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ALÉM DA CORTINA [português]
SEM ESCURIDÃO - 2,934

SEM ESCURIDÃO - 2,934

Por isso, voltarão para o UM,

Nós não estávamos cegos, como nunca estivemos. Apenas..., apenas não podíamos parar.

I

Por eras batalharam contra a escuridão, e também contra os anjos que tentavam travar seus caminhos, tendo o cuidado de protegerem Satânia de qualquer tentativa de retomar a dominação por parte dos escuros. Tudo parecia apontar para um destino, que lhes sussurrava nos ouvidos que assim tudo seria pela eternidade à frente, ignorando a dor que crescia em seus corações.

Tudo levava a ser assim, até que...

Eles voltavam para Aden de uma batalha notavelmente cruel quando deram com eles.

Um pequeno grupamento, contando com não mais que alguns milhares de anjos, lhes fazia frente.

Os próprios tardischs estavam em número muito reduzido, mas aqueles poucos milhares, de forma alguma, poderia lhes fazer frente. E cada um dos que estavam ali sabia disso.

Sênior parou à frente deles, os olhos duros e cruéis, avaliando o risco que representavam.

- Nemaiel... – reconheceu. – Veio a mando do conselho?

- Vim a pedido deles sim, mas a mando do meu coração – falou, a voz tranquila, apesar de dura e determinada.

- E o que deseja por esses lados?

- Sabia que agora o chamam de Sênior o antigo; Sênior, o velho guerreiro?

- Apenas um nome. Se cumprir a alguma finalidade, está bem então.

- Há muita dor, amargura e rancor no multiverso pelo que vocês fizeram e fazem, sabem disso?

- Isso é irrelevante – declarou. – Veio tentar nos aprisionar, como os outros?

- Essa não é a minha intenção, Sênior. Não posso confraternizar pelo que está fazendo, mas eu o compreendo, ainda mais ao ver a dor que reveste os seus corações.

Sênior observou Nemaiel e sorriu, deixando sua tensão esvair-se, como todos os outros seus irmãos.

- Vamos? – convidou a todos, dirigindo-se para Aden, onde desceu numa grande cidade, localizada ao norte.

Nemaiel, ainda do alto, viu que seu tamanho era mais que suficiente para acomodar todos os tardischs. Porém, havia notado também alguns setores da plataforma que pareciam menos usados. Os tardischs diminuíam rapidamente em número.

Devagar pousou em uma ampla plataforma, no alto de um prédio, onde também se via uma grande e verde praça. Sorriu aliviado quando, de forma natural, conferiu que os anjos e os tardischs se misturavam sem qualquer animosidade, sem qualquer rusga, sendo todos bem recebidos até mesmo pelos que estavam na cidade.

Essa cidade ficava sobre o alto de uma montanha no norte de Aden, de onde avistavam uma larga e verde planície, assim mantida aberta por grandes manadas de animais portentosos que ali pastavam.

Nemaiel girou, avaliando a vista a partir da plataforma, construída numa planície elevada cortada por um rio que descia do topo coroado de branco. O barulho das cachoeiras era tranquilizante, e Nemaiel sorriu pelo gosto do lugar. Tudo era feito de pedras brancas, azuis e algumas poucas de tons esverdeados.

Em largo círculo, na vasta varanda natural, os principais comandantes dos anjos, juntamente com os “umdosirmãos” mais chegados, que entre os anjos eram chamados de os quatorze, se reuniram, cada um fazendo surgir um banco onde se instalavam.

Sênior, como todos os outros, fechou os olhos e se voltou para dentro, sentindo a luz penetrando no corpo enquanto se ligava suavemente uns aos outros e ao planeta como um todo, revitalizando e iluminando os cantos escuros que porventura a alma pudesse estar embalando.

Quando abriram os olhos estavam mais leves e luminosos.

- Eu ainda não tinha tido a oportunidade de ver algumas das colônias aqui no planeta.

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- Várias, de várias raças galácticas, se instalaram aqui. Fazemos muito gosto delas fazerem daqui seu lar. Mas, elas estão sendo muito atacadas – avisou. – Alguns tardischs se prontificaram a ficar aqui para protege-los da escuridão, mas as coisas parecem estar ficando mais graves.

- Éééé´???

- Sim... Os escuros parecem muito interessados em dominá-los. Os escuros estão muito ativos.

- Eu sinto por vocês – declarou Nemaiel, os olhos passeando pelos tardischs. – Posso só imaginar a dor de vocês, posso só imaginar o quanto lutam para se manterem íntegros.

- Acho que isso está certo, vocês só podem imaginar – murmurou Sênior.

- Por quê? Por que toda essa loucura? – Nemaiel perguntou, a voz baixa, um pouco pesada. - Já lá se vão eras e eras de guerras enlouquecidas, já lá se vão eras e eras de vidas ceifadas, destruídas, de anjos e demônios destruídos.

Nemaiel viu uma onda de dor passar pelas faces dos tardischs, mas viu que não devia confiar nessa sua visão. Bem sabia que se as sombras avançassem, nesse momento, contra eles, ou se eles mesmos tentassem atacar esses guerreiros, eles iriam revidar, não se controlando até que o último espirasse.

- Tivemos que reagir, Nemaiel. As centelhas não são alimentos, a vida não pode ser vista como alimento.

- Tenho certeza de que veem mais do que isso. Nunca elas poderão ser destruídas, obliteradas; nunca elas poderão ser anuladas, usadas como alimento. São experiências que elas mesmas desejam.

- Tudo tem que ter um limite. A dor delas nos atingiu de uma forma muito... O impacto foi muito terrível – Haamiah declarou.

- Todos nós sentimos pela indignação dos tardischs, mas isso tem que parar.

- Tem mesmo? Também queremos isso. Se os escuros se afastarem, tudo irá parar...

- Sênior, Sênior... – repreendeu Nemaiel com a voz suave. – Não me importo com eles, e nem mesmo com as centelhas que desejam tal ou tal experiência. É com vocês que me importo, e isso porque...

- Porque sabemos o que os motiva – falou alguém vindo de algum lugar à direita.

Sênior já o tinha visto muitas vezes, tal como os outros tardischs, mas nunca haviam tido alguma oportunidade de conversarem.

Se levantaram, sentindo que algo em todo o lugar em que estavam tinha se alterado.

Virou-se para vê-lo.

Aquele ser brilhava, mas seu brilho era um brilho simples e repleto de poder.

- Emanoel – Haamiah reconheceu, abrindo um enorme sorriso, dele se aproximando e estreitando em um afetuoso abraço, que Emanoel retribuiu.

Sênior sentiu algo diferente, porque havia ali um carinho especial, ainda mais quando ele, segurando os ombros de Haamiah sorriu aberto e carinhoso.

- Que bom que está aqui, Haamiah. O caminho é longo, não é mesmo? E vai se desdobrar um pouco mais, mas tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem.

Então o viu, abraçando os outros, e também os anjos, até que parou à sua frente.

Havia aquele carinho franco, aberto e jovial. Havia aquela alegria simples, apenas cheia de luz, de risos. Já ouvira muitas estórias dele, e também de Denatiel que, juntamente com Yeshua, provavelmente eram os anjos mais respeitados pelos multiversos. Se Denatiel podia ser chamado de o combatente supremo, e Emanoel o supremo comandante, Yeshua...

Sênior parou, pensando como poderia definir Yeshua, pois que certamente, ele não era um comandante nem um guerreiro supremo, e isso porque ele era... era algo bem maior que isso.

Então abanou a cabeça, desistindo de tentar definir, sabendo que a forma como o definisse pouca importância teria, até mesmo para ele mesmo.

E ali estava ele, o grande Emanoel, comungando com seus corações.

Sentiu o abraço carinhoso, que retribuiu com afeto, sentindo que suas dores eram um tanto aplacadas.

Por todo o extenso acampamento se notava aquela energia, aquela luz. O desânimo e a raiva de antes haviam se diluído. Ainda estavam por ali, apesar de muito diluídas, mas eram aceitas e desses sentimentos se falava agora mais abertamente, de forma até mesmo carinhosa, como experiência que era.

De repente uma eletricidade atingiu a todos por ali, e todos se levantaram e se puseram alerta. E alertas que estavam sondaram os espaços, e foi então que, bem ao longe, num lugar quase vazio de vidas e sois, repleto de planetas desgarrados e luas perdidas e rochas abandonadas o viram.

Bem distante, anos-luz ao longe viram uma luz pequenina, ao redor do qual batalhões de seres trevosos se acercavam.

Sem que fosse coordenado, subitamente todos volitaram, tomados de pressa, tomados de uma agoniada pressa.

Apesar de toda a força que imprimiram, apesar de toda velocidade que se deram, quando chegaram havia uma treva densa que se revolvia e que procurava de alguma forma desesperada sufocar aquela luz.

Sênior e Haamiah observaram Emanoel, e viram que ele estava tranquilo. Sua espada estava na bainha e suas mãos estavam em paz, cruzadas à frente do corpo. Ele apenas seguia os movimentos e as tentativas da escuridão.

Sênior sorriu e se preparou para atacar, se dizendo que Emanoel era tanto carinho e amor que estava preso num caminho que ele mesmo se pegava, de quando em quando, confuso de como deveria reagir quando encontrava algo sombrio.

Então, no exato momento em que se preparavam para se abater sobre os sombrios, a luz, a pequena luz envolvida na escuridão cresceu e a escuridão gritou de surpresa e recuou, se sentindo ferida.

Mas, o mais espantoso de todos, que o fez se aquietar, foi que muitos dos seres escuros não haviam recuado, e lentamente e com uma suavidade tocante se aproximavam da borda da luz, e em sua fímbria entraram. Espantado com o que presenciava viu os seres sombrios imersos na luz se virarem para encarar os que se mantinham afastados.

Sênior fez sinal para os tardischs aguardarem, enquanto sua espada voltava a descansar na bainha.

Tomado de alegria viu que os estavam na luz começaram a brilhar muito tenuamente, enquanto muitos dos que se mantinham distantes se aproximaram e entraram na claridade, agora um pouco maior.

Não demorou e logo os poucos seres mais escuros, que se mantiveram quietos longe da luz se foram em um respeitoso silêncio, enquanto a luz era cercada pelos seres que, de alguma forma, pareciam estar em paz dentro daquela suave luminosidade.

Sênior prestou mais atenção, e jurava ouvir sons de conversas e risos tímidos.

Em paz olhou à volta, os milhares de anjos e os poucos tardischs, todos maravilhados com aquele poder gentil.

Sentindo o coração enorme enviou uma onda de amor aquele ser, e em silêncio retornou para Aden, juntamente com os tardischs e os anjos.

Somente Emanoel permaneceu lá, aguardando por ele.