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OS GANEDRAIS

Há alguns que não conseguem se elevar novamente.

Quando tudo silencia na alma é que a face verdadeira se mostra.

I

Os milhares de tardischs se encaram, as faces tristes e distantes, feridas. Apenas Castiel e Uriel pareciam tranquilos.

- Pode ser uma reação normal, mas não acredito que seja a certa – falava Uriel, os modos suaves e gentis. – Eles ainda procuram entender o papel que desempenham, tal como nós.

- Eles já sabem bem o papel que desempenham. Eles estão sendo um escudo para a escuridão – acusou Haamiah. - Eu mantenho o meu voto de irmos embora, de deixarmos até mesmo Nébadon. Aqui não vejo mais como meu lar.

- Já fizemos isso uma vez, eons atrás, e a escuridão cresceu e nos encontrou novamente. Digo que ir embora não vai adiantar – falou Castiel, para amargura de Haamiah.

- Renegados – sofreu um tardisch de modos ariscos. – Tudo o que passamos, o que representa para eles?

- Nada do que fizemos foi somente por eles – respondeu Sênior, a voz distante e um pouco pesada. – Fizemos por toda a vida, toda a consciência..., em atendimento ao UM.

- E eles estão incluídos – Anaita espetou. – Sei que é errado, mas me sinto traída por eles.

Sênior sorriu ao ver Angelina acariciando o braço da amiga.

- Olhem, sei que a dor nos grita para irmos embora e deixarmos que eles se virem por aqui, quando a escuridão se aproximar. Mas, não conseguirmos decidir já é uma decisão, não é? Quero dizer, não queremos ir, na verdade. Não é isso? – falou Castiel.

Amadiel levantou os olhos e confrontou os de Castiel, terminando por sorrir ao ver valor no que ele dissera.

- É uma grande verdade – sorriu em apoio.

Sênior balançou a cabeça, cismando.

- Mas, vocês não os ouviram? – rilhou Haamiah. - Orgulho e ego, foi do que nos acusaram. De fortalecer a escuridão, gritaram para nós.

Sênior suspirou profundamente, vendo a cabeça de todos penderem, confusos e magoados. Então resolveu que aquilo não poderia continuar.

- Meus irmãos, as dores de vocês são a minha, como a mágoa e o sentir-se injustiçado, incompreendido. Mas..., mas temos que continuar. Vocês sabem o que está acontecendo. Não podemos ir embora, não podemos desistir, porque não é isso que está em nós, como Castiel e Uriel sentem, e muitos outros de nós. Nemaiel, Emanoel e Yeshua continuam a luta contra a escuridão, e nós podemos ajudar. Não dependemos da aprovação de qualquer conselho que seja. Gostaríamos, sim, de ter a aprovação dos nossos irmãos, mas dela não precisamos. Somos irmãos, somos o umdosirmãos, e meu coração é assim que se entende, mas somos todos livres para nossas decisões. Me decidi a continuar, a ir em frente, a encarar essa tempestade, apesar de não mais com raiva e ódio, mas com compaixão. Um dia acordaremos e veremos isso como realmente é, um jogo de entretenimento, de avanço, de compreensão profunda. Um dia isso acontecerá. Mas...

Então tomou a espada e a segurou à sua frente, seguindo cada linha, cada tom. Com um longo suspiro passou a mão sobre ela, que lentamente foi se alterando.

> Por vintana ela foi um dia chamada. “Aquela que termina”, aqui termina – falou com um sorriso pequeno no rosto.

Stolen novel; please report.

Então, ante os olhos de todos, ela se tomou de azul celeste, enquanto os veios se mostraram em suas faces num tom de azul escuro.

- Como aqui devem terminar os tardischs – concordou Castiel. – Também estou cansado de tanto ódio e frieza, de tanta dor que se tem que ocultar – falou sob os olhos apoiadores de todos os outros.

- Os contendores, os ganedrais... – sussurrou Azazel tomada de alegria.

Khyah abriu um grande sorriso, encarando a irmã.

- Como é que você consegue criar essas coisas? – riu feliz. – Gostei do nome. Se todos aceitarem, saibam que no meu coração ainda nos verei como tardisch e umdosirmãos.

- Por mim está bem... – Sênior sorriu.

E um a um todos acabaram por entender seu próprio espírito, sabedores que não estava neles abandonar a batalha, não estava neles abandonar Aden e todas as consciências irmãs que ali viviam.

- Vamos então? – Castiel convidou. – Há irmãos que talvez precisem muito da ajuda dos ganedrais – falou se erguendo, a intenção se voltando para o distante sistema de Lira.

II

Assim que surgiram na borda do sistema deram com uma intensa batalha. Naves imensas de enorme poder e velocidade estavam ali, voando como abelhas raivosas, cuspindo intensos jatos de energia. Os anjos, comandados por Nemaiel, destruíam várias delas, e mais e mais surgiam no espaço.

Sênior segurou os ganedrais por algum tempo, impedindo-os de entrarem diretamente na batalha.

- As naves estão surgindo, como se volitassem – falou para os seus. – Há algo diferente aqui.

- Veja – Melchior apontou para um lugar no espaço, que pareceu inchar num impulso súbito, a partir do qual surgiu uma imensa nave.

- Eles criaram uma forma de dobrar o espaço e o tempo. É assim que eles estão conseguindo surpreender nossos amigos. Quantos desses portais conseguem identificar? – Sênior perguntou.

- Eu vejo dois ali – reportou Jophiel.

- E eu mais três – disse Angelina.

Então os outros foram mostrando mais daquela tecnologia, até que viram que eram onze os sistemas ativos.

- Vamos, temos que destruir essas linhas de suprimento – comandou Sênior, atingindo pela entrada um dos portais.

A explosão foi intensa, dobrando de forma errática o espaço, até que tudo foi se normalizando.

Então, entendendo como tudo se dava, os ganedrais passaram a destruir os portais pelo lado interno sem causar mais qualquer anomalia, sem perturbar em quase nada os espaços envolventes.

Nemaiel, que de longe observava a atuação e a providência dos ganedrais, levantou alto suas armas, comandando uma carga poderosa contra as naves, que sabiam que tinham sido isoladas dos seus, para as quais até mesmo o recuo e a dispersão haviam sido negados.

Quando a última nave foi destruída Nemaiel, agora reunido com os ganedrais, com força atingiram os planetas mais exteriores, onde as batalhas estavam mais intensas.

Ainda demorou algum tempo, até que todo o sistema foi novamente libertado dos escuros.

Sob um céu avermelhado e ferido Nemaiel com seus comandantes, juntamente com os ganedrais, avaliavam toda a situação acima de uma grande cidade, quando baixaram ao lado uma horda de anjos, comandados por Yeshua e Emanoel.

- Que bom que destruíram os portais. Tentávamos destacar um grupamento para isso, mas os escuros se intensificavam à nossa volta, nos impedindo – Emanoel contou todo sorrisos.

- Ainda bem que não desistiram, não é mesmo? – Yeshua sorriu francamente, cumprimentando cada um dos ganedrais.

- Pensamos nisso, mas... Não tínhamos como – Castiel reconheceu.

- Ainda bem – Nemaiel parabenizou, fazendo sinal para todos os anjos descerem para a cidade. – Evitou muita dor – convidou os outros para um prédio alto e todo iluminado.

- Então os tardischs se foram... – Emanoel cismou, os olhos nos quatorze, passeando rapidamente pelas poucas dezenas de milhares que continuavam, sentando-se numa larga poltrona na sala de largos terraços.

- De jeito algum... – Yeshua sorriu feliz. – Só mudaram de nome, mais para si mesmos, não é mesmo?

Sênior sorriu em paz.

- Sem dúvida. Apenas um nome, para nomear um estado.

- Está difícil ver um fim para tudo isso – suspirou Azazel.

- Não, minha querida, não está – condoeu-se Emanoel. – Se você apenas pensar em batalhas, sim, nunca haverá um fim. É necessário dar um tempo para que experimentem, para que brinquem de se perder e de buscar. Apenas temos que ficar atentos, em cada momento, de fazer a luz na escuridão. Quando a consciência se sente satisfeita ela passa a enxergar e avança. Nesses primeiros momentos que vivemos temos que ser apenas muros de contensão enquanto as consciências experimentam suas garras. Então, chegará um ponto em que elas despertarão, e voltarão a subir.

- Mas outras desejarão descer... – suspirou Dangelo.

- Ah, claro que sim. Isso não é bonito? – alegrou-se Emanoel, sob o olhar risonho de Yeshua.

– Sabe, vocês são impartidos, como nós, e sei que veem. Apenas... Ah, meus queridos irmãos, vocês precisam descansar um pouco de toda essa responsabilidade que chamaram sobre si mesmos. Se refaçam, descansem, se aliviem dessa carga.

- Tentamos, mas...

- Eu sei Sênior – riu Yeshua. – Mas esse não é o espirito de vocês – riu novamente, compreensivo. - Essa é a experiência que buscam, que se dão. Mas, aprendam a relaxar. Haverá muitos ganhos nisso, vocês vão ver. E isso vale para você também, Nemaiel.

Sênior observou o arcanjo, e riu abertamente quando o viu balançar a cabeça, sorrindo pela reprimenda amorosa do outro.