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NO HOSPITAL

O que faço com esse temor da perda? Como posso sobreviver a isso?

Layla nem se deu conta do que estava acontecendo, de como estavam sendo separados, ela e Gadhiel. A batalha estava intensa demais, e se defender e atacar era tudo o que restava para cada um.

Com satisfação viu que conseguiram, a muito custo, criar uma barragem de proteção em torno daquela posição, e viu aliviada que Gadhiel conseguira isolar e colocar Ovandriel sob proteção.

No entanto, o assédio se exacerbou, o que fez Layla se concentrar ainda mais no seu espaço imediato.

De repente sentiu que algo importante acontecia, e passou os olhos para o lado.

O que viu a deixou em pânico.

Ao lado percebeu Sekhemeth, que também havia se dado conta do risco que havia sobre Gadhiel e Ovandriel, apontando com uma pitada de desespero o que acontecia por lá. Elas iam se defendendo e tentando se desvencilhar dos que as atacavam, mantendo sob atenção a luta desesperada de Gadhiel, que conseguira matar um dos demônios, mas que for a duramente atingido por um outro, que se aproximará por trás.

Se defendendo de um atacante viu quando Gadhiel conseguiu matar o segundo demônio. O alívio que começara a sentir estupidamente se tornou desespero, quando viu o terceiro demônio grandalhão imobilizar o anjo, impingindo-lhe graves ferimentos. Quase desfaleceu ao ver Gadhiel tremer e desmaiar nas garras do demônio.

Ignorando toda a dor que sentia e substituindo-a por um terrível ódio, adensou suas sombras e esticou ainda mais tudo o que era, toda a maldade que podia ser, todo o desprezo que ignorava, e forçou seu caminho irresistivelmente para frente.

Sekhemeth viu a fúria que tomara Layla e se forçou ao máximo para acompanhá-la. Sincronizadas as duas se lançaram na direção dos demônios, Sekhemeth na frente, lutando com uma fúria terrível e irresistível, estraçalhando e retalhando, abrindo um caminho um pouco mais fácil para Layla, logo no seu encalço, que destroçava os demônios ao lado, impedindo que se dobrassem sobre elas.

Como alucinada Layla avançava empurrando e cortando, e estocando e chutando, até que conseguiu chegar no exato momento de atingir o demônio distraído, que se dobrava para o golpe fatal sobre Gadhiel. Com fúria o atingiu de seco e se encheu de farpas, se enterrou dentro do demônio, se forçando, destroçando, inchando rapidamente suas sombras, tentando desesperadamente destruí-lo antes que destruísse Gadhiel.

Num movimento súbito expandiu enormemente suas farpas dentro do demônio. Sangue e pedaços de carne esfumaçada e membros em pedaços foram lançados para os lados.

Suja de pedaços e fluidos viu Gadhiel, agora liberto do demônio, começar a cair, mole como uma pasta. Apressada o segurou, e procurou entender como as coisas estavam à sua volta.

Como se fosse em sonhos viu Sekhemeth, Cassiel, Zadiel e Tueris fazendo um arco protetor à sua volta, porque os demônios viram o que eles tinham feito.

Abandonando a batalha envolveu Gadhiel, que já agonizava, e o tirou de lá. Como não tinha como entrar nos ambientes mais internos, com fúria desceu com Gadhiel e impactou a terra, abrindo uma larga cratera, dentro da qual depositou cuidadosamente o corpo do anjo, que ficou sondando.

Suspirou aliviada quando eles foram descendo, se formando ao lado. Toda a família estava se reunindo ali.

Se afastou um pouco quando Adiene se ajoelhou ao lado de Gadhiel, se esforçando em estabilizá-lo.

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- Pai, precisamos deles, para muitos de nós, daqui e do céu - avisou.

- Vou trazê-los – falou, chamando vários para si e partindo para longe, que Layla, a atenção presa em Gadhiel, nem se preocupou em saber onde seria.

Foi então que vários anjos desceram, e falaram que os feridos estavam sendo reunidos num lugar intermediário e protegido que haviam transformado em um hospital, que eles poderiam ter acesso sem qualquer problema. Sem mais qualquer palavra Layla tomou Gadhiel enquanto Sekhemeth tomou Adiene e partiram, acompanhado dos outros, e entraram no hospital, onde estavam muitos alojados. Layla e Sekhemeth foram conduzidas para a direita, um local onde Ovandriel estava sendo tratado.

Com cuidado depositou Gadhiel numa cama baixa, momento em que Adiene se agachou e continuou a estabilizá-lo.

Layla agachou ao lado de Adiene e ficou observando preocupada a face de Gadhiel, e todo seu entorno. A aura dele estava muito enfraquecida, e errática. Então, ficou pensando se deveria deixar sua energia passar para ele, e assim ajudá-lo. Mas, ela ficou pensando que não deveria, porque era uma dêmona.

Sua alma pareceu se encolher ao sentir um toque suave em sua mão. Olhou e viu que Adiene a segurava. Ao levantar os olhos viu que ela sorria, num claro incentivo.

Layla sorriu, e se perguntou: por que não?

Sorriu de volta para Adiene, que voltou a mão para os lados de Gadhiel.

Layla se concentrou, deixando de lado toda sua dor e preocupação e insegurança, e respirou suave, se fixando no momento, sem nenhum pensamento, apenas fluindo, visualizando sua energia fluir para Gadhiel.

Adiene e outros sorriram emocionados ao ver uma névoa luminosa, fina a princípio, que se adensava vagarosamente, saindo dela e se espessando sobre Gadhiel. Então, como se fosse tomada de mais confiança, a energia foi penetrando no corpo do anjo, que pareceu um pouco mais recomposto.

Então ouviram um burburinho ao longe, que foi se aproximando, e logo eles chegaram e entenderam o que estava havendo.

Mas não eram apenas alguns, eram muitos, que foram se postando apressadamente junto aos feridos, dos quais passaram a cuidar também.

FacaDeFogo se aproximou depressa e se ajoelhou ao lado de Gadhiel, que passou a observar com preocupação. Viu as energias envolvidas, e seu sorriso aprovador teve um efeito calmante sobre todos ali, ele percebeu.

Ao perceber que Layla ia retirar sua energia a olhou apressado.

- Não o abandone. Você é o que o mantém nesse mundo. Sem você, ele se vai – avisou sério e gentil.

Mais que depressa Layla voltou a se concentrar, deixando sua energia fluir com liberdade para ele, uma felicidade imensa se irradiando dentro de seu coração.

Então viu o caipora se tomar de um fogo brando, estendendo as mãos sobre Gadhiel, enquanto entoava um mantra, bem baixinho, quase inaudível. Não pôde deixar de se maravilhar ao ver que as tatuagens dele, como ramos finos que desciam da testa e corriam para os ombros, estavam avermelhadas, como se rios de lava fossem.

Layla viu o que estava acontecendo nos níveis mais superiores, e sorriu maravilhada: uma coluna de uma luz muito forte, como se fosse de fogo, sem que calor houvesse, se revolvia com muita força e beleza, partindo do caipora e reforçando tudo o que Gadhiel era.

Layla voltou os olhos para os outros, e viu que eles estavam maravilhados também, observando o trabalho daquele ser incrível.

Depois de um longo período o caipora se levantou, o rosto parecendo mostrar algum cansaço, mas aparentando estar muito feliz com o que executara.

Foi então que seus olhos se abriram e viu onde estava, e sua curiosidade, como a de um menino, se acendeu como uma árvore de natal.

- Ah, essa é a casa dos anjos – saboreou num sussurro embevecido.

Alguns anjos que tinham visto tudo, o tomaram pelo braço e o convidaram para visitar o local, o que foi prontamente aceito pelo caipora.

- Agora você pode descansar – FacaDeFogo avisou, os olhos momentaneamente postos em Layla. – Ele vai ficar bem. Só fique perto, deixe ele saber que você está aqui, e tudo vai ficar bem, você vai ver – falou, logo acompanhando os anjos, a cara aberta num largo sorriso.

Foi nesse momento que Layla sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Havia se esquecido completamente do assédio terrível dos demônios.

Então se voltou para um grande anjo, em guarda ao lado de Ovandriel, e lhe perguntou como estavam as batalhas, porque nada conseguia ouvir.

- As ondas dos demônios se quebraram, dêmona, quando você e Gadhiel mataram os três demônios. Eles eram os senhores dessa guerra. Houve um aumento da violência quando eles perceberam que vocês os tinham matado, mas depois foram abandonando a luta. Acho que tudo ficará em paz, agora. Anjos de alto poder desceram há algum tempo, e estão pacificando esses lugares – revelou, sem entrar em detalhes de que era essa pacificação, e nem como ela estava se dando.

Layla, nesse momento, sentiu como se um peso imenso demais tivesse sido tirado de si, e teve que se amparar no leito raso onde Gadhiel estava. A adrenalina que a possuía, subitamente fez efeito, e ela quase desmaiou. Amparada pelos outros logo adormeceu pelo resto do dia, suas mãos segurando a mão de Gadhiel.