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MAESTRA E A EL

Sinto esse silêncio em minha alma, e chamo isso de paz, a paz que se forma antes da tempestade que se aproxima de além das montanhas frias.

I

Sênior ficou parado no ar, sentindo a subida sutil da energia.

Devagar fechou os olhos e abriu os braços, se deixando banhar por tudo que havia, nessa e nas outras dimensões. Seu coração ficou um pouco pesado, sentindo que muitas das criaturas naquele pequeno planeta haviam aberto a mão de sentir tudo o que havia, tudo o que eram.

Então isolou a energia que subia e que parecia estudar, se esforçar em entender, apesar de haver uma frieza até mesmo cruel nesse estudar.

- Senti o seu julgamento, anjo – ouviu ao seu lado.

- Um reconhecimento – murmurou, sentindo uma leve pontada de dor. – Já fui tão frio assim, quando...

- Quando se vestiram de energia zangada e se chamaram tardischs – completou o ser, a voz impessoal e parecendo distante, como um deslizamento poderoso em alguma montanha distante.

- Sim... Não havia amor, então...

- Havia sim, mas numa escala diferente, encapsulada numa ignorância de urgência que só o tempo pode revestir. Mas era amor, sim. Estava nos procurando, anjo?

Sênior se virou para Maestra.

- Quem sabe? Estou curioso sobre o papel que o Trovão lhes deu com esses humanos.

- Ah, eles... São muito intrigantes as centelhas que aceitaram participar dessa experiência como humanos. São muito fortes, são muito...

- Sonhadoras?

- Sem dúvida, sem dúvida – falou, como se tivesse se interiorizado. - Mas também são muito inocentes. Até mesmo você, vocês ganedrais, se renderam a eles, não?

Sênior ficou quieto, se ouvindo.

- Eles são uma experiência muito radical, que até mesmo os demônios pensam muito se teriam a coragem de experimentar. Se esquecer de tudo, de todos os mundos e dimensões, de todos os poderes, apenas para descobrir o que é realmente o amor, para assim poder experimentá-lo como uma descoberta, como algo novo. E eles se acham tão sozinhos em seu esquecimento que é por demais... tocante. Sim, me afeiçoei a eles, a toda a vida que esse planeta elaborou com extremado carinho, tal como vocês...

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- Se engana, Sênior. Avaliamos, pesamos, empurramos e experimentamos. E não ficamos restritos apenas a este mundo e a esta dimensão. Mas, você está certo: aqui está muito mais interessante. É realmente uma experiência sem igual. E nós, anjos, somos os julgadores, de seu êxito ou se fracasso...

- As dez els que fizeram descer ao planeta fazem parte desta experiência?

- Sem dúvida que fazem, mas não por elas mesmas, mas pelo que forçam nesses novos seres. Elas são um instrumento, nem boas nem más. Elas apenas reagem e sussurram, e alteram se é alteração que se busca. Sei que está com uma delas, e isso é bom. Estude-a...

- Sim, a estou estudando. Ela veio de um espelhamento, e agora elas espelham o que trazem em si em outras criaturas. Experimentações...

- Bom...

- Vi que elas, particularmente, se dão melhor com os que estão mais adormecidos, como se estivessem usando parte do poder deles mesmos, porque por não se lembrarem de quem são e dos poderes que têm, elas podem usar desse poder sem restrição. E eles vão acreditar que o poder vem delas...

- Sim, as els são uma maravilhosa ferramenta – sorriu, se esfumaçando no ar e desaparecendo.

II

Sênior desceu em sua fortaleza de Paka Nuta. Alguns dos dragões que ali viviam espicharam seus pescoços e o observaram, e muitos desses logo se recolheram para as entranhas das montanhas.

Braba, que para ali se mudara há poucos dias, saltou no espaço e pousou suavemente ao seu lado, em silêncio compreensivo.

- Não deve se preocupar, pequenino – falou com suavidade. – Há um calor sobre este mundo, que vai fazer muitas coisas se alterarem. Mas esse fogo vem da própria alma do mundo, para fazer a vontade das sementes que tanto ama.

- Sei bem, Braba.

- Então não se preocupe – admoestou com carinho. – E é claro que vou com você – concordou, deitando-se e apoiando a imensa cabeça sobre as patas dianteiras cruzadas à frente do corpo, como gostava de fazer.

Sênior riu satisfeito.

- Não posso guardar segredo? Nem mesmo fazer uma surpresa?

- Sabe que às vezes eu deixo, mas hoje foi muito bom atrapalhar os seus planos. Quando quer ir?

- Temos alguns dias ainda. Eu quero examinar essa el. Ela causou muitos estragos nos homens do norte. Além disso, eu me encontrei com Maestra, e ela, de certa forma, confirmou o que tinha sentido: ela não altera, ela reflete e potencializa. Uma experiência...

- Tem tudo a ver com as mutas – sorriu se erguendo. – Quando estiver pronto me avise que iremos até esses homens. E tenha muito cuidado ao mexer com as coisas das mutas – advertiu se atirando para o alto.

Sênior entrou no escritório para dentro da sacada e retirou de uma funda gaveta a el. Em silêncio ficou observando-a. então, com ela em seu poder, foi para a sacada, onde se sentou numa das poltronas, examinando-a. o sol a atingiu, e suas cores cresceram, e eram lindas, como maravilhosa ela se mostrou. Mas viu manchas em seu interior, e imaginou até que profundidade estaria sendo avaliado também.

Quando Lúcifer a forçara contra sua cabeça sentiu todos os passos dela, primeiro tentando faze-lo espelhar o que estava nela. Mas, vendo que seria inútil, o examinou e se espelhou nele, o que a fez se iluminar. Mas alguma coisa de sombras ficara, como uma reserva, como uma lembrança. Devagar a colocou como um bracelete, e viu que lentamente ela se ajustou ao seu pulso. Sentiu a energia correndo, vibrante e luminosa, e mais energia de luz enviou para ela. Uma pequena quantidade, para que ela não se desfizesse, e viu que agora tudo estava bem. Então a tirou e a deixou de lado.

- Agora tudo vai estar bem. Ao menos por algum tempo – sorriu, se decidindo a ir ter com o rei no dia seguinte.