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A Eternidade de Ana [Português, Brasil]
Capítulo 118 - Parceiros de luta

Capítulo 118 - Parceiros de luta

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Alex, até então em silêncio, deu um passo à frente. Seu rosto estava sério, e escolheu cuidadosamente suas palavras antes de falar.

— Talvez fosse melhor discutirmos isso em um lugar mais... privado — sugeriu em tom respeitoso.

O réptil soltou uma risada baixa e seca, divertindo-se com a sugestão. Ele mastigou mais alguns pedaços da refeição lentamente, como se estivesse ponderando a ideia.

— Privacidade? Não há necessidade disso. Falem logo, jovens. O que a cidade em ruínas quer de mim?

“Não há espaço para rodeios”, pensou a garota ruiva, tomando a frente da conversa e suspirando antes de começar a explicação.

— Estamos com problemas com Myrmeceum. Eles exigem que ajudemos em um ataque contra Carapicuíba em troca de paz. Se recusarmos... — Eva hesitou, mas manteve o olhar firme no homem lagarto, que a encarava com seus olhos amarelados — Também seremos arrastados para a guerra.

O silêncio que seguiu suas palavras foi quebrado por uma risada estrondosa do general. O som reverberou pelas paredes, como um trovão que ecoava pelo ambiente. Lana, ao fundo, soltou uma risadinha discreta, claramente se divertindo com a reação do pai.

— O que aquele bando de covardes tem na cabeça? — exclamou, acenando em descrença, com o suco da carne escorrendo pelo canto da boca, o qual limpou de maneira casual com o antebraço. — Que venham! E se os mascarados se juntarem a eles, que venham também!

O general balançou a cabeça novamente, ainda rindo da situação.

— Lagartos devoram insetos, não o contrário — disse ele, desta vez mais calmo, antes de fazer uma pausa e olhar para a própria mão, que ainda segurava um pedaço generoso de sua refeição. Ele franziu a testa, como se tivesse acabado de perceber algo, e então o levou para o alto, balançando o pedaço de carne ensanguentada. — Mas não literalmente, claro! — brincou, rindo de si mesmo. — Eu prefiro carne bovina!

Lana riu alto, apreciando o momento, enquanto Alex e Eva trocavam olhares incertos, sem saber se a brincadeira tinha uma segunda camada de verdade. O general mordeu a peça vermelha com força, como se estivesse provando seu ponto de forma dramática.

— Viu? Sem insetos por aqui — concluiu, satisfeito, enquanto limpava novamente a boca com o dorso da mão.

O clima, antes carregado de tensão, agora parecia mais leve, embora a ferocidade do general estivesse sempre à espreita, pronta para voltar ao menor sinal de desafio.

— Não é tão simples assim — interrompeu finalmente Alex, sua voz baixa e firme. — Eles planejam escavar túneis sob a cidade, enchê-los de pólvora e explodir partes estratégicas de uma só vez.

A expressão de Leandro permaneceu desdenhosa, mas escureceu levemente. Seus músculos, sob as escamas grossas, se tensionaram quando ele ajustou sua postura, ficando mais ereto.

— Túneis? Explosões? — repetiu, estreitando os olhos. — E qual é o objetivo de virem até aqui para me falar isso?

Eva desviou o olhar por um momento, reunindo coragem. Ela sabia que falar com alguém tão intimidador seria difícil, mas a sinceridade em sua voz transpareceu quando finalmente respondeu.

— Eu… eu só não quero que tanta gente morra. Talvez vocês possam deixar a cidade por enquanto... ou talvez nos unirmos para pressionar Niala juntos…

O general suspirou profundamente, seus ombros largos relaxando um pouco.

— Niala... — murmurou, o nome parecendo mais um lamento do que uma palavra. — Niala não é irracional, nem injusta. — seu tom ficou mais zombeteiro, imitando o comportamento típico de Verath, o esguio homem-inseto. — Que piada! Não há rivalidade real entre nossos povos. E repito: são só um bando de covardes!

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Sua esposa, ao fundo, balança a cabeça com um sorriso, como se já tivesse ouvido essa explicação antes.

— Meu povo gosta de lutar, é verdade — continuou o general — Mas não criamos brigas por sangue. Fazemos isso por diversão. — Ele fez uma pausa, e a frustração brilhou em seus olhos reptilianos. — Além disso, estamos cansados de pedir que os insetos forjem armaduras rúnicas para nós. Eles sempre se recusam. Quem sabe por quê? Eles têm algo contra nós, mas nunca disseram o motivo.

Com um gesto cansado, empurrou o pote de carne de lado e, com um movimento brusco, levantou-se. Ele olhou diretamente para a dupla mascarada, sua voz reverberando pela sala.

— Não quero gente de fora se metendo nisso, principalmente gente que não entende que está sendo usada. Eles não têm culhões para fazerem algo por conta própria, fazer isso seria a desculpa perfeita para os puros iniciarem uma nova cruzada, por isso estão tentando usar vocês. Mas vou mandar mensageiros para Myrmeceum. — o nome da colônia saiu de sua boca com um desgosto evidente. — De uma forma ou de outra, vou resolver isso.

Enquanto falava, esticou o corpo, ainda mais imponente ao se levantar por completo. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, em um gesto de respeito, olhando diretamente para Eva.

— Enfim, obrigado por me avisar, criança. Você fez bem.

Foi com tal agradecimento que, antes que qualquer um pudesse reagir, o general se moveu com uma rapidez inesperada, um flash de movimento impressionante para alguém de seu tamanho. Em um lampejo, lançou um soco poderoso de baixo para cima em direção a Alex.

O ar ao redor parecia vibrar com a força do ataque, mas o pugilista reagiu instintivamente, cruzando os braços para bloquear o golpe. O impacto foi devastador. Um baque dolorido ecoou pela sala, forçando-o a recuar alguns passos, seus braços latejando com a dor.

No automático e sem perder o ritmo, Alex girou o corpo, desviando do impacto total de outro soco que vinha em direção a seu ombro e, com a precisão de um predador, contra-atacou. Seu punho se moveu em um arco rápido, utilizando as técnicas que dedicou os últimos anos para aperfeiçoar, que concentrava toda a força em um único golpe. Ele mirou em um ângulo inesperado e saltou, vindo de cima, como um relâmpago.

O general tentou desviar, mas os dedos cerrados ainda atingiram de leve sua bochecha, o suficiente para deixar uma marca fina cravejada de rachaduras. Sangue escorreu lentamente pelo corte, traçando uma linha nas escamas do gigante. Sem parar o movimento evasivo, ele saltou, momento no qual sua cauda veio como um chicote, agarrando a perna direita de Alex e fazendo-o cair pesadamente no solo.

Eva ficou paralisada, os olhos arregalados, incapaz de processar o que acabara de acontecer. O guerreiro de máscara azul, por outro lado, rolou para longe e levantou-se, voltando a posição de combate, seus braços ainda tremendo.

— Mas que porra foi essa? — murmurou, incrédulo.

Leandro, no entanto, soltou uma gargalhada profunda, seus olhos brilhando com uma animação selvagem. Ele passou a língua fina sobre o corte, saboreando o gosto do próprio sangue.

— Hah! Você é bom! — exclamou, sua voz carregada de admiração. — Excelente! Finalmente, os mascarados saíram das sombras. Vamos ser ótimos parceiros de luta depois que resolvermos as coisas com aqueles medrosos!

O sorriso do general se ampliou, revelando seus dentes afiados. Ele parecia genuinamente revigorado pelo breve confronto, o prazer do desafio refletido em cada linha de seu rosto.

— Parceiros… de luta?

— Mas é claro! Não acho que Niala fará nada, mas não vou continuar a brincar com o perigo. Vocês, por outro lado, até me avisaram! Com quem mais eu trocaria socos sem pesar no coração?

A dupla mascarada trocou um olhar rápido, suas mentes em uma estranha sincronia.

“Merda!”

Eva passou a mão pelo pescoço, tentando organizar os pensamentos.

— Bem... o resultado foi melhor do que uma chacina... eu acho — murmurou, incerta.

Alex levantou as mãos, como se estivesse se livrando de qualquer culpa.

— Quero deixar claro que avisei! — sussurrou para ela, soltando um suspiro resignado. — A Ana... vai ficar brava.

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