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OS NEFELINS

Uma árvore solitária, empenada pelos ventos, que a despiu e retorceu seus galhos e caule, chamou sobre si uma densa neblina, e nela se ocultou. Que alma ela lembra, qual alma ela traz para a mente dos homens? Solidão e silêncio...

E muitas foram as mulheres dos homens tomadas pelos anjos naqueles tempos, como muitos foram os homens seduzidos pelas demianas naqueles dias, não muito recuados de hoje, o que causava inveja e raiva entre as pessoas e homens, porque a imensa maioria desses anjos os tomavam a força, inclusive em muitos momentos empurrando até mesmo os demônios contra eles.

Os filhos desses anjos e demônios, poucos por serem poucos os que vingavam, eram vistos como semideuses.

Hematiel sabia disso e, apesar de não ser um vigilante renegado, aquela manira-ellos já dominara seus pensamentos por muito tempo.

Nos dias e encontros que foram se seguindo desde aquele dia, em que a manira passara a amar o silencioso anjo, um ódio estranho nasceu na aldeia. Por isso Hematiel a visitava com extremo cuidado.

Hematiel ocultou suas asas e passou, até mesmo a usar trajes como os que ali viviam, além de observar com cuidado os céus mais próximos, pois que temia ser visto.

Mas os receios se iam quando a encontrava. Não conseguia explicar, mas ela trazia de si o melhor quando o cumprimentava com o sorriso mais belo e luminoso que já vira algum dia.

Então ela ficou grávida, e não quis partir com ele. Em silêncio ele a via sozinha e calada na aldeia, a todos gentilmente evitando, e seu coração se acalmou, acreditando que tudo ficaria bem.

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Então, quando seu filho nasceu seu coração estremeceu, porque as energias da vila não eram boas. Mas o coração da manira escolhida era nobre e bondoso, e não acreditou que algum mal pudesse vir daqueles com quem convivia desde que nascera.

Foi no trigésimo dia após o nascimento da criança que a aldeia a abominou, e com extremo ódio, porque a beleza imensa dela ser entregue a uma não-pessoa os revoltara, que ela foi atacada e morta.

No exato momento em que se preparavam para entrar na casa e dar cabo da criança foi que o viram, flutuando vários metros acima do corpo dela.

Em silêncio rapidamente todos recuaram e se ocultaram nas sombras.

Subitamente o poderoso anjo caiu pesado no meio da aldeia, ao lado do corpo abandonado da manira. Com extremo cuidado ajoelhou-se ao seu lado, tomando a cabeça e apoiando-a em suas pernas, enquanto acariciava seu cabelo e seu rosto com imenso carinho.

Todos notaram quando seus olhos se tornaram duros. As armas tremeram nas mãos e muitos trataram de fugir. Aqueles que permaneceram, quando o viram levantar o semblante, souberam que não sobreviveriam.

Num movimento estudado o anjo se levantou, os olhos tristes na manira, aguardando até que a última fagulha de seu corpo se desfizesse na poeira.

Em passos medidos e inaudíveis avançou até uma flor-do-mato que estava parada perto do poço. Tocando sua fronte a mandou tomar a criança, a sua criança, e subir um pequeno morro vizinho.

O tempo passou opressivo.

Quando a flor-do-mato se sentou no alto do morro, com a criança aninhada em seu colo, o anjo voltou seus olhos predadores para a cidade.

Como que em transe ela viu as pessoas da cidade que haviam ficado, se formar como uma barreira à frente do anjo, todos poderados, os curupiras, flores-do-mato, flores-de-fogo e caiporas inclusive tendo chamado caititus e queixadas.

Da cidade nunca mais se soube, porque todos foram mortos, até mesmo aqueles que acreditaram terem se colocado fora do alcance do anjo. Somente uma mulher e uma criança haviam sobrevivido ao anjo.

Zadeu era seu nome, e na terra ficou conhecido.