Eu sinto sua dor, o que passou para atender a necessidade imposta por seu dom. Que bom que, nesta vida, se foi essa dor tamanha, onde pessoas especiais te foram postas a amparar e te ajudar a cumprir. Outras vidas virão. Sinto demais sua falta.

A mulher parou e levantou os olhos em direção ao alto do rochedo, onde se via contra o céu, mais uma vez, o perfil de um ser acocorado, parecendo estar abandonado em seus pensamentos. Um anjo, era fácil identificar, apesar das asas que não se viam, com certeza por estarem recolhidas às costas. A mulher cismou, se perguntando curiosa o que ele fazia ali, enquanto retomava seu caminho.

O anjo observou a mulher que se afastava, numa trilha que contornava o monte e tomava a direção da aldeia.

Ele já estava assim há algum tempo, sentindo a sensação de que seu espírito queria se esticar ao máximo, ardendo por atender ao desejo reprimido de toque. Seus olhos a seguiram durante algum tempo, prestando atenção aos movimentos suaves dos cabelos soltos no vento, invejoso deles que tocavam a pele macia e sussurrava ao passar pelos lábios, e da luz que penetrava aqueles olhos e tocava a alma que sabia amar tanto.

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Era-lhe estranha a sensação que sentia, dessa falta, dessa saudade estranha e esquisita. Amor, o amor do qual havia ouvido falar, e que muitos anjos duvidavam existir. Ainda se perguntava em que momento eles, os anjos, haviam conseguido começar a sentir essa sensação perturbadora por alguém que não Ele.

E ali estava aquela mulher, e era ela que o aprisionava, que prendia seu coração, que prendia sua alma, que de forma alguma queria se libertar.

O anjo ficou alerta, desperto, a decisão tomando cada fibra de seu corpo. Decidido, alçou voo e caiu ao lado da mulher, o joelho direito cravado na terra, os olhos perdidos, fincados nos da mulher, que deu um grito de horror e medo. Quando pensou em correr viu que estava perdida, pois que não havia mais como escapar, porque via agora que seu destino vinha frio e indiferente sobre seu ser.

Num movimento rápido o anjo a envolveu com suas asas, o vento girando em turbilhão no seu movimento rápido. Não podendo mais se controlar a tomou para si, tentando desesperadamente acalmar o tormento que o tomava.