Novels2Search

LEVIATÃ

Não queria a destruição, a negação de um desejo expresso por quem nos criou. Não queria cortejar a dor nem a desesperança. Estranho termos foram criados para crescer na dor.

O anjo estava pensativo, de cócoras na beira do precipício, a espada pousada ao lado, descansando, aguardando.

Ali estava ele, no mundo daquelas criaturas frágeis e desprezíveis, tiradas do barro. O que os outros haviam visto naquelas criaturas era-lhe um mistério.

De repente, sua atenção foi chamada para um lugar distante. Com cuidado para não chamar a atenção da demiana, passou a observá-la.

Não ficou surpreso quando a demiana desceu suave bem à frente do humano, que via claramente ser um leviatã. Ela pousou os pés no chão duro, as asas sustentando a maior parte do peso do corpo no ar. Devagar depositou todo seu peso. Assim que os dois pés se apoiaram definitivamente no chão ela fechou lentamente as asas.

O anjo não quis examinar sua energia para não se denunciar, mas havia algo ali naqueles movimentos que chamaram sua atenção.

O leviatã não se movia – ele estava hipnotizado. Para ele era uma mulher de asas que se aproximara. Ela tinha os cabelos brancos e macios, que o vento tocava com facilidade e leveza. Seu cheiro era como o do frescor da manhã, e seu corpo era estonteante. Como hipnotizado, ele suspendeu a respiração ante aquela mulher. Ele sentia que o próprio ar estava modificado, tal como a própria luz.

A demiana ficou por algum momento observando o nefelin Arios com vivo interesse. Pela longa experiência ela bem sabia do impacto que causara.

Aparentando indiferença ela se voltou para examinar a paisagem que se perdia bem ao longe.

- Sei quem você é.

The genuine version of this novel can be found on another site. Support the author by reading it there.

- Tenho certeza de que sabe – respondeu o leviatã, recobrando o controle sobre si mesmo.

A demiana o observou com curiosidade. Havia poder naquela voz, havia poder expresso na atitude daquele ser.

- Seu clã deve deixar essas terras.

- Bela demiana... Não sei por que nos vota tamanho ódio. Peço que se vá.

- Ora, o motivo é bem simples: vocês são abominações, seres que não deveriam partilhar a criação – falou, os olhos duros nele presos.

O anjo se virou definitivamente para o lugar onde os dois se confrontavam, seu interesse em muito aumentado.

- Como demiana você deveria estar mais desperta, com menos ego. Nós fomos criados, e se existimos e possuímos vontade, não deveria se postar contra nós. Tudo o que existe, existe por uma decisão Dele.

- Interessante você falar sobre estar desperto ou adormecido. Seria até uma verdade, mas se esqueceu que vocês não foram criados por Ele.

O golpe foi tão rápido que a demiana teve dificuldade em entender por que sua vida se esvaia inexoravelmente, sem qualquer possibilidade de ser um engano.

As asas se abriram, trêmulas; o olhar baixou, preso no cabo de prata da adaga que atingira o lado do seu coração. Ao levantar os olhos deu com o olhar frio e indiferente do leviatã.

- O ódio cria ódio – ouviu-o dizer com uma suave entonação entristecida. – Não fomos criados para isso, para experimentar tamanho ressentimento. Amor, foi para isso que surgimos, nós, vocês, ... a vida. Mas vocês nos mudaram, mutilaram nossa própria essência.

Com um movimento suave, talvez para não causar mais dor, a susteve com gentileza. A demiana estremeceu suavemente, enquanto seu corpo ia tombando lentamente. O leviatã a desceu carinhosamente ao chão, observando seus olhos desaparecendo no ar.

Então suspirou abatido e tomou sua adaga, agora abandonada no chão. A limpou na grama e a guardou.

Assim que se viu sozinho voltou os olhos para um lugar distante onde um anjo, sentado à beira de um abismo, tinha a mão fechada no cabo de sua espada.

Por algum tempo ficou observando a grande figura contra o céu longínquo. Então, vendo que o anjo não dava qualquer sinal de se mover, encetou novamente seu caminho.

O anjo ficou cismando sobre o que realmente era aquele mundo. Agora há pouco tudo o que pensava havia levado um pedeléco do destino. A bondade e a nobreza estavam nos que julgara irracionais e motivados por vontades escuras. Com tristeza viu que a escuridão estava onde a luz deveria ser soberana.

Devagar trouxe luz ao seu coração e o espalhou por todo seu ser, buscando se renovar e tirar de si qualquer mancha de escuridão, que agora sabia, os poluía lentamente, a todos.

- Que lugar interessante Você criou, UM. E com que seres o encheu?