Ignoro a dor para poder juntar os pedaços do mundo que sonho reconstruir.
Não demorou muito, e logo eles foram surgindo à frente.
Sênior observou os anjos e viu seus olhos, notando que algo havia sido alterado. Talvez fosse isso, a ausência do UM, a tudo afetando, a tudo desamparando, exigindo que a vida soubesse de si e se encarasse no espelho. E ali, à sua frente, a confirmação de que algo não ia bem.
- Desejei com todo o fervor que se mantivessem íntegros – acusou o anjo encarando-os à frente de um grande batalhão.
- De que nos acusa agora, Nemaiel? – Sênior perguntou, notando com preocupação que os anjos tomavam posição para envolvê-los, buscando impedir qualquer fuga.
- Algumas guarnições nossas foram atacadas, e a selvageria foi muito grande.
- E por que acredita que fomos nós?
- A assinatura de energia é de vocês... – falou observando com cuidado Amadiel.
Sênior se virou para Amadiel, intrigado. De leve tocou nele, e não lhe viu culpa. Voltou-se com estranheza para Nemaiel, confuso com a certeza que o anjo demonstrava.
- Minha energia? É isso que pensa, Nemaiel? – Amadiel perguntou se posicionando à frente do anjo, os modos confusos, curioso sobre a acusação do outro.
- Não só a sua, Amadiel. Também sentimos a energia de Khyah e Castiel – acusou. – E isto estava de acordo com o akáschi...
- Mas, como pode ser isso? – estranhou Castiel se aproximando em companhia de Khyah.
- Vão e olhem... – sugeriu Nemaiel, os olhos mostrando que estava muito desconfortável com aquela situação.
Sênior se concentrou e, por algum tempo, se perdeu observando cuidadosamente os registros akáshicos. As imagens e sentimentos estavam ali, e tudo sugeria se tratar de Castiel, Khyah e Amadiel. De uma forma terrível a guarnição, composta de quatro anjos, localizada numa nebulosa perto de Lira, fora rápida e selvagemente trucidada. Porém, Sênior se aproximou mais dos registros, e trouxe deles os sentimentos para si.
No princípio nada encontrou, mas havia um sentimento diferente, como algo que não deveria ser natural ali, por saber em seu íntimo que não pertencia aos três ganedrais. Aquietou mais o espírito e se entregou à toda aquela energia guardada.
Subitamente, o que sentiu foi como um baque.
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Havia uma maldade disfarçada ali, havia prazer nesse ataque, havia um inaudito prazer em fazer o mal, em se envolver em escuridão.
Em silêncio permaneceu naquele registro, flutuando. Toda sua desconfiança se confirmava, e se pegou temendo pela dor que os anjos iriam ter que enfrentar.
- Tudo leva a crer que são mesmo eles, mas não são eles, disso estou certo – disse retornando de sua imersão.
- A sua opinião, meu perdido amigo, não tem muita valia aqui, não concorda comigo?
- Mas tem, porque é a verdade – Sênior rebateu com tranquilidade. – Observe com cuidado, Nemaiel. Contavam com o exame superficial ao acreditarem que haviam encontrado a assinatura. Mas, peço que observe com mais atenção. Se aprofunde o mais que puder, deixe a energia fluir. Nos afastaremos, e os seus podem guardá-lo enquanto se desdobra.
Nemaiel observou o ganedrai, e viu sinceridade nele.
Com tranquilidade os viu se afastarem enquanto os seus o envolviam com energia, protegendo-o de qualquer tipo de ataque.
Então mergulhou, o mais fundo que pode.
Nemaiel encontrou os registros e ficou observando-os por um tempo, sondando com atenção cada mínimo registro. Estava para desistir, porque nada estava encontrando, quando sentiu que devia insistir novamente, custasse o que custasse, porque uma grande injustiça poderia ser cometida ali.
Então se esforçou mais, deixando que uma paz extremamente sutil o envolvesse. Quando se concentrou novamente, começou a sentir um peso diferente nos registros.
Observou com mais atenção até que, surpreso, entendeu a que Sênior se referia.
Havia uma marca extremamente sutil ali. Deixando de lado sua preocupação com Sênior e seu grupo, até mesmo com a injustiça em que poderia ter incorrido, submergiu definitivamente nos registros, onde ficou longo tempo em exame.
Quando emergiu seu rosto estava duro e preocupado.
- Por que não vi?
- Porque eu conheço os três e os chamo de umdosirmãos – explicou com alívio. - Agora percebe, Nemaiel? – perguntou Sênior, o coração passado de dor pelo amigo.
Nemaiel o observou por um momento, os olhos sem luz, pesarosos.
- Desde quando sabia?
- Faz algum tempo.
- Por que não nos alertou?
- Quem disse que não alertei? Você agora sabe, não sabe?
Nemaiel olhou para os seus irmãos e emitiu o conhecimento em um pulso para todos eles. Não houve qualquer reação visível, mas apenas os olhos, que perderam momentaneamente o brilho.
Todos sabiam das artimanhas que os escuros podiam engendrar.
- Sim, agora sabemos...
- Akindará, velho amigo...
- Akindará??? Ao vento e à vida sem fim... Bonito. Veio de Aden?
- Você está muito atrasado. Ela agora se chama Urântia. E sim, é dela mesma... Ela sempre tem o coração muito cheio de esperança...
- Akindará, velha família – cumprimentou Nemaiel.
Sem mais qualquer palavra Nemaiel volitou, sendo apressadamente seguido por todo seu exército.
- Acha que ele conseguirá? – perguntou Anaita tomada de apreensão.
- Tenho certeza de que sim.
- Mas, são tão poucos...
- Não são poucos. O mal que se instalou ainda é pequeno. A escuridão ainda não avançou tanto por lá. A luz neles é muito forte... Além disso, se precisarem de nós, sabem que será preciso apenas nos chamar.
- Então, não devemos ir ajudá-los agora? – quis saber Amadiel.
- No momento não é aconselhável que estejamos por perto. Nossa presença poderia causar um desconforto, que agora é desnecessária. Ainda, essa é uma batalha que eles estão preparados para empreender. Ela não é nossa – falou com tranquilidade. – Além disso, temos um assunto pendente com um demônio que pensa formar um exército das sombras – declarou fazendo um leve sinal para Jasmiel, que chamou Castiel e Jophiel.
- Me ajudem a encontrar alguns dranians guerreiros – falou para os dois.
- Eu conheço um comandante Dranian, que se sentirá muito feliz em nos ajudar – falou Castiel.