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O PRISIONEIRO DA EL

Por um sonho destruo o meu mundo, desfiguro minha alma, aprisiono um outro espírito. Por um sonho de querer, desisto de ser.

O rei pareceu crescer enquanto trazia lentamente a espada para fora, no mesmo momento em que gritava, chamando os guardas, que irromperam pelas portas, a confusão em seus olhos.

Ante eles estavam o rei segurando a espada, e à sua frente Ganvras e o anjo recém-chegado, calmamente sentado na mesa, tomando um gole de hidromel.

Confusos viram o anjo se levantar e, ante os olhos dele, ficaram em silêncio, apenas observando, deixando para depois como se resolveriam com a ira do rei. Então, para alívio deles entraram outros guardas, juntamente com Gavenal e Tondo.

Antes que o rei pudesse esboçar qualquer reação o anjo avançou a mão direita, que se fechou sobre a cabeça dele, o que o deixou hirto e teso.

Depressa Ganvras ordenou que todos se mantivessem quietos, no que foi obedecido de pronto por todos, que não estavam entendendo o que acontecia ali.

Então viram a espada cair da mão do rei e o corpo dele ser percorrido por tremores, ainda que suaves.

Mas, o que mais os assustou foi verem como que uma névoa escura se denunciando como uma aura. E ela tremia e tentava se colocar fora das vistas de todos, voltando para dentro do rei. Mas algo a estava impedindo, e todos sabiam que era o que o anjo estava fazendo.

O grito ecoou longe e comprido, o que obrigou todos a taparem os ouvidos, com exceção do anjo e do próprio rei.

Como se tivesse ficado sem sustentação o rei desmontou no chão, enquanto a forma escura pulsava, fria e insensível à frente do anjo, para este se voltando completamente.

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Então, sob o olhar assustado de todos ela se adensou, e tomou forma. Não era um ser disforme que estava ali, mas um ser que brilhava suave em verde.

- Adanenai, NuvemAlta – Sênior reconheceu, flexionando o tronco, em cumprimento.

A muta, para espanto de todos, sondou a todos ali, a além, e pareceu pulsar satisfeita.

- Pradia, querido anjo – ela retribuiu.

Então, a um sinal de Sênior, Ganvras lhe devolveu a el, que ele estendeu para a muta, que ficou absorto, observando-a por algum tempo. Quando levantou os olhos havia satisfação.

- Enganam-se os que acham que os desencaminhados e deformados foram pela el criados. Ela apenas trouxe as sombras que embalavam para fora, para serem vistas – sorriu. – Desejam permanecer com ela? – perguntou, focando-se em Ganvras.

Ganvras examinou os que estavam ali, e deixou os ombros penderem.

- Ainda não estamos preparados para um poder assim, nobre muta.

- Que assim seja então - falou passando a mão aberta na direção da el, que simplesmente se desfez em uma luz verde e suave.

Com um sorriso pensativo a muta pulsou, fazendo menção de ir-se. Mas então parou e se voltou para Sênior.

- Eles ainda estão caminhando, e são muito crianças ainda – falou, se referindo aos homens. – Ah, Sênior, mas sei que viu neles o que eu vi. Cuide muito bem deles. Vale a pena todo esse cuidado. All lantun – cumprimentou, enquanto se tornava todo luz, que foi se desfazendo suavemente no ar.

- All dezana – responderam todos, para a última fagulha esverdeada que viajava pelo ar enquanto se apagava.

Sênior se despediu de Braba, que partiu sob a algazarra feliz do povoado, voltando-se para o rei e os três amigos.

- Uma jornada curta e intensa, desde que nos encontramos – sorriu.

- Sênior, sinto-me envergonhado por ter caído tão facilmente – falou o rei se dirigindo para ele, com o qual se afeiçoara bastante.

- Não se culpe, Danavar. Poucos, até mesmo dentre os anjos, resistiriam a uma muta. Mas, era NuvemAlta que estava aqui, na el, e está tudo bem. Paga-se para aprender, não é mesmo? Vocês tiveram o primeiro contato com uma muta, e sobreviveram – sorriu.

- Mas, se fosse uma muta escura, determinada a nos dominar...

- As mutas não desejam o poder pelo poder – falou. – Elas experimentam, elas examinam. Mantenham seus corações íntegros, e tudo estará bem. Akindará, meus amigos.

- Ah, meu amigo, vou me esforçar mais... Akindará, akindará... – sorriu em retribuição, vendo o anjo se elevar enquanto cumprimentava os três amigos e toda a aldeia.

Então, com um suspiro pensativo o rei o viu subir acima das copas dos jacarandás e angicos, logo sumindo na direção do sul.