A criação, em muitos casos, também é um ato de destruição.
Sênior não podia acreditar no que via. As auras estavam imundas, e havia aquela escuridão que a tudo toldava.
O laboratório era todo branco e encerado, o que em nada disfarçava a maldade que ali acontecia.
E, nas bancadas metodicamente higienizadas havia muitos símios, e seres humanoides desenvolvidos das outras intervenções dos galácticos na era anterior. Mas, se antes o desenvolvimento de outras espécies de homens for a respeitoso, na maioria dos casos, isso agora parecia ser coisa do passado.
Esses pareciam sedados, e muitos estavam retalhados. Havia uma indiferença terrível com a dor que eles pudessem estar sentindo.
Sênior sondou os médicos e cientistas pelas outras dimensões, vendo que eles estavam frios, sem qualquer emoção que lhes pusesse um freio.
Quando irrompeu pelo laboratório, e aqueles seres se voltaram para ele, sentiu como se todo o seu mundo tivesse sido empurrado e chacoalhado com extrema violência.
Enojado sacou a espada e, numa velocidade terrível, deu cabo de todos os que estavam ali dentro, inclusive das vítimas, explodindo e fazendo virar pó até a mínima pedra que ali tentara ser algo.
Então, chocado e abandonado se deixou quieto.
Por muitos e muitos anos ficou por ali, e acabou sendo conhecido como "o louco", pois que nada falava quando vinham ao seu encontro, e quando o tentavam forçar a alguma coisa, matava com extrema frieza.
O local foi isolado, e ninguém dali se aproximou mais, a não ser alguns dragões que ali desciam, e parecia que eram recebidos em silêncio, como em silêncio partiam. Apenas companhia, cuspiam para o lado, receosos de que o louco os visse ou ouvisse.
Foi num dos últimos dias de inverno, quando tudo se preparava para a primavera, que a nave surgiu sobre o planeta.
Era uma nave enorme brilhando a aço escovado, tão magnífica quanto uma nau capitânia poderia ser.
Em silêncio muitos anjos e dranians entraram nela a convite e relataram a dor que morava no planeta, como em silêncio muitos outros viram uma pequena nave descer, perfurando com suavidade as nuvens brancas e gordas, como se estivesse pensando em como deveria proceder.
Sênior viu a nave descer. Com um estalido e um chiado viu uma pequena porta e uma escada surgirem.
Tirou os olhos da nave, pousando no grande dragão negro que estava deitado na grama ao seu lado.
Com indiferença viu o dragão suspirar, erguendo-se em suas patas dianteiras e sentando-se, o pescoço elevado, a majestade em pessoa.
Com um suspiro colocou seus olhos numa nuvem pesada e cinza que se dirigia contra uma montanha ao norte.
Derfla se aproximou e se sentou, os olhos também presos na nuvem que corria no céu.
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- Eu sei o que viu, eu sei o que descobriu, meu amigo – Derfla murmurou, a face triste e pensativa.
- Eu ainda não sei o que vi, após todos esses anos – Sênior falou, a voz distante e rouca.
- Tentando se decidir sobre o que vai fazer? Eles não vão querer abandonar a experiência, isso é bem claro, e com sua resistência eles vão insistir ainda mais. Essas criaturas causam um fascínio hipnótico não só neles, como em todos os galácticos, você sabe...
— Sei!
- E vai ficar matando-os, toda vez que eles nascem?
- Faria isso sempre, se mostrasse que iria funcionar. Mas isso, dentre todas as alternativas que já tentei, também não está adiantando. Tentei muitas abordagens diferentes, mas...
- Mas nenhuma delas irá funcionar. E você sabe porque não vai.
- Sim, eu sei, Derfla. Sinceramente, não sei o que fazer, pela primeira vez.
- Há muitas raças galácticas aqui no planeta, Sênior. E muitas delas estão fazendo experiências. Sei que sabe, como sei que atacou muitos dos laboratórios deles. Os pleiadianos e os orionos representaram contra você – sorriu. – Parece que muitos estão curiosos demais com esses novos seres, e querem ver até onde eles podem ir.
- Eles vão aprender...
- Então, porque nega isso aos seus? Você é o tardisch, lembra? E eles são os veladores. Eles precisam de seu apoio, de sua orientação. Você precisa fazer o seu papel.
- Continuar a matá-los, impedindo-os de caírem tanto? – sorriu descrente num terrível amargor.
- Talvez, ao invés da espada esse sarcasmo faça mais efeito neles – sorriu. – A espada só está fazendo-os mais certos na queda.
Sênior virou-se para ele, e pela primeira vez em muitos anos sorriu.
Derfla notou a diferença que acontecia por todo o vale que Sênior mantivera nas sombras por muitos anos.
- Eles caíram, como você. Sua pequena família o puxou para baixo, e você precisa reagir e puxá-la para cima, meu amigo.
Sênior fechou os olhos e os reviu no laboratório, em suas terríveis experiências. Lá estavam os doze ganedrais, todos unidos como uma equipe, e eles estavam escuros e apodrecidos, indiferentes e duros às dores e agonias de suas vítimas.
- É difícil...
- Você, meu amigo, os ajudou, um a um quando eles desempenharam o papel de vítimas, sussurrando esperança, impedindo que mergulhassem nas sombras. Por que agora os quer desaparecidos nas trevas, quando buscam o outro lado experiência?
Sênior o observou com cuidado.
> Melhor ser ferido que ferir... Às vezes isso é bom, outras vezes não. Você precisa se resgatar para poder resgatá-los, no tempo deles. As vítimas que eles feriram desejaram essa experiência, e eles estavam disponíveis.
Sênior suspirou profundamente.
- Que tal um tempo? A “estrela de prata” está em órbita do planeta, e muitos estão doidos para te conhecerem. Venha comigo... Enquanto estou por aqui – ajuntou.
- Ora, e por que isso? – estranhou.
- A quarentena, Sênior. Um outro foi designado para assumir no planeta. O nome dele é Safiel, e sei que vocês vão se dar muito bem.
- Tenho certeza de que sim... Já ouvi falar muito sobre ele, principalmente nas guerras de Lira.
- Sim, ele é um guerreiro de enorme nobreza e poder, e você e seus irmãos estarão bem. Bem, vamos?
Sênior inspirou demoradamente, os olhos pegos nos olhos de Braba.
Uma lágrima escorregou pela face, os olhos abandonados na montanha e na nuvem, a dor enchendo seu coração pelos irmãos que tanto amava, perdidos na tenebrosa escuridão.
Sentiu por todo seu ser uma aragem fria e refrescante, e sorriu agradecido. Então se levantou e parou na frente do dragão. Braba baixou a enorme cabeça e apoiou com cuidado no ombro do anjo. Por longo tempo ficaram assim, abraçados.
O dragão fungou bem devagar, ao sentir o choro do amigo.
— Vá! – incentivou o dragão apoiando sua enorme cabeça contra a testa de Sênior. Por um tempo ficaram assim, até que lentamente se separaram. – Deixe cada um experimentar o que precisa, não lhes negue isso. Você também, meu amigo, cometeu muitos erros, e sabe o quanto aprendeu com eles.
Sênior sorriu agradecido.
- Está certo... Espero ser para eles a orientação e o apoio que são para mim - sussurrou.
- Você dará conta disso – lhe enviou o dragão com os pensamentos suaves e afetuosos.
Com um sinal Sênior fez uma vênia para o dragão. Então voltou-se para Derfla, concordando em ir até a capitânia e se deixar um tempo ali.
Derfla cumprimentou Braba com carinho e subiu em sua pequena nave, enquanto o anjo abria seus dois pares de asas, partindo com um sorriso pensativo no rosto.