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A Eternidade de Ana [Português, Brasil]
Capítulo 74 - Frenético Delírio

Capítulo 74 - Frenético Delírio

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O lobo começou a rosnar ao ouvir o sutil cantarolar de Ana, seus olhos fixos nela com desconfiança. O som que ela emitia era perturbador, carregado de uma energia que fazia seu pelo quase totalmente preto se eriçar. Sem dar escolha a Lúcia, ele a pegou pela roupa com a boca e fugiu dali rapidamente, suas patas batendo contra o chão em uma corrida desesperada. A garota mal teve tempo de protestar, sendo carregada para longe da cena.

Ana se levantou lentamente, os punhos abrindo e fechando continuamente enquanto sentia a mana escura fluir intensamente por suas veias, muito mais espessa do que antes. A dor que a atormentava agora era apenas uma sombra distante. Uma gargalhada insana escapou de seus lábios, ecoando pela clareira sombria, misturada ao seu canto contínuo, como uma melodia sinistra.

— É isso... é isso... — falou para si mesma, sua voz alternando entre o sussurro e a melodia. Cada pulsação de energia em seu corpo parecia aumentar sua força, fazendo-a sentir-se invencível.

O ambiente ao seu redor parecia responder à sua loucura. A fumaça amarela e preta que cobria o portão dançava de forma errática, como se fosse um ser vivo alimentado pela energia caótica que emanava de Ana. As árvores ao redor, antes testemunhas silenciosas, pareciam inclinar-se para ela, seus galhos retorcidos como mãos tentando agarrá-la.

De repente, um murmurinho perturbador encheu sua mente, uma mistura de sussurros e gritos, todos convergindo em uma única ordem.

— Mate! Mate! Mate!

A escura espada bastarda parecia invadir sua consciência, incitando-a com uma urgência brutal. Ana tirou a lâmina da bainha improvisada, sentindo como se a arma fosse uma extensão de seu próprio corpo. As marcas profundamente gravadas no aço pareciam brilhar intensamente, irradiando uma energia sinistra.

Ela a ergueu diante de si, observando o reflexo distorcido de seu próprio rosto na lâmina. Seus olhos cor de mel, antes claros e determinados, agora estavam tomados por uma escuridão sutil, mas insondável. A conexão com a espada era avassaladora, como se seus pensamentos e os da arma se fundissem em um só.

— Matar... preciso matar... — murmurou, repetindo a intenção do item, sua voz tomada por um tom de frenesi.

Sem hesitar, começou a caminhar em direção ao portão. Cada passo era firme, enquanto a energia caótica corria por suas veias como um veneno doce e perigoso. O chão sob seus pés parecia tremer levemente a cada movimento, como se a terra reconhecesse o poder que ela possuía.

Ana não se importava mais com o que estava além da passagem ou com os perigos que poderia encontrar. A necessidade de matar, a necessidade de destruir era tudo o que importava.

Ela observou por um momento o entalhe na aparente fraca estrutura de pedra, onde figuras grotescas e símbolos arcaicos que contavam histórias de eras pouco conhecidas eram retratados, um testemunho mudo das forças que guardavam aquele lugar. Com um movimento rápido Ana saltou através da fumaça, deparando-se com um estranhamente claro corredor.

Uma pesada respiração era ouvida atrás das maciças portas de ferro que ela via em sua frente, mas Ana sentia-se mais viva do que nunca. A espada em sua mão parecia vibrar com antecipação, como se estivesse ansiosa pelo próximo confronto.

— Matar… — incitada pelas palavras de violência, ela continuou a avançar.

Com um movimento rude, mas preciso, Ana lançou um chute brutal, fazendo o metal ranger e a estrutura se abrir com um estrondo, arranhando o chão de pedra.

Era como esperado, no centro da sala mal iluminada, uma criatura aguardava. Com pouco mais de dois metros de altura, seus olhos brilhavam com uma inteligência predatória em meio a penumbra, mesmo escondidos atrás de uma estranha máscara de ferro. Em suas garras, segurava uma longa corrente quebrada que pendia de seu pescoço, os elos de metal tilintando suavemente com cada movimento.

A criatura se virou para encarar Ana com um olhar fixo e ameaçador. O ambiente ao redor era sombrio, as paredes cobertas de musgo e rachaduras, como se o tempo tivesse se esquecido daquele lugar. A umidade impregnava o ar, tornando a respiração difícil, mas Ana estava indiferente a isso. Seus olhos encaravam o monstro de volta, e a necessidade que queimava intensamente dentro dela parecia se manifestar cada vez mais alto em meio aquela sala quase vazia.

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— Mate! Mate! Mate!

Sem hesitar ou esperar mais, se lançou na luta. A criatura rugiu, girando a corrente com uma destreza impressionante, criando um arco de aço que zunia pelo ar. A mercenária desviou por pouco, sentindo o vento da corrente passar rente ao seu rosto, fazendo uma fina linha de sangue começar a escorrer de sua bochecha esquerda. A adrenalina corria por suas veias, intensificando cada sensação.

Enquanto seu inimigo recuperava a longa arma, ela disparou em velocidade surpreendente, desferindo um golpe lateral, a espada negra cortando o ar com um silvo mortal. A criatura bloqueou com a corrente, as faíscas voando enquanto metal se chocava contra metal. Com um movimento irregular, Ana girou sobre o próprio eixo, produzindo um poderoso corte vertical que fez a criatura recuar.

Em meio aos pequenos passos cambaleantes, a corrente voltou a atacar, movendo-se como uma serpente viva. Ana saltou para trás, evitando o golpe, mas a criatura aproveitou a oportunidade para saltar para frente, tentando agarrá-la com as garras livres. A garota reagiu rapidamente, deslizando para o lado e desferindo um ataque diagonal que rasgou a grossa pele do monstro.

A sala ecoava com o som de aço e rugidos de batalha. Agora furiosa, a criatura brandia a corrente com ainda mais força. Os ataques contínuos eram barrados pela espada bastarda, o impacto reverberando em seus dois braços que seguravam firmemente a empunhadura, quando, com um movimento ágil, ela girou a lâmina, enrolando a corrente e puxando com toda a força. A criatura foi arrastada para frente, perdendo o equilíbrio momentaneamente.

Aproveitando a abertura, Ana golpeou de forma certeira, cortando profundamente o deformado ombro que vinha em sua direção. Um grito de dor reverberou pela sala, mas em um forte desespero, o monstro lançou a corrente de volta, acertando o flanco de Ana e fazendo-a cair com um forte baque para o lado.

Ela se recompôs rapidamente, rolando para longe do alcance de seu oponente enquanto sentia o sangue quente escorrer e a ardente dor pulsar, mas ignorou-a. Avançou novamente, a espada cortando o ar em movimentos rápidos e mortais. Cada golpe era calculado, buscando pontos vulneráveis na defesa da criatura após entender seus não tão complexos padrões de ataque.

O estranho guardião tentou contra-atacar, focando em uma busca desesperada pelo pescoço da mulher, mas Ana era uma onda de violência. Ela se abaixou, evitando o golpe, e com um movimento fluido, desferiu um corte ascendente em direção ao braço cheio de músculos de seu inimigo. A criatura rugiu, erguendo a corrente para se defender, mas o golpe de Ana foi rápido demais. A lâmina atravessou a corrente, partindo-a em dois, e continuou seu caminho até arrancar por completo o membro de seu corpo.

Os olhos da criatura, antes predatórios, agora mostravam medo. A corrente que antes segurava com firmeza agora estava caída no chão, inútil. Ana não parou mesmo em meio aos novos gritos que surgiam, e em um movimento contínuo, ela girou a espada, desferindo o golpe final que decapitou a criatura.

A cabeça rolou pelo chão, os olhos arregalados em uma expressão de surpresa. O corpo caiu pesadamente, e a sala ficou em silêncio, exceto pelo som da respiração ofegante da mulher. O cheiro metálico de sangue enchia o ar, e a espada em sua mão estava coberta de um líquido escuro e viscoso enquanto uma nova marca aparecia discretamente em sua extensão.

Ana se ergueu, o corpo ainda tremendo com a excitação do combate. A sensação de poder era intoxicante. Ela olhou ao redor, seus olhos brilhando com uma intensidade insana. Sentia-se invencível.

Foi então que sentiu o vazio dentro de si ser preenchido aos poucos, a energia fluindo para dentro de seu coração, acalmando o caos que dominava sua mente. A sensação de que a corroía dava lugar a uma onda de poder revigorante, a mana da criatura agora fluindo para suas veias como um rio calmo após uma tempestade.

Seus olhos voltaram a focar no ambiente. A sala estava repleta de sombras dançantes, a luz fraca mal revelando os detalhes da batalha que acabara de travar. Viu suas mãos cobertas de sangue, um testemunho mudo da carnificina que acabara de cometer. A visão do líquido vermelho escuro gotejando de seus dedos trouxe um momento de clareza. Mas foi apenas isso, um momento.

A mana reversa, ainda latente em seu corpo, começou a mostrar sua dominância novamente. Sentia a loucura retornar, a necessidade de matar voltando a crescer dentro dela. A sanidade recém recuperada começou a se dissipar, substituída por uma raiva crescente ao perceber que estava ficando mais fraca.

— Fraca, inútil…. Fraca… Tenho que matar mais... preciso de mais força!

Seus gritos eram como um som primal que ecoava pela sala sombria. A espada, que antes vibrava com uma urgência brutal, agora estava em silêncio, e isso aumentava ainda mais sua frustração.

Ela deu um passo à frente, então outro. Uma melodia irregular que refletia seu estado mental fragmentado surgia em forma de assobio enquanto avançava lentamente mais fundo na escuridão.

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