Deve ser como pintar um quadro. Sabe, sorrir na alma ao amar cada pincelada, cada matiz, cada reflexo de uma gota de sol. Deve ser assim, pegar um torrão de terra e inocular uma consciência. Eu deveria saber com certeza, porque muitas delas eu fiz...
O surgimento deles quase os pegou de surpresa, apesar do aparecimento ter sido monitorado e acompanhado por um grupo de anjos, comandados por Gadhiel, no próprio chão de Urântia mesmo considerando que o anúncio da criação desses novos seres já vinha sendo pronunciado e sentido há algum tempo. Por mais que desejassem acompanhar tal evento in loco, tiveram que acompanhá-lo de grande distância, visto as lutas intensas contra as trevas que se desenvolviam bem longe de Urântia, auxiliando Derfla a limpar um grande setor.
Agora, no entanto, com as coisas mais tranquilas pela expulsão das trevas do entorno da confederação, finalmente haviam conseguido voltar para Urântia, mesmo que fosse por um curto período de tempo.
Sênior observou seus irmãos e viu que, tal como ele mesmo, estavam todos muito entusiasmados com as novas criaturas que lá haviam surgido.
Os ganedrais flutuaram acima das nuvens de tempestades, todos satisfeitos por terem retornado ao planeta que tanto amavam. Como se fosse parte de uma brincadeira entraram no meio da tempestade e zanzaram algum tempo pelo planeta, passando pelo antigo sítio onde haviam construído a plataforma, não conseguindo encontrar qualquer indício de que ali tivesse existido algum dia. Então viraram para o sul, onde sentiam que estavam as novas criaturas.
- Olhem lá – Khyah apontou para o alto de um monte, pronunciado numa pequena planície sobre uma montanha – Aqueles seres lá devem ser Gadhiel e os seus – falou para lá girando o corpo, sendo rapidamente seguida pelos outros ganedrais.
Um a um desceram ao lado deles, que os recebiam com intensa curiosidade e sorrisos luminosos.
- Aduene – ouviram as vozes alegres dos que estavam no chão. Adanene, diziam todos, tocando a grama suave que recobria aquele lado do monte.
Sênior suspirou feliz.
Então todos se viraram para terras abaixo examinando criaturas as mais diversas, que nunca tinham visto. Um silêncio maravilhado tomava a todos que, do alto do monte suave, se perdiam na visão deles.
Elas estavam espalhadas por uma vasta área entre duas cadeias altaneiras de montanhas, onde um poderoso rio serpenteava, vindo das geleiras que coroavam as montanhas.
O inverno acabara há pouco, motivo de ainda verem pequenas manchas brancas nas raízes e encostas escarpadas das cordilheiras e serras, bem como nas sombras delas.
Anaita suspirou, vendo inúmeras criaturas na terra, e outras tantas no céu e nas águas.
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Sênior se virou para Gadhiel, um sorriso feliz pendurado no rosto.
- Eu sou Sênior. E nós somos os ganedrais – falou, um a um, apresentando.
- E eu sou Gadhiel, e esta é a minha família. E também um a um foi apresentando, que eram cumprimentados de volta com um enorme sorriso.
Aquela era a primeira vez que os ganedrais se encontravam com aqueles anjos, e tinha que confessar que era um time bem eclético, nada convencional. Porém, via o grande valor que possuíam. Havia honra ali, e muito poder. Mas, o que mais o divertia, é que eles pareciam possuir uma alegria interna, vinda de uma felicidade de estarem juntos. O respeito com que os outros falavam deles por Nébadon eram um selo disso tudo.
- Então vocês são os ganedrais – falou Gadhiel após todas as apresentações. – Vocês têm uma fama muito alta pelas dimensões e reinos.
- E vocês são muito conhecidos, respeitados e honrados. Sinto-me feliz por estar com vocês.
- Vocês os viram no momento da criação? – quis saber Amadiel, os olhos seguindo as pessoas. – Eles são maravilhosos.
- Sim, nós os vimos quando foram criados. Foi lindo demais – suspirou Layla. – Eram como colunas de fogo brilhantes que surgiam acima de Urântia e desciam até a superfície. Veem? Alguns são do ar, outros da terra e outros das águas.
- Eu os vejo, e vejo que possuem poderes diferentes uns dos outros – observou Uriel.
- Mas, é certo o que estou vendo? Alguns são demônios? – assombrou-se Dangelo.
- Sim, e outros são espectros. Se observarem com cuidado, verão que as maldades que os possuem, quando maus eles são, é de uma maldade assim meio... infantil – decidiu-se Gadhiel.
- Mas, e se eles saírem do controle? – cismou Angelina.
- Isto não está descartado, claro, mas estamos ajudando-os a entenderem o mundo e a si mesmos – Adiene contou.
- Como professores? – aventou Melchior, tomado de curiosidade.
- Isso mesmo – Sekhemet confirmou. – Ora, então é verdade, vocês também são em número de treze? – maravilhou-se, mudando de assunto.
- Sim, agora. Mas já fomos milhões de milhões – Castiel sussurrou com um sorriso pequeno.
- Vocês viram as linhas de tempo que se abriram com o surgimento das pessoas?
Gadhiel observou Jasmiel com carinho.
- Sim, nós vimos, e nosso coração se encheu com o que vimos, com o que pode vir a ser. E nos vimos e vimos vocês e muitos e muitos outros. Será uma experiência sem precedentes, podem estar certos.
- Eu sei de anjos, logo no princípio, que viram possibilidades em descerem mais na experiência que criavam que se perguntaram: por que não? Pois agora somos nós, os que se levantam das sombras, que nos perguntamos: por que não? – Sênior sorriu. – As linhas mais fortes e brilhantes são as mais promissoras – falou, os olhos se perdendo em um belo ser em fogo brando que caminhava ao lado de um animal enorme de grandes presas. – Eles sabem?
- Não, não lhes é dado saber das novas criaturas que logo irão aparecer. Urântia vai entrar em um caminho perigoso e de promessas tão imensas que é melhor que seja tudo aos poucos – Gadhiel sorriu. – Ficarão por aqui, para verem quando as outras novas criaturas surgirem?
- Não, não podemos. Mas, é certo que daremos um jeito de virmos vê-los, sem dúvida. Sabem, meus irmãos, nós amamos esse planeta, e por ele entregamos muito de nós. Por isso nos sentimos mais confortados ao saber que estão por aqui. As trevas avançam contra a confederação, vocês sabem, atacando como vespas nervosas e apavoradas. Derfla está muito ocupado, e vamos auxiliá-lo. Por isso, agradecemos a acolhida amorosa que nos dispensaram, mas está na hora de irmos. All Lantun, meus irmãos.
- O prazer foi todo nosso, ganedrais. Ficamos muito honrados. All Dezana, irmãos.
Então os ganedrais abriram suas asas e saltaram suavemente no ar, se distanciando cada vez mais, até que não puderam mais ser vistos.
Gadhiel observou a atenção de Layla nos que haviam partido.
- Sei o que está pensando, o que está vendo, e também sinto o mesmo por eles.
- Por que eles continuam então, Gadhiel? Por que o amor deles exige tanto?
- Eles apenas amam, e esse é o caminho que trilham...