Eu respirei fundo e toquei o coração que aprendi a amar tanto. De irmão um dia chamei, de irmão minha alma reconhece. De quanta luz posso encher meu coração?
Zardrara mostrava o rosto tensionado, como se estivesse se negando examinar a falta que se avizinhava.
Layla esfregou uma mão na outra, tentando aliviar a tensão e o suor.
Gadhiel se mantinha tranquilo.
Em movimentos lentos e pensativos se apoiou no guarda corpo, os olhos se esticando até o distante horizonte, onde o belo sol começava a subir.
Então fechou os olhos o mais lento que pode, deixando que tudo o atingisse. Ali um pássaro cantava, uma árvore farfalhava dentre tantas; o riachinho marulhava feliz, uma nuvem se engrossava no céu; a lua girava em torno do pequeno planeta azul, que girava em torno do sol; o sangue pulsava, empurrado pelo coração do puma, que passeava na campina.
E seu filho estava indo embora.
Com cuidado sentiu a energia de Layla, e viu o peso que ela tentava sustentar. Talvez por ser uma dêmona ela fosse mais suscetível para esses sentimentos de perda, mas tinha orgulho dela, que se obrigava a trocar a saudade por uma intensa luz de amor pelo filho, que ela lentamente ia estendendo pela vida que pulsava ao lado. Se esticou um pouco mais para o lado, e sentiu a energia dos dois netos. Eles ainda eram adolescentes, mas pareciam muito bem resolvidos. Eles bem sabiam o valor que Zardrara tinha como guerreiro, e o pedido de Derfla para que fosse lutar ao lado deles, no combate ao império escuro que desesperadamente tentava se esticar por toda a galáxia.
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Mas seu filho estava indo embora.
Então sondou o próprio coração, e sorriu ao ver que havia paz ali. Seu filho fará a escolha dele.
Foi só então que deu uma rápida passada pelo coração dele, avaliando o que o teria, realmente motivado. Por muito tempo temera que ir embora for a motivado pela perda de Dardara, a bela e feliz Ondina. Mas, há vários dias vira que não for a esse o motivo. Parecia que o que ele tinha contratado fazer ali, em Gaia, já tinha sido cumprido. E Derfla sabia disso, como também notara que ele estava pronto para uma nova fase.
- TendaVar, meu filho querido – ouviu de Layla, o que o retirou de seus pensamentos. Então se virou para contemplá-los, aguardando sua vez de se despedir. - TendaVar, tendavar, tendavar... – repetiu emocionada.
- TendaVar, minha amada mãe... – falou, puxando-a num abraço apertado. – Não imagina o quanto te amo – sussurrou no ouvido dela.
Então, quando se separaram, Layla, com os olhos marejados, se pôs ao lado, vendo emocionada os olhos dos dois se examinando.
- Meu pai, meu pai... Eu amo você, meu pai – ele disse, a respiração vagarosa.
- All Lantun, meu filho. Estaremos sempre perto do seu coração, bem juntinho de sua alma.
- Tudo Dezana, meu pai. Eu sei, eu sempre soube – murmurou se abraçando fortemente com Gadhiel.
Assim que se separam Zardrara se voltou para o casal de jovens adolescentes, que se mantinham em total silêncio.
- Eu preciso ir, vocês entendem? – perguntou aos dois.
- Claro que entendemos, pai. Já conversamos muito sobre isso, e nós te apoiamos – tranquilizou Taná.
- Verdade, pai. Vai tranquilo – falou Zunda, o filho.
- É, eu sei - falou tomando as mãos dos dois. – Mas, só precisava ter certeza – riu. – Vão cuidar bem desses dois velhos?
- Pode deixar conosco, pai. Vamos cuidar bem deles. Eles são teimosos, mas vai dar tudo certo – riu a menina, abrindo um enorme sorriso.
Zardrara olhou aquele sorriso, e seu coração se encheu de luz.
Então se afastou um pouco, colocando todos aqueles que amava em perspectiva. Seu coração sentiu uma leve dor pela falta que sua esposa lhe causava. Depressa voltou sua energia para cima.
- Akindará, minha amada família. Akindará meus pais, akindará, meus filhos...
- Akindará – sussurraram todos em despedida, para a luz que se desfazia num raio de sol.