada um recuperado e pronto para retomar suas funções.
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Uma atmosfera serena permeava os silenciosos corredores da biblioteca da cidade. As estantes, carregadas com o peso do conhecimento, se estendiam até quase tocar o teto alto, cada uma repleta de volumes que contam histórias de eras passadas, teorias esquecidas e segredos da magia, todos cheios de fantasias que, comicamente, voltaram a se tornar reais no mundo moderno.
O chão de madeira absorvia o som de cada passo cauteloso dos poucos visitantes. Raios de sol pintavam o interior com cores quentes, filtradas pelos vitrais retratando lendas de herois e feiticeiros.
Os olhos de Ana brilhavam ao ser cercada por edições que nunca teve a chance de conhecer, tudo o que ela queria era devorar cada página daqueles livros, mas a garota havia ido até aquele local com um propósito claro. Varrendo o ambiente com um rápido olhar, encontrou o homem que buscava, o único leitor publicamente conhecido em Barueri. Coincidentemente ou não, ele era o bibliotecário.
Seus cabelos eram curtos e de um preto intenso. Seu corpo parecia magro, mas não estava claramente visível devido ao grande casaco que estava usando. Um pequeno piercing adornava sua sobrancelha esquerda, e ele, em seus vinte e poucos anos, não parecia adequado para o ambiente antigo de seus arredores. No entanto, uma estranha aura parecia fluir no ambiente, fazendo a figura ser quase tão parte daquele lugar quanto os livros dos quais cuidava.
— Você é o Brayner, o leitor, certo? — Ana perguntou, aproximando-se da mesa onde o homem lia um volumoso tomo sobre runologia arcana.
— Depende de quem pergunta… — olhando para cima com um olhar surpreso, ele fechou seu livro, causando um leve estalo.
— Me chamo Ana, e indo direto ao ponto, preciso de suas habilidades.
Com o terminar da frase, a mercenária desenrolou uma série de esboços detalhados, observando atentamente a reação de Brayner, esperando que ele pudesse ver o potencial que ela via nos designs. Os projetos eram extremamente complexos e, como esperado, rapidamente atraíram o interesse do garoto.
— Vejo que cada item já contém as marcações para as runas que devem ser incrustadas. Mas parece que ainda falha em algumas nuances críticas.
Ele a encarou por um instante, tentando avaliar as intenções da jovem e estranha moça que repentinamente surgiu em sua frente. Seus olhos brilharam sutilmente, antes que um intenso arrepio atravessasse seu corpo.
— Você… o que é você?
Ao invés de uma resposta, Ana apenas colocou um dedo sobre os lábios em um claro pedido de silêncio sobre a situação. O bibliotecário estava assustado, mas foi incapaz de conter sua curiosidade ao conhecer algo que fugia de seu extenso conhecimento.
— Bem, é um prazer conhecê-la. Sim, eu sou o leitor. Fale-me mais sobre essas armas e o que exatamente você precisa, eu decidirei em seguida se tenho como fornecer meus serviços.
— Estou buscando integrar atributos específicos que vão além da resistência e força — Ana detalhou, sem perder tempo. — Quero que cada arma tenha habilidades únicas, algo que se encaixe com a personalidade e estilo de seu usuário.
Os dedos de Brayner voltaram aos desenhos, traçando as linhas das runas propostas. Ele começou a murmurar sozinho sobre as diversas propriedades dos fluxos da mana descritos, fazendo novas anotações sobre como certas configurações podem amplificar ou redirecionar a energia de maneiras específicas.
— Veja, se ajustarmos esta runa aqui para captar mais diretamente a força gerada pelo movimento e a energia estática do ambiente, a lâmina poderia, teoricamente, causar um forte impulso elétrico sob seu comando.
“Parece que ele já aceitou o desafio”, percebeu a garota. Ela estava ouvindo atentamente, absorvendo cada palavra.
— Isso poderia ser potencializado com o uso de materiais piezoelétricos?
— Depende muito, temos que pensar também na condutividade de mana.
Sugestões começaram a surgir dos dois lados, um debate que aos poucos evoluiu para uma troca intensa de ideias sobre metais, pedras preciosas e outros materiais ideais para uma mescla de elementos naturais com força intensa da mana.
— Bem, você se importaria de vir até a forja amanhã e me ajudar a testar algumas dessas teorias na prática? — Ana perguntou, esperançosa. — Claro, pagarei o peso de seu conhecimento em ouro puro.
— Será um prazer, Ana. Não é sempre que tenho a oportunidade de ver a teoria se solidificando em algo palpável.
Com os planos definidos, Ana agradeceu Brayner e caminhou em direção a saída da biblioteca, havia muitos preparos a serem feitos.
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Na atmosfera aquecida pela forja crepitante, Ana e Brayner mergulharam no intricado processo de criação de armas não apenas estéticamente espetaculares, mas funcionalmente revolucionárias. A oficina estava repleta de materiais selecionados a dedo, cada um notável por suas propriedades mágicas e físicas, prontos para serem transformados em instrumentos de poder.
— A chave está na simbiose entre material e mana — explicou o leitor, revisando novamente as linhas do fluxo de mana desenhadas no pergaminho.
Enquanto Brayner contribuía com seu domínio sobre runologia e magia em geral, Ana dava complexas explicações sobre física, minérios e aplicação prática em combate de acordo com o design final. Juntos, eles começaram a trabalhar na primeira de suas criações, a nodachi elétrica.
A lâmina da espada foi especialmente projetada para incorporar cristais piezoelétricos ao longo do seu corpo, permitindo converter força mecânica em energia elétrica. Os cristais foram cuidadosamente embutidos no metal, e a energia gerada por eles era armazenada em um condensador compacto integrado ao cabo da espada.
— Esses cristais, quando deformados sob pressão de vibrações ou impactos, alinham suas estruturas internas de uma maneira que promove o fluxo elétrico. É como canalizar a fúria de um raio em cada golpe da lâmina. — Ana explicou, continuando o trabalho.
Um mecanismo de disparo permitia que essa energia fosse liberada em poderosos impulsos elétricos, adicionando um elemento surpresa e letalidade extra ao armamento. Brayner, com seus conhecimentos de runologia, desenhou padrões complexos ao longo da lâmina ainda quente, tais padrões não apenas iriam guiar a mana mas também potencializariam a descarga elétrica quando ativada.
Os olhos dos dois estudiosos brilharam ao ver a elegante lâmina concluída, mas prosseguiram com um aceno silencioso. Sem perder tempo, puxaram o próximo projeto.
O atributo terra foi escolhido para as manoplas, e ligas de silicone reforçadas com partículas de magnetita foram utilizadas em sua confecção, com pequenos fragmentos de turmalina negra incrustadas nas articulações para melhor passagem de mana. Seu design inovador permitia que, ao receber impactos, as partículas amplificassem o campo magnético natural do portador, fortalecendo tanto sua defesa quanto seu impacto ao atrair as forças telúricas do ambiente.
Ana observava fascinada enquanto Brayner esboçava runas que melhorariam essa conexão, fazendo com que cada soco lançado com as manoplas parecesse o golpe de um gigante.
O projeto mais complexo foi a prótese para o braço direito de Felipe foi um projeto particularmente ambicioso, algo que ia muito além das rápidas tentativas anteriores de Ana. Ao invés de aço, a prótese foi moldada com uma combinação de prata e cobre, materiais que favorecem a flexibilidade e a condução mágica. Integrada à sua palma, uma pequena escopeta mágica foi desenhada, sendo discreta, mas devastadora.
Aqui, a magia se uniu à tecnologia de uma forma quase natural: além das runas que permitiam um controle preciso através do pensamento, bobinas e ímãs foram integrados ao longo do braço, permitindo que projéteis mágicos fossem acelerados através de um forte campo eletromagnético, não dependendo somente de uma fonte de mana externa. Um pequeno gerador, ativado pelo movimento natural do braço, garantia energia suficiente para os disparos.
— Esse sistema não só otimiza a energia gerada, mas também permite uma recarga contínua durante o combate, mantendo a arma pronta a cada movimento, é incrível! — exclamou Ana, encarando a própria criação, claramente orgulhosa.
As horas se estendiam enquanto eles ajustavam cada detalhe, discutindo e aplicando as melhores combinações para maximizar o potencial de cada peça. Chispas de metal quente e o brilho de runas recém-ativadas iluminavam seus rostos concentrados continuamente enquanto refaziam partes ainda não satisfatórias.
Finalmente, após uma longa noite de trabalho e experimentos, as armas estavam prontas. Por sugestão de Ana e vendo uma oportunidade de explorar um campo não muito debatido por outros especialistas, Brayner havia modificado as simples e lisas runas para seguirem de forma mais fiel aos canais presentes nos corpos humanos. A garota o orientou precisamente nos caminhos que deveriam ser seguidos, e ele usou o máximo de suas habilidades para fazer com que o novo tipo de runa funcionasse, alcançando um potencial maior do que o esperado.
As finas veias que circulavam os equipamentos fazia com que parecessem pulsar, dando uma sensação de vida para os objetos inanimados.
— Faltou apenas um último detalhe.
Com uma pequena broca e a ajuda de seu maçarico, Ana esculpiu uma pequena coroa em cada um dos itens. Elas foram sutilmente conectadas ao fim das runas, fazendo-as brilhar levemente conforme a mana fluía, mas sem afetar seu funcionamento.
— Nunca pensei que veria uma fusão tão perfeita de arte, ciência e magia. — murmurou o bibliotecário, passando a mão pela superfície ainda quente da prótese. — É uma obra de arte. Estou ansioso para ver estas em ação.
— Ver em ação? Que tal nos acompanhar fora dos muros? — brincou Ana, intrigada com as falas de Brayner.
— Quem sabe eu acompanhe alguma de suas missões, me sentiria mal se não visse o quão eficazes elas são.
— Bem, parece que sua chance acabou de chegar.
Como se esperasse o pronunciamento do jovem leitor, o telefone de Ana tocou. Madame esperava do outro lado da linha, já estava na hora de partirem para uma nova missão obrigatória.
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