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— Aaaah, isso é bom demais! Sabe, a única coisa que vale a pena no abismo é essa cerveja — disse Ana, gesticulando em um desordenado brinde imaginário. — É bem mais forte do que qualquer coisa que já provei na superfície.
A Sombra olhou ao redor, observando o ambiente antes de se voltar para a garota à sua frente. As duas estavam sentadas em uma mesa de canto na taverna da Arena, um lugar rústico e barulhento, cheio de gladiadores e apostadores. A atmosfera era densa com o cheiro de suor e cerveja. Ana bebia avidamente, enquanto a Sombra a observava com uma mistura de curiosidade e leve desdém.
— Você sempre bebe tanto antes das lutas?
Ana, com uma nova caneca de cerveja escura nas mãos, tomou um gole longo antes de falar.
— Só quando sei que vou enfrentar algo mais complicado do que o normal. Relaxe, eu sei o que estou fazendo.
— Realmente acredita que isso ajuda? Não entendo por que estamos perdendo tempo aqui — respondeu a Sombra, sua voz carregada de curiosidade e uma pitada de impaciência.
— Você vai ver. Quando estivermos na arena, tudo vai fazer sentido — disse Ana, com um sorriso sutilmente travesso. — A temporada de gladiadores acabou de começar. Preciso estar relaxada, é minha forma de me preparar.
O lugar vibrava com vida, e os espectadores discutiam animadamente sobre as lutas futuras. As cadeiras estavam lotadas, com pessoas de todas as partes do abismo, todas ansiosas para ver o início da brutal época.
— Sabia que existem quatro chefes de arena na cidade de Tenebris? — Ana perguntou de forma repentina, olhando para a Sombra. — Durante todo o ano, as lutas são apenas contra criaturas, pequenos shows para entreter o público. Mas a temporada de gladiadores é diferente. Humanos lutam contra humanos.
— E qual é a importância disso? — perguntou a Sombra, intrigada.
— Cada um é responsável por dar um espetáculo ao público. Eles cultivam suas próprias equipes de escravos de elite para competirem — disse Ana, com um tom de voz que mostrava sua familiaridade e experiência. — As provas são escolhidas aleatoriamente, e a posição das equipes determina a posição dos chefes na cidade. Ganham muito dinheiro e poder nas decisões políticas e leis do local. É um grande negócio.
— Parece um jogo de poder — murmurou a Sombra, franzindo a testa enquanto absorvia as informações.
— Exatamente. Por isso todos os chefes almejam escravos cada vez melhores. Mas é difícil conseguir gente no abismo. O mais comum é pegar jovens vendidos pelas famílias e treiná-los, mas isso demora muito tempo.
— E Cassandra, ela tem muitos gladiadores?
Ana fez uma pausa, olhando para sua caneca vazia. Mas logo prosseguiu com um balançar de cabeça.
— Não muitos. No momento, sou a única qualificada o suficiente. Havia outro, um grande homem, mas ele morreu na última temporada. Foi meu mentor, assim como estou sendo sua mentora agora.
— Isso significa que você lutará sozinha? — perguntou a Sombra, intrigada.
— Oh, não, não, as provas são feitas por uma dupla, uma elite e um novato — disse a mercenária com um grande sorriso, levantando o pulso esquerdo para evidenciar as algemas. — é um destino irônico, mas espero que me cubra bem, novata.
A Sombra parecia prestes a responder ao tom de zombaria em que seu título foi dito, mas desistiu, optando apenas por dar um longo suspiro. Ana alargou ainda mais o sorriso ao ver a reação da mulher pálida, e logo continuou sua explicação.
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— Além de mim, a Glutona, existem outros dois gladiadores de elite, o Colosso e a Bruxa. Pessoas duras, cada um com suas próprias habilidades e histórias. Já a última equipe ficou sem gladiadores no ano anterior, então para nossa sorte serão dois novatos nesta temporada.
A Sombra ficou em silêncio por um momento, pensando em tudo que tinha ouvido. Nesse momento, Cassandra entrou na taverna, caminhando em direção à mesa delas com um sorriso satisfeito e passos firmes.
— Parece que vocês duas estão se conhecendo melhor. Excelente — disse ela, sentando-se ao lado de Ana. — Tenho novidades sobre as batalhas deste ano.
As mulheres se endireitaram, prontas para ouvir.
— A novidade é que... não sei de nada! — Cassandra deu uma alta risada irônica. — Este ano, não houve pré-escolha. As provas serão reveladas no dia, minutos antes de começarem. Parece que querem nos manter todos na ponta dos pés.
— Isso é... diferente — falou Ana com uma sobrancelha arqueada.
— Sim, mas também torna tudo mais interessante. Preparem-se para qualquer coisa. Bom, suponho que estejam prontas, certo?
— Temos escolha de não estar? — perguntou Ana, torcendo o nariz.
— Claro que não! — Cassandra sorriu, levantando a caneca de cerveja. — À vitória! — brindou ela, e as outras duas acompanharam o movimento, erguendo suas próprias canecas com certa irritação pela descontração de alguém que não teria que colocar sua vida em risco.
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— Vamos começar com um aquecimento básico — disse Ana, pegando duas espadas de treino e jogando uma para a Sombra. — Precisamos ver o que você tem para oferecer.
O som de espadas se chocando, gritos de esforço e comandos severos ecoavam por todo o campo de treinamento. A Sombra pegou a arma no ar com facilidade, assumindo uma postura de combate que demonstrava sua experiência.
— Eu não sou uma iniciante — disse ela, com um leve sorriso de desafio.
— Ah, é sim… — respondeu Ana, batendo com a espada sem fio no cotovelo de sua oponente. — Levante mais a mão, por aqui habilidade não é tudo.
— O que você quer dizer?
Com um sorriso e um passo para trás, Ana levantou a espada em uma pose exagerada.
— Teatro! — exclamou. — É um espetáculo. Se você for entediante, provavelmente vai acordar morta pelos administradores. O público quer ver emoção, drama, algo que os mantenha na ponta das cadeiras.
A garota começou a fazer movimentos grandes, adicionando floreios desnecessários mas visualmente impressionantes aos seus golpes e defesas. A Sombra observou, lentamente entendendo o que Ana queria dizer.
— Claro, se seu oponente estiver com a arma em mãos prestes a te matar, lute com tudo o que tem, mas tudo feito a sete passos de distância deve ser visualmente impressionante. Pense nisso como um show, a vitória não é apenas sobre ser a mais forte, mas sobre ser a mais memorável.
— Parece apenas ridículo. Isso não é um combate real.
— E é ridículo, mas é isso que dá dinheiro — a resposta de Ana soou triste, mas conformada. — Mas sobre ser real, recomendo que não vacile. É um combate cruel onde todos querem matar a concorrência, seja apenas para aproveitar os benefícios ou simplesmente por ser um maníaco desgraçado. Bom, vamos mais uma vez.
A prática começou com a Sombra, a contragosto, tentando incorporar a teatralidade que havia sido demonstrada. Ana corrigia e ajustava, ensinando a importância de cada movimento ser não apenas eficaz, mas também impactante para o público.
O sol começava a descer no horizonte, lançando sombras longas pelo campo de treinamento. A nova escrava começou a incorporar os floreios e exageros ensinados. Golpes que antes eram diretos agora tinham um toque de dramatização, defesas tornavam-se oportunidades para exibições de força e habilidade e frases ocasionais foram soltas durante as lutas.
— Muito melhor — Ana disse, vendo a clara mudança nos movimentos. — Lembre-se, eles querem ver sangue, suor e glória. Amanhã não haverá espaço para erros.
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