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Após toda a experiência com o grimório no aspecto umbral na madrugada, Graco e Eztli simplesmente foram dormir em silêncio sem falar um com o outro.

Mas não por serem bravos um com o outro, era apenas a digestão da realidade.

A verdade sobre o quão vil era este poder foi revelado a eles, e isso foi apenas as primeiras páginas do macabro livreto sem nome ou títulos.

A percepção de que teriam que fazer estas atrocidades viscerais e hediondas para ficarem mais fortes, afetou os dois de diferentes formas.

Eztli, devido aos métodos serem iguais o que ela repudiava em seu povo. Canibalismo, desmembramentos, comer carne crua. Isso era além de nojento para ela, era doentio em seu âmago.

Ela tem medo do que os dois podem se tornar com este poder maligno, estes eram limites que os dois não passaram, e nem queriam passar.

A influência da entidade em suas mentes foi erradicada tremendamente, impedindo-a de trazer as memórias mais tristes e raivosas para gerar um ódio irracional, corrompê-los até virarem marionetes. Porém a criatura não vai ficar deitada de braços cruzados.

Em seus momentos de fragilidade emocional, ou em lutas fatais, ela surgirá novamente para os manipular. Incitando-os com palavras calculadas e sedutoras. Minando a razão e auto preservação.

Graco, por outro lado, pensa como ele e Eztli vão conseguir se camuflar nesta sociedade.

Neste mundo existe magia, algum feitiço pode desmascarar sua ocultação, ele se preocupa se terá a capacidade de ser um camaleão e ainda não prejudicar sua família.

A paranoia o atinge intensamente. Sua família pode o repudiar e odiar, ou devido a seu poder eles podem ser arrastados para tragédias.

Ele ganha a compreensão que terá que mentir e ser dissimulado com eles.

Graco não queria fazer isso, mas engole este fato rapidamente, pois é o preço de possuir este poder proibido para os proteger e conseguir ser o mais letal contra seus futuros inimigos.

Se é crime de guerra, é efetivo. Se é proibido e amoral, é poderoso.

Se é caçado e causa terror, é o mais forte. Se pode ameaçar o sistema de poder da sociedade, é o que ele sempre precisou e agora obteve.

Talvez sua vida não teria nenhum problema se ele não tivesse se tornado um Reparador.

Contudo, Graco trabalha com o pessimismo, além que ele sabe que a política da nobreza irá trazer óbices que eles possivelmente nem queiram participar.

Sua família é de baixa nobreza, eles são Barões, isso ele tem certeza.

Ele nem sabe a história da fusão dos Lhublu com os Drumoxan, mas indícios nestes quase 6 anos nesta grande casa, mostrou que a sua linhagem era recente.

Como a sensação de luto de Globrilov, ele sempre aparenta estar pensando no passado.

Seu pai Vermuthi aproveitando todo o amor de sua família com muita alegria e diversão, suas mães com muito carinho e cuidado, Kalinie conversando como se estivesse arrependida de nunca feito isso com quem gostava, Moíah quieto mas sentindo a felicidade do ambiente enquanto desfruta do ambiente acolhedor que nunca teve.

Tudo é suposição de Graco junto com Eztli, e mesmo que ele esteja equivocado nessas hipóteses, é o suficiente para ele ser desconfiado.

Sem pinturas de descendentes, ou ninguém nunca fala sobre o passado. E ele sabe. quem não gosta de falar sobre o passado, é pois ele é triste e trágico.

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Mesmo que ele perguntasse, e ele já fez isso, os adultos da casa iriam apenas evitar o assunto mudando a conversa e tratando-o como uma criança ingênua e inocente.

Os dois demoraram para dormir, as preocupações e medo atormentaram suas mentes. Porém, foi neste momento, que seu laço da alma ferveu em harmonia na coexistência.

Dormiram com as consciências abraçadas, compartilhando suas aflições e tristeza, fortalecendo ainda mais seu laço sentimental. Eles se ajudam sendo a muleta e o calmante psicológico um do outro.

Graco é a muralha de defesa e o que segura o punhal nesta coabitação, Eztli sua bussola moral e professora do vazio. Os dois se completam, são lados da mesma moeda, estão no mesmo caminho de ter uma vida que vale a pena viver.

A relação deles não é somente a amizade e companheirismo. Eles estão em uma nação, sua família, e eles são o exército deste país, e vão fazer de tudo para proteger sua pátria.

Esta amizade pode se tornar dependência emocional, se já não virou. No entanto, isso é a querosene jogada na chama, apenas intensifica a utilidade deste fogo implacável, criando labaredas ácidas e selvagens.

Quando caíram no sono, dormiram como pedras. Os pesadelos de Graco se tornaram raros depois de Eztli ter tomado o controle parcial do Orbe.

A fumaça abissal ainda adentra a alma dos dois quando estão no Aspecto Umbral, mas ela não se alastra e os corrompe rapidamente. O processo de criar raízes em suas almas se tornou lento e sedado.

O orbe foi despregado e isolado de suas almas, se tornou um objeto artefato que é possível ativar e desativar sem gerar sequelas permanentes, pois as raízes traiçoeiras da Entidade em sua alma se desintegram em um vapor doentio e rancoroso no momento em que eles saem do Aspecto Umbral.

Sua influência se estende ao físico de Graco, ou seja, o Núcleo e ao Espelho Esférico. Porém, ao sair do Aspecto Umbral, a aparência externa se desmancha em fumaça cinza escura.

Contudo, no interior do corpo de Graco, o processo da inclinação da influência da Entidade é demorado. Graco descobriu isso, pois quando foi dormir, ele ainda não tinha recuperado a capacidade de inspirar e expirar.

Só quando acordou perto do almoço, ele voltou ao normal.

'Bom dia' Eztli diz

'Bom dia... Estou normal novamente. E parece que aumentou o tempo que podemos ficar no Aspecto Umbral, foi quanto tempo ontem a noite? '. Graco transmite sua fala taciturno

'Evoluímos rápido, a metamorfose se estabilizou com mais naturalidade após o ritual. Pensamos que foi quase 6 minutos ontem a noite, mas creio que foi mais pensando agora. Talvez 11 minutos.'

'Então temos quase 11 minutos por dia para estudar aquele livro bizarro.' Graco comenta

'O treinamento da respiração da Energia Mundial não está dando mais efeito. Descobrimos que o poder do Orbe só se desenvolve com a Energia Abjeta, e não temos recursos ou capacidade de ter ela ... então'

'Então nos resta o aprimoramento do corpo com exercícios físicos e aprender magia.' Graco completa o raciocínio de Eztli enquanto suspira.

Levantando-se da cama, Graco vai com seu pijama azul escuro mesmo para o andar de baixo. Escusado será dizer que nem sabe o horário que acordou.

Saindo de seu quarto minimalista, Graco anda serenamente pelo corredor tomado pela luz do sol.

Descendo os degraus, ele dá de cara com todos almoçando na grande mesa polida. O barulho dos talheres e das conversas enchem o local.

''A raposinha espertinha acordou da hibernação.''

Seu pai declara com assobios, fazendo todos olharem para sua chegada.

''Bom dia, desculpe pelo atraso.'' Graco responde quase instintivamente.

''Só aceito desculpas se você comer ao lado da mamãe hoje, e é fim de semana, todos outros dias você sentou ao lado de seu irmãos.'' Kletka diz em um tom fingindo beicinho ciumento.

''Tá bom, mãe.'' Graco aceita a proposta sorrindo levemente.

''Mãe tirou o mano Ac do meu lado, papai.'' Kibi fala com ciúmes.

''Logo hoje que iremos competir quem come mais a salada amarga.'' Rualovu brinca.

''Não brinquem na mesa, crianças. Se não seu pai vai se engasgar com a comida de tanto rir.''

Kalinie aconselha serenamente enquanto segura risadinhas, Moíah dá seu sorriso jovial e taciturno devido ao aviso de sua esposa.

Antes que Vermuthi pudesse argumentar, Yuliya diz rapidamente.

''Tia Kae tem razão, crianças. Ela criou seu pai, ela sabe das façanhas de seu cômico histórico''

''Se o Vermuthi começar a tossir freneticamente, me ajude Moíah.'' Globrilov avisa antecipadamente

''Naturalmente e sempre, Glob.'' Moíah concorda acenando alegremente.

Isso gera risadas generalizadas na mesa, Vermuthi ri alto com o copo de vinho na mão.

São nobres, mas não se importam com a cortesia nobre em seu próprio lar, a liberdade de rir sem se importar com a educação é essencial entre eles.

A conversação alegre continua enquanto Graco vai se sentar no centro das cadeiras laterais, ao lado direito de Kletka e esquerdo de Moíah.

As crianças aleatoriamente estão sentadas na lateral virada para as janelas que dão para o jardim. Existe 5 cadeiras em cada lado da mesa retangular e uma em cada extremidade.

A mesa é feita de uma madeira negra polida, e as cadeiras tem um estofado roxo escuro nos assentos.

Vermuthi se senta na ponta esquerda da mesa retangular, com Kalinie e Moíah sentados nas cadeiras laterais à sua esquerda.

Globrilov se senta na ponta direita, com Kletka e Yuliya sentadas nas cadeiras laterais à sua direita.

Rualovu, agora já sendo uma criança de 9 anos com uma altura acima da média, aparenta a inicialização dos genes para um físico alto de Vermuthi. Seu corte de franja até os olhos ainda deixa um semblante divertido com seu sorriso travesso.

Seu rosto infantil já dá traços de receber o nariz reto, a boca e queixo fortes, as sobrancelhas grossas e a mandíbula larga de seu pai.

Kibi herdou a aparência requintada de Yuliya, apesar de seu cabelo roxo escuro profundo com pontas cinzas prateadas é discrepante com suas íris cinza claro, sua introversão falante e fisionomia do rosto a deixa igual as mães gêmeas.

Seu nariz pontudinho e maçãs rosadas das bochechas a deixam com um aspecto fofo, sobrancelhas e bocas finas, rosto oval, são os outros fatos que comprova inegavelmente que é filha de seus pais.

Graco come sem falar muito, ele sempre acaba caindo na sensação do sabor prazeroso da culinária de Globrilov e Kalinie.

As batatas no ponto, a carne suculenta, os grãos e legumes da sopa requintada, os temperos e sal na qualidade certa, as frutas doces.

Tudo vai caindo em seu estômago vazio e expectante, Graco aprecia tudo lentamente e de olhos fechados, mastigando perder até o sabor e engolindo com prazer em sua expressão.

Ele já tinha se acostumado com a comida sem graça do exército, e ele nem tinha mais este tipo de prazer por anos.

Foi somente quando ele começou a comer aos seus 2 anos de idade que voltou este prazer.

Esta explosão de sabores era inebriante e incomum para ele, seu prazer em comer voltou.

Sua família foi realmente uma terapia, ele sabe disso e concorda. Isso somente faz ele agradecer silenciosamente e gostar ainda mais deles.