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O salão do trono estava mergulhado em um silêncio inquietante, quebrado apenas pelo som suave dos passos de Ana enquanto ela adentrava o espaço grandioso. Natalya estava sentada despreocupadamente nos degraus que levavam ao trono. Seus dedos brincavam com um pequeno objeto metálico que refletia a luz dos vitrais.
Apesar de se lembrar em detalhes daquela pessoa, Ana não pôde deixar de prender a respiração ao se deparar novamente com aquele corpo. Sua pele escura contrastava belamente com o tom frio do metal polido, algo que ainda insinuava claramente sobre a existência da humanidade — um paradoxo visual. Dos ombros até as mãos, suas próteses mecânicas imitavam com perfeição a forma desejada, mas havia algo de artificial em como os dedos se moviam, cada articulação executando um trabalho sem falhas, sem o menor tremor ou hesitação.
Seu corpo estava coberto por ainda mais partes protéticas do que nas recordações da rainha, descendo pelo pescoço até um ponto logo acima do umbigo, e um delicado padrão de circuitos brilhava sutilmente sob a superfície, pulsando em um ritmo que parecia ecoar uma batida de coração.
Suas tranças ainda estavam presentes, bem presas no topo de sua cabeça, mas duas das pontas caiam em ondas leves sob seu ombro, contrastando com o perfeito alinhamento do resto de sua figura. Seu par de óculos redondos repousava em seu nariz, e atrás das lentes, os olhos de Natalya eram como abismos insondáveis, observando tudo com uma intensidade que parecia penetrar até os pensamentos de quem ousasse encará-la.
“Ela é mais do que uma obra-prima…”
Enquanto refletia, Ana se aproximou sem perceber, e a mulher ergueu os olhos com um sorriso enigmático se formando quase que por instinto.
— Dizem que o Deus da Guerra empunha uma arma negra… — a voz surgiu repentinamente, ecoando suavemente pelo salão. — Interessante, não acha? É um boato bem conhecido pelo mundo todo, talvez tão difundido quanto o meu próprio.
Ana parou a alguns passos de distância, a lança-espada inclinada ao lado do corpo. Seus olhos percorreram o espaço ao redor, avaliando cada canto, antes de fixar-se na figura à sua frente. Natalya inclinou a cabeça, como se saboreasse o cuidado da recém-chegada. O objeto metálico girou entre seus dedos, antes de ser descartado sem cerimônia no chão.
— Quando estudei sobre essa estranha cidade, me surpreendi com as histórias da grande espada que a rainha carregava — com um movimento elegante, a Colecionadora se levantou. O som de suas botas contra o piso de pedra pareciam soar mais alto do que deveriam. Ela caminhou lentamente, como se estivesse em uma inspeção casual, mas seus olhos brilhavam com uma excitação perigosa. — “Apesar de sempre enrolada em panos, supostamente escondida, não é um segredo para ninguém que seu metal é tão escuro quanto a noite”. Ouvi isso de todo mundo quando perguntei sobre o assunto.
A rainha mascarada sorriu com as palavras soltas de Natalya, mas não se moveu. Com calma, arrumou o posicionamento da lança, apoiando a ponta no chão com um gesto que parecia casual, mas que não escondia o controle que tinha sobre a arma.
— Acredita que por um momento pensei que você fosse a tão falada encarnação da guerra? — ela riu suavemente. — Eram tantas histórias… Mas aqui está você. Superou todas as minhas expectativas, sendo ainda melhor do que minhas suposições iniciais.
Suas palavras eram acompanhadas por passos lentos que começaram a rodear Ana. Ela caminhava devagar, como uma águia vigiando uma possível caça. Sua voz, ainda calma, tinha um toque de estranha animação que tornava cada frase inquietante.
— Não tem como eu não reconhecer essa “pequena” faca — disse ela, parando brevemente para encarar a lâmina negra. — Sonhei com ela por tantas noites, tremendo de medo que nunca entrasse na minha coleção... Mas o destino sorriu para mim. Como você saiu do lar da Serpente, garota?
A rainha bufou com a pergunta, balançando a lança descontraidamente.
— Não é como se eu já não soubesse que minha espada me denunciaria, mas você não consegue ler o clima?
A invasora estreitou os olhos, como se tentasse entender para onde Ana estava direcionando o diálogo com aquele comentário.
— Eu tô usando a porra de uma máscara à toa? — continuou, o sarcasmo transbordando em cada palavra. — A gente devia sair no soco primeiro, aí você acertaria minha cara com um golpe certeiro, o disfarce quebraria e você falaria “Oh, meu Deus, então era você esse tempo todo!”. Esse é o clichê obrigatório!
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Os olhos de Natalya seguiram encarando a mulher à sua frente com uma expressão que misturava confusão e fascínio. Sua cabeça inclinou-se levemente para o lado, focada em decifrar o que estava ouvindo.
— Parece que o boato sobre a insanidade da rainha de Insídia não era falso, afinal… E devo dizer que Annabelle também não foi a melhor escolha de nome se sua intenção era se escon…
Ana balançou a mão, interrompendo as palavras de Natalya. Começou a rir baixinho, o som reverberando pelo salão, antes de endireitar a postura.
— Você estragou tudo! — rugiu de repente, antes de parecer se acalmar. — Bem, pelo menos as coisas vão ser mais rápidas assim.
Ela soltou a ponta da lâmina do chão, produzindo um rastro de faíscas que dançaram pelo piso de pedra, iluminando brevemente o espaço ao redor. Girou a arma com precisão, apontando-a para mulher a sua frente, sua postura relaxada contrastando com a imponência que parecia pulsar de sua própria pele.
— Enfim, se “lar da Serpente” significa o Abismo, eu usei a porta pra sair. Deixa de ser burra.
Natalya arqueou as sobrancelhas, claramente se divertindo.
— “Abismo” é um nome ignorante — sua risada ecoou pelo salão, tão alta quanto a que já se espalhava pelo ar, um som que parecia tanto um deboche quanto um aviso. — E talvez também tenha sido ignorância sua ter saído de lá…
Ana manteve-se em silêncio, mas o leve franzir de sobrancelhas indicava que ela não havia gostado do tom.
— Que seja — Natalya continuou, ajeitando os óculos no rosto casualmente. — Quem diria que, além de voltar, você surgiria com alguns novos tesouros interessantes para mim.
Ana ponderou brevemente sobre as palavras ditas, o silêncio entre elas ficando mais pesado. Balançou levemente o braço onde a armadura orgânica estava acoplada, lembrando-se das palavras do inimigo que a atacou do lado de fora, e então deu de ombros, mudando abruptamente o rumo da conversa.
— Anos atrás, por que você não ofereceu dinheiro pela minha arma, igual uma pessoa normal? Foi uma puta sacanagem nos atacar do nada.
O sorriso da Colecionadora vacilou por um breve momento.
— Pensei seriamente nisso, para ser franca... Mas aqueles desgraçados… as… vozes… aquelas malditas ordens…
Por um breve instante, os olhos da rainha mercenária exilada, mesmo escondidos atrás das lentes escuras, pareceram arregalar-se, como se ela tivesse dito mais do que pretendia. Ana, percebendo o movimento, franziu mais uma vez o cenho, apertando o cabo de sua lança com mais força.
— Ordens? Vozes?
— Não é nada que alguém como você precise saber em detalhes — a Colecionadora deu um passo à frente. — Apenas… Essa arma vai contra as regras desse mundo. Você vai contra as regras desse mundo. Ambos devem ir para as minhas prateleiras.
A frase pairou no ar como uma sentença, pesada e cruel. Por um instante, Ana sentiu algo que não era comum nela — dúvida. Não por medo, mas pelo que aquelas palavras implicavam.
“Regras desse mundo, hein…”
Não sabia exatamente ao que ela se referia, mas ao mesmo tempo, não precisava de uma explicação. Podia sentir dentro de si que a Colecionadora não estava mentindo.
De alguma forma, ela tinha certeza disso.
Foi então que, mesmo desconcentrada, notou que o ambiente estava mudando Não era um som ou movimento, mas uma pressão sufocante que parecia emanar de Natalya. O ar parecia mais denso, como se cada respiração fosse um esforço consciente. Um calafrio subiu pela sua espinha enquanto seus sentidos gritavam em alerta: aquilo era pura intenção de matar, concentrada e palpável, como uma faca pressionada contra sua garganta.
"Matar."
A palavra reverberou na mente de Ana, e, de canto de olho, ela encarou sua lâmina por um segundo. Repentinamente uma ideia começou a tomar forma em sua mente, como uma faísca incendiando uma fogueira.
"Vozes... Talvez existam mais coisas como você, minha amiga?"
Um grande sorriso nasceu em sua boca, expondo todos os seus quarenta dentes. Ele se manteve firme por apenas um piscar de olhos, e logo se tornou uma gargalhada, quebrando o peso do momento em que se encontrava.
— Talvez, no fim, eu não seja esquizofrênica — murmurou de forma quase inaudível, enquanto passava os dedos levemente pela empunhadura da arma em um gesto carinhoso. — Isso é... reconfortante — sua voz tinha um tom quase afetivo, mas os olhos brilhavam com algo entre excitação e loucura. Era como se, naquele instante, ela aceitasse que sua conexão com a arma fosse algo mais profundo do que jamais ousara admitir.
Assim, sem dar tempo para Natalya reagir ou fazer o primeiro movimento, Ana avançou.
Seus pés bateram contra o chão com força, cada passo ecoando pelo salão como um tambor de guerra. A lança-espada cortava o ar com um brilho traiçoeiro, absorvendo as cores que flutuavam pelo ar, enquanto Ana mirava diretamente no centro do peito de sua oponente.
Natalya sorriu, mas era um sorriso frio, sem humor. Com um clique quase inaudível, duas lâminas curvas se estenderam de seus braços. Eram diferentes de qualquer arma comum, brilhando com uma luz opaca que se diferia levemente do brilho metálico visto em seu próprio corpo.
Seus olhos dançaram pela rainha a sua frente, capturando o brilho nos sorridentes olhos da rainha mascarada, podia notar claramente que aquela pessoa já havia ido além da insanidade. Ela deu um passo para trás, um movimento quase imperceptível, mas suficiente para demonstrar que algo nela reconhecia o perigo real. Ainda assim, logo retomou o controle, ajustando os óculos com um gesto casual que disfarçava o pequeno instante de vulnerabilidade.
— Vamos ver se continua decepcionante, Ana — assim como sua oponente, após seu curto sussurro, deu um passo à frente com um movimento poderoso, mas coberto por uma calma perturbadora.
As luzes dos vitrais, antes vibrantes, agora pareciam dançar de maneira errática, como se o próprio ambiente estivesse em sintonia com o confronto.
O salão do trono, outrora prova de glória e poder, tornou-se, num piscar de olhos, o palco onde lâminas entoavam a sinfonia da inevitável queda de uma força inexorável. A realidade pareceu hesitar, como se o mundo inteiro prendesse a respiração.
E então, o som metálico de armas colidindo ecoou, marcando o início de um duelo que não terminaria sem sangue.
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