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A Eternidade de Ana [Português, Brasil]
Capítulo 171 - Ruína Compartilhada

Capítulo 171 - Ruína Compartilhada

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O mundo parecia ter parado.

Tudo parecia tão claro, tão conectado.

Ele podia sentir a textura áspera do chão como se fosse parte dele, um toque gelado, mesmo sob a armadura, que contrastava com o calor abrasador do ar ao seu redor, o qual era tanto uma ameaça quanto um lembrete de sua própria existência.

A energia de Eva, pulsando em sua flecha, vibrava em harmonia com o desespero em seu coração. Ele podia ouvir a respiração da garota, assim como ver cada gota de suor que escorria de seu rosto.

Via também Felipe, com um punho metálico recém-formado brilhando com a mana que fluía por dentro de suas tubulações mecânicas. Até mesmo ele parecia um eco distante de algo que ele poderia compreender – se tivesse tempo suficiente.

Era como se estivesse fora de si, assistindo à cena como um espectador. A mente de Alex havia ficado estranhamente calma, abandonando a urgência do momento para observar cada detalhe com uma clareza dolorosa.

“O que aconteceu com você, irmão...?’

Ele sentiu tristeza profunda rasgando seu ser. A figura diante dele era uma caricatura do homem que um dia conheceu.

Aquilo não era mais humano.

Ainda assim, ele forçou um sorriso.

"Mas não vou negar... sua aparência está bem maneira. Meio assustadora, mas maneira."

O pensamento estava repleto de um humor forçado, tentando mascarar o horror.

"Mas, irmão... você devia esfriar a cabeça um pouco."

O calor em seu rosto só aumentava, e ele soltou uma risada amarga.

"Eu queria poder sofrer no seu lugar…"

Tal risada morreu quando a mana em seu corpo, sempre viva e pulsante, subitamente parou.

Então, veio o vazio.

Ele não entendia o que estava acontecendo. Era como se sua essência tivesse se desintegrado, apenas para se reconstruir em algo que ele não reconhecia.

Naquele instante, ele era tudo.

E tudo era ele.

Sentiu o ar ao seu redor, a tensão das runas na flecha de Eva, a vibração dos passos de Felipe no chão, até mesmo o eco distante das batalhas fora do castelo. E no centro desse caos incompreensível, notou algo ainda mais estranho.

Era como se estivesse sendo observado.

A sensação era sutil, mas inconfundível. Parecia como se olhos invisíveis estivessem fixos nele, estudando cada fibra de seu ser. Não havia calor ou hostilidade nesse olhar; era algo distante, impessoal, quase curioso. Ele tentou ignorar, mas a presença era persistente, penetrante, como se estivesse em sua própria mente.

"Quem... ou o que... está aí?", pensou, pois naquela forma, não tinha boca, não podia falar.

Não obteve resposta.

O vazio ao seu redor pareceu se contrair, preenchido por essa presença enigmática. Mas o sentimento durou apenas um segundo, já que, como uma onda, a consciência do mundo o engoliu novamente.

O tempo acabou. Então veio a dor.

A armadura em seu braço esquerdo pulsou como um coração agonizante, e o tom cinza metálico começou a se tingir de vermelho. Dentro dela, Alex podia sentir as raízes começando a devorar sua mana estagnada, e junto delas, as próprias veias por onde sua energia corria, transformavam-se em algo grotesco. Tais raízes se ramificavam rapidamente, grossas e resistentes, marcando sua pele com inúmeras trilhas carbonizadas.

Estavam fervendo.

As manoplas, antes uma extensão de sua força, começaram a derreter sob o calor extremo. Do cotovelo para frente, seu braço direito tornou-se uma bizarra mistura de aço e carne viva, enquanto apenas o já existente metal da armadura foi reforçado do lado esquerdo. Cada movimento das raízes parecia rasgar algo dentro dele, mas, ao mesmo tempo, trazia uma força que ele nunca havia sentido antes.

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Ele gritou, mas o som se perdeu no cheiro acre de carne queimada, o qual fez Eva engasgar enquanto recuava um passo, o arco tremendo em suas mãos.

Felipe também hesitou. Pela primeira vez, sua postura rígida vacilou. Seus olhos brilhantes, impassíveis, se estreitaram ao observar a transformação do irmão, e sem esperar por mais surpresas, saltou para trás, estudando Alex com cautela, como se tentasse decifrar o que ele havia se tornado.

O pugilista, agora uma figura deformada e agonizante, ergueu a cabeça. Seu olhar encontrou o de Felipe. Ele ainda estava sorrindo, mas havia algo terrivelmente errado em seu sorriso.

— Eu não sei o que é isso — disse, com a voz rouca e entrecortada. — Mas acho que agora você vai precisar esfriar a cabeça por nós dois.

Com um movimento brusco, Alex se levantou, os joelhos antes vacilantes agora firmes. Ao se levantar, estalou os dedos, o som seco reverberando pelo salão.

Aquilo Doía.

Doía muito.

Mas era tão bom.

Seu corpo queimava por dentro e as raízes se comportavam como vermes, parecendo se encolher e expandir incessantemente. Cada movimento era como se uma lâmina quente estivesse sendo arrastada lentamente por cada membro do seu corpo. Ele respirava com dificuldade, mas ainda estava de pé.

— Parece que no fim essa armadura realmente não era só enfeite — comentou o homem metálico que assistia à cena. — Mas isso não é poder suficiente… — ele girou em seguida, ativando o mecanismo em sua perna para desferir mais um chute acelerado. O golpe veio como um raio, e Alex mal teve tempo de erguer o braço esquerdo para aparar o impacto.

Mesmo com a defesa, foi jogado contra uma das colunas, caindo sob um joelho, mas usou a posição para impulsionar seu corpo para frente com uma força explosiva. Em um movimento fluido, ele atingiu Felipe no peito com os dois punhos ao mesmo tempo, um golpe que não ficou atrás do que recebera em termos de poder, obrigando-o a cambalear para trás. Foi só então que notou a amarga ironia.

Não era apenas semelhantes em força, eles queimavam juntos – dois monstros no limite da existência. – um de carne e raízes, outro de metal e vapor.

Tão diferentes, mas tão parecidos.

— Parecemos até irmãos de novo — murmurou, sua voz rouca e amarga. Uma risada escapou de seus lábios rachados. — Mas acho que, dessa vez, eu tô mais feio.

— Mas já era assim desde antes — exclamou Felipe, rindo alto.

Balançando a cabeça, Alex avançou.

Felipe reagiu no mesmo instante. Seu gancho metálico disparou em um arco preciso, mas Alex, já conhecendo o movimento e auxiliado por reflexos que nem sabia que possuía, desviou com um giro improvável para alguém de sua estatura, o gancho passando a centímetros de seu ombro antes de se cravar em uma grade na borda do salão.

Vendo que a arma estava presa, Felipe não hesitou em usar a mão do braço oposto para estourar o cabo, agachando-se no exato momento em que um novo golpe do conselheiro de Insídia vinha em sua direção. Em meio ao desvio, viu a chance de um contra-ataque, e com a força impulsionada por um pistão localizado entre o rádio e a ulna de seu antebraço, acertou o abdômen de Alex.

— Rápido demais…

O impacto foi brutal. O golpe ressoou como uma explosão, deixando um grande rombo na armadura simples de couro que Alex utilizava. Ele foi jogado para trás, cuspindo mais sangue pelo ataque contundente, mas antes que pudesse cair, enfiou os pés no chão, tornando a madeira em cinzas instantaneamente e se cravando no solo para estabilizar-se.

Foi aí que ele sentiu algo familiar. A terra abaixo parecia sussurrar.

"É mais fraco, mas ainda está aqui...", pensou Alex, enquanto sentia a força segurá-lo. Ele apertou os punhos, ignorando a dor que pulsava por suas veias. "No fim, realmente me tornei um corrompido."

Não era como antes, isso ele tinha certeza. A conexão com a terra obtida através das runas da manopla era mais maleável, obediente, como uma ferramenta deveria ser. Agora, parecia viva, uma força que ele sentia que precisaria convencer a ajudá-lo. Mas isso não era problema. Alex sabia pedir com carinho.

Respirou fundo, seus pés se fundindo ainda mais ao chão, enquanto uma vibração começava a percorrer o solo. Então orou — não por um Deus, mas por algo mais tangível, algo que podia tocar, sentir. E claro, usar para matar. — e socou o chão, sentindo a terra responder ao seu chamado.

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