Um dia Deus teve a atenção só em você.

Temi mergulhar fundo naquilo que não saia de minha vontade. Tudo é mais suportável quando não se está sozinho, mesmo sabendo que não diminui o sentimento que corrompe a alma.

Ele, o UM, só tinha amor e paz, e só a ele, ele via e sentia. E ele estava curioso. Assim, se nunca tivesse visto seu rosto e estivesse muito curioso sobre ele, o que faria?

Em um momento isso aconteceu e ele quis se ver, quis experimentar saber o que era ele mesmo, quis saber como seria se o amor fosse algo a ser visto, a ser conquistado, partilhado, repartido.

A ser descoberto.

Esse era o desejo no âmago da criação.

E nós surgimos, consciência e conscientes dessa curiosidade.

Senti o impacto, duro, terrível, naquela confusão que me desnorteou profundamente. Há pouco eu estava feliz, imerso como estava no UM e, agora, perdido eu me sentia, perdido frente a um vazio imenso e inóspito que nunca tinha experimentado.

No princípio me chamei por Balael, “o curioso”, e eu não estava sozinho. Havia milhões e milhões como eu, parados em frente àquilo que nos era proposto pelo UM, porque nós o éramos, e somos, e sabíamos o que nós estávamos nos propondo.

Não somos bons ou maus, não somos prisioneiros do tempo e do espaço; somos apenas curiosos e alegres, infantis, inocentes e ardorosos frente ao desconhecido, apesar de confusos, mas não temos em nós o medo, o receio. Talvez isso estivesse em nós, mas nós ainda não o conhecíamos. Como poderia deus ter medo?

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À nossa frente o vazio, e só!

Tomados de risos febris, como crianças inocentes passamos a expandir a energia que somos e começamos a criar pequenas coisas, como universos, e dentro deles inúmeras dimensões, que passamos a encher de coisas ainda menores, por galáxias e mais galáxias das mais diversas, que fomos enchendo de sóis e sistemas, de planetas e luas, de rochas perdidas e... de vida.

Eu estava lá, frente a tudo aquilo, pensando. Minha consciência pulsava forte, cheia de expectativas e possibilidades. Mas então algo aconteceu, e fiquei em silêncio frente às criações portentosas que apareciam à minha frente, chamadas à vida pelos meus irmãos, uma quantidade infinita deles que desciam para animarem os corpos criados, desde as rochas até os animais.

Eu observava, entretido, perdido, e assim descobri em mim um sentimento estranho: eu me peguei preocupado por descobrir coisas e verdades que não desejava, apesar de saber que isso era parte do que nos propusemos a experimentar, porque eu havia me voltado para observar o UM.

O pai UM é uma dimensão, que são várias em quantas vibrações ele pode existir, que são infinitas. Mas nós, suas sementes lançadas, vibramos menos que ele, porque foi assim que conseguimos nos tornar a própria experiência.

Eu descobri o que era estar separado.

Foi isso que eu vi, nu e cru: quando nascemos, quando fomos destacados, erroneamente acreditamos que estávamos separados dele. Esse foi o momento em que começamos a cair, esse foi o momento em que demos início à queda.

Vi alguns de meus irmãos ejetando de si consciências, se partindo em miríades de partículas divinas, que semeavam de si mesmas, cada lançamento em uma vibração menor, buscando expandir cada vez mais a experiência, porque eram muitas as possibilidades que se abriam.

Observei novamente o UM, e vi que era isso que se buscava desde o início da queda. Por isso me deixei feliz, por cumprir seus desejos; por isso me voltei com enorme determinação para a experiência.

E estávamos tão alegres, infantis que éramos, que desejávamos experimentar tudo ao mesmo tempo, perdidos que estávamos no paraíso.

Por isso, a cada nova divisão nós nos perguntávamos se conseguiríamos um pouco mais, e assim fomos nos dividindo mais uma vez, e mais uma e mais uma.

Foi natural, após um número imenso de divisões, que uma pergunta surgisse em nossos corações: até quando conseguiríamos ir? Conseguiríamos dividir mais uma vez?

Foi essa a pergunta que me veio enquanto observava as imensas possibilidades do que criávamos: até quando conseguiríamos ir, ao diminuir cada vez mais nossa vibração?

E, bem sei, essa não era uma pergunta só minha.

Uma mônada ao meu lado se fazia a mesma pergunta: E se???