Pensei em me rebelar e rejeitar o que o destino punha ao meu alcance. Mas, olhando como estava o mundo, vi que teria que aceitar.
O grupo avançado de tardischs desceu além dos muros da colônia arcturiana estabelecida pelo Veleiro, chamada de Vagantes. Aquela era a maior colônia instalada no planeta e, agora, a única. Ela havia começado, como todas outras, como uma colônia mineradora, mas, também tal como as outras que vieram antes, quando os nascimentos já representavam uma grande percentagem de reposição da população os colonos passaram a se ocupar de vasta gama de empreendimentos, chegando mesmo ao ponto de exportar produtos de alta tecnologia, reconhecidos por toda Onáriah.
Após tomarem um transportador, porque era proibido acessar a cidade pelo ar, a passagem pelos portões de controle foi rápida, talvez porque fossem muito conhecidos por lá, e muito respeitados também.
Sênior inspirou lentamente o ar da cidade. Sempre se impressionava pelos cheiros das cidades e planetas, todos sempre muito únicos e peculiares. Essa cidade lhe lembrava algo como uma plantação de laranjas.
Rapidamente os cinco tardischs foram levados à presença do Satra, um cargo equiparado a de um governador de província, que os aguardava muito ansioso.
Quando entraram no vasto salão encontraram-no reunido com seus conselheiros, e ele se mostrava nervoso.
Eles eram pequenos, com altura em torno de 2,15 metros. O corpo era extremamente delgado, e a força deles era impressionante, podendo o mais fraco deles levantar várias centenas de quilos naquela gravidade. As cabeças eram um pouco triangulares, o queixo fino e as maçãs do rosto pouco salientes. Os olhos eram muito grandes, protegidos por cílios que haviam desenvolvido especialmente para aquela colônia. No conjunto, até que eram harmoniosos, Sênior avaliou, percebendo que haviam feito outras pequenas alterações genéticas em seus corpos, como unhas mais grossas nos pés e nas mãos, bem como uma coloração um pouco mais forte na pele.
- Ah, que bom. Aqui estão vocês... Preciso muito da ajuda de vocês. Já pedi antes, mas a situação agora se tornou mais grave e urgente – lamuriou-se, apontando para os visitantes as cinco cadeiras disponíveis na mesa de reuniões.
- Argon, já conversamos longamente sobre isso – Sênior falou após os tardischs terem se acomodado na mesa, imprimindo na voz um tom calmo e gentil. – Não somos esse tipo de guerreiros. Há outros por aí, que podem providenciar para vocês a segurança que desejam.
- Mas os que há agora são só apenas mercenários, e muitos deles estão infiltrados por espiões dos escuros. Se souberem que vocês estão por aqui, eu tenho certeza de que não seremos incomodados.
- Ou podem vir contra vocês os mais ferozes – murmurou Castiel, os olhos avaliadores no Satra.
- O que podemos fazer por vocês é o mesmo que fazemos por todos os que nos procuram: podemos dar segurança para que saiam do planeta, para que se distanciem das zonas de combate. Se desejarem permanecer será por conta e risco de vocês – Amadiel, apesar de todo o cuidado com a entonação que usava, foi bem taxativo, e o Satra entendeu. Olhando desamparado para além da grande janela envidraçada do palácio suspirou demorado, a mente procurando desesperadamente alguma saída.
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Então olhou para cada um dos conselheiros, e viu que até mesmo eles não viam como poderiam continuar a manter sua cidade.
- Está bem, tínhamos esperança, mas sabíamos que tudo iria cair para esse lado – desistiu por fim.
- A cidade são as pessoas... Cabem a vocês protege-las, o que não poderão fazer se permanecerem aqui – falou Dangelo.
- Vocês estão certos. Quanto tempo nos dão?
- Os escuros estão a pouca distância daqui, e eles estão bem armados. Não seria bom partir sob ataque – Sênior orientou. – Dois de seus dias, é o que podemos prometer.
- Precisamos de mais tempo. Temos muita coisa para arrumar e...
- Destruam o que deixarem para trás. Tudo o que construíram, tudo em que baseiam suas tecnologias está com as pessoas.
O Satra olhou longamente para Sênior, Avaliando a seriedade com que ele tratava daquele assunto.
> Vocês são a última colônia galáctica no chão desse planeta, e os escuros estão determinados a destruí-los. Vocês tentaram ajudar as outras quando elas foram atacadas, e viu em primeira mão a violência com que caíram sobre eles. Não há acordo, não há clemência, não há o mínimo possível de piedade da parte deles. Eles prometem tudo isso só até o momento em que os tenha subjugado, quando então... Bem, vocês sabem bem o que acontece depois. O tempo para pensar e falar se foi...
Sênior respirou aliviado ao ver a mudança nos olhos do governante. Em silêncio o viu sinalizar para seu comandante, e assim que ele saiu do salão gritos e chamados altos passaram a ser ouvidos, enquanto sons de coisas sendo arrumadas começou timidamente a ecoar por toda a cidade.
> Castiel, por favor, vá com os outros e informe ao restante de nós que ficaremos aqui, acompanhando-os até chegarem ao novo planeta. Enquanto isso, monte sistemas de proteção para toda a área da colônia.
- Está bem, Sênior. Vamos? – incitou, chamando os outros. Então, sem se incomodar com a proibição de voos na cidade todos eles desfraldaram suas asas e saltaram das altas sacadas. O Satra os viu voando, e apenas sorriu.
- É uma pena, não é? – o Satra lamuriou, observando a cidade da sacada, em companhia de Sênior. O anjo encheu lentamente o peito e deixou o ar ir embora ainda mais lentamente.
- Sim!!! Vocês a fizeram muito bela. As flores e os cuidados que tiveram a tornaram esplêndida. Mas, como foram vocês que a fizeram, poderão faze-la novamente – falou, os olhos passando pelas inúmeras pontes em arco que ziguezagueavam, sempre raspando suavemente em alguma praça esmeradamente cuidada. – Já escolheram o planeta para a colônia?
- Muitos irão voltar para Arcturos. Lógico que os corpos terão que ser adaptados novamente, mas eles aceitam isso. Quanto aos outros decidiram emigrar para a lua Zenofonte.
- Zenofonte... Uma lua no sistema Arcturus?
- Sim, é uma das luas de Pérses, o quinto planeta no sistema. Acho que todos se cansaram de viver com receio dos escuros.
- A guerra logo chegará por lá...
- Mas, ao menos lá não estaremos sozinhos. De lá poderemos enfrentar os demônios. Agradeço demais a ajuda de vocês, meus amigos. Não sabíamos se viriam, e nossos corações estavam pequenos. Arcturus só poderia enviar esquadrões para nos ajudar perto de quatro revoluções daqui. Quando chegassem, nada mais teria...
- Tudo vai dar certo, meu amigo. Tudo vai dar certo... – se despediu, abrindo suas grandes asas.
- Agora vai dar certo sim – o Satra sorriu pensativo.
- Assim que estiverem prontos, os escoltaremos.
- Obrigado – agradeceu ao anjo que flutuava à sua frente. - Vamos tentar ser mais rápidos. Acho que poderemos ir embora amanhã – prometeu, vendo duas grandes cargueiras se posicionando no amplo espaço-porto de pedras gigantescas, que refletiam as luzes da cidade e das estrelas. Então suspirou, ao ver o grande anjo se afastando, os modos vigilantes e em guarda, sondando as distâncias.