Eztli, mesmo com sua bondade e mentalidade de tentar tomar escolhas mais benevolentes e tolerantes, é involuntariamente e sorrateiramente impregnada com a filosofia cáustica de Graco.
Progressivamente e lentamente ela se torna menos intragável e intolerante com a ideologia de abraçar esta loucura suicida caso tudo se afunde.
Se cair no abismo novamente não for uma questão de se, mas de quando, ela com certeza seguirá Graco até às últimas consequências.
Ela não passou pelas desgraças desumanas de Graco, sua vida foi somente rodeada por uma escuridão na solitária, mas isso não a impediu de ser misantrópica devido à reclusão forçada.
Ela tem uma aversão funcional em sua vida, Graco, porém tem gravado em sua psique uma antropofobia que escorre vontade genocida. Ele é neste momento, naturalmente, antissocial e amoral.
Sua personalidade e mentalidade se adaptaram ao ambiente implacável que viveu, como uma forma de autopreservação subconsciente de seu psicológico, ele foi moldado inconscientemente em busca de uma escassa estabilidade emocional.
Graco não tem sonhos bons e normais ou um sono tranquilo e prazeroso, e isso entristece pesadamente Eztli.
Graco saiu do passado, mas o caminho que trilhou foi em um área movediça que o afundou em um limbo escuro.
Muitas vezes após adquirir o poder da entidade, Graco acordava chorando e gritando desesperado, se debatendo e urinando em si mesmo, e Eztli rapidamente possuía seu corpo devido a fraqueza de sua alma no sono para parar isso, e colocando a alma dele em um manicômio silencioso até acordar.
Ela atualmente tem a capacidade de dormir, mas se mantém semiconsciente por ele.
Eztli sentia em todos os pesadelos de Graco, o terror e horror que viveu durante seus quase 30 anos de vida. A intensidade do ódio coexistindo com o vazio apático de Loc, era um titã emocional quebrado.
Em momentos de ócio de sua vida passada como Loc Wang, ele era atropelado por sentimentos melancólicos sobre o que perdeu e de que não terá outra vez, como se tornou um pária e terá que aguentar este tipo de vida miserável.
O deixava em frangalhos, no entanto, a culpa e remorso, ou pena e empatia, para os que matou, não ocorreu faíscas disso em seus pensamentos.
Inicialmente, foi o contrário, ele era medroso e aterrorizado pelas atrocidades que viu e fez.
Quando ele foi jogado na guerra no fim de sua adolescência, ele inicialmente foi auxiliar em centros médicos para civis e soldados.
Ele foi assaltado por pesadelos dos cadáveres que viu, das amputações que fez.
Desde aleijados à queimaduras de terceiro grau, ele foi imbuído na sensação que no futuro, este também seria seu destino, se tornar um deficiente deformado pelo resto da vida, ou morto em uma guerra de ideologias hipócritas.
E como se não fosse o suficiente para um garoto de 17 anos, quando as buchas de canhão com glória limítrofe impregnada em seus raciocínios foi exterminada, um novo lote precisava ser reabastecido.
Consequentemente, ele foi jogado em meio ao caos de uma guerra de guerrilha traiçoeira.
A realidade foi sarcástica e irônica, posteriormente esfregando ferozmente em seu rosto que tudo iria piorar.
A entidade abissal iria vir como o mensageiro, e iria deduzir racionalmente e em partes em seus ouvidos como era mais confortável, mais sensato e seria melhor se ele apenas se suicidasse.
Enfim, quando chegou como carne nova entre os recrutas, e já sem ver seus pais por meses, Loc foi definhando lentamente e sem marcha ré.
A realidade foi o temperando e o refinando para ele desenvolver um pequeno botão em seu intelecto, um que, quando pressionado e ligado, fazia surgir uma máscara ácida de um apatia patológica.
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A indiferença foi se tornando crônica, afetando todos os âmbitos de sua vida. O paladar foi enfraquecendo até o prazer de comer se tornar um estímulo falho, músicas, aromas bons e a beleza do mundo se tornaram estéril para ele.
Sua biologia buscando o coito ou relacionamentos foi deturpada e mutilada de seus pensamentos até ser totalmente cortada e cauterizada após ver tantos defuntos em sua adolescência, o desejo primitivo de copular se tornou repulsivo.
Loc havia se tornado um assexuado, contudo, isso não impediu dele sofrer avanços.
A guerra gerou miséria, isso criou pobreza e fome, originou desesperança e desespero, e como a mentalidade transparece nas ações, prostituição generalizada e trabalhos análogos à escravidão brotaram na República do Vietnã.
E isso apenas o fez sentir uma repugnância avassaladora. As oportunidades de tentações mundanas bateram a chutes em sua porta, apenas para encontrar uma casa vazia e decrépita.
Pessoas que ele acreditava serem as suas companheiras, amigos e aliados no exército do Vietnã do Sul, o traíram ou simplesmente foram mortas a poucos metros do seu rosto.
A amizade é efêmera como qualquer coisa, ligações e laços verdadeiros eram raros de se ter, e ainda mais difícil de se manter intacto.
Entretanto, a sua família era um mundo ilusório na periferia de sua mente. Os únicos dois que o apoiaram, o amaram e o protegem, e Loc Wang usava isso como a gasolina que o movia, era as labaredas do calor da vida que ainda vivia em seu peito.
A saudade de os ver novamente, de não chorar mais sozinho, de ser consolado e ter afeto, cresceu nos pensamentos de Loc como um colosso adormecido.
Meses em conflitos o transformaram em apenas um dissociativo clone impiedoso e ignóbil beirando o colapso em comparação com seu eu bondoso e alegre de antes.
Loc Wang não sabia como reagir quando ver seus pais novamente, o mais conveniente seria usar somente o oposto da máscara viciosa que entrou em simbiose frequentemente, fazer um ordinário teatro das tesouras.
Ele tinha medo da decepção e rejeição das únicas pessoas que ele se importava no mundo, isso o atormentou por meses.
No entanto, as boas expectativas conseguiam vencer em migalhas na luta contra a realidade implacável que o perseguia como uma assombração maligna e sádica, ele era o brinquedinho dela.
A panaceia que acreditou e a anestesia vital que cultivou que eram seus pais, o fez desenvolver uma fé inabalável para continuar lutando para sobreviver, pois ainda tinha algo que valia a pena continuar existindo.
Seus pais eram o deus que iluminava o abismo de Loc, apesar de todas suas aflições.
Contudo, ele cultivou com fé sentimentos bondosos em meio a uma terra podre, apenas para um balde de uma congelante água imunda e poluída com todas as destilações vis da humanidade ser jogado com força em sua cara, puxando-o da ilusão benéfica que entrou.
Ter chegado poucos minutos após o local em que seus pais moravam ser bombardeado, fez cair uma frieza terrível em seu ser.
Deixando-o frígido e paralisado por alguns segundos e incrédulo enquanto nega a realidade por algumas respirações.
Toda essa negação foi incinerada por um ódio borbulhante em seu âmago, derretendo esta frieza que o deixou inativo em lágrimas ardentes.
Este foi o momento mais honesto e genuíno na vida de Loc, chorou como nunca antes enquanto carregava o mais maciço dos sentimentos, o luto.
Neste momento nasceu uma combustão espontânea que se ergueu sobre a medula da alma de Loc segundos após ele saber que seus pais foram queimados vivos até morrerem.
O combustível que o fazia ainda viver foi alterado.
Ódio e rancor se tornaram um carvão molhado em querosene e álcool que alimentava, impulsionava e agigantou a combustão espontânea destrutiva que invadiu a existência de Loc, pulverizando e ferindo a si mesmo até ele virar cinzas no futuro.
O colosso adormecido foi acordado, Loc fez massacres e chacinas.
A raiva o deixou cego na escuridão do abismo que ele emergiu, vagou desoladamente por uma vasto terreno vazio, porém com perseverança sanguinária, Loc ficou sedento por destruição generalizada, aprofundando-se na mais crua das insanidades.
Obliterando muitas vidas, Loc tinha se acostumado a tempos com a violência vil e carnificinas, mas passou a querer e esperar elas depois deste evento.
Pois era o nutriente e a vitamina do incêndio corrosivo da atroz pira em sua alma, e ele ficou compulsivamente viciado nela, era agonizantemente obsessivo.
Ele normalizou tudo isso, se tornou um dogma comum à ele.
De certa forma ele vivia na lucidez no triturador e moedor de carne na realidade torturante, todavia sua perspectiva foi tampada por densas trevas que deixou indolor a sua auto mutilação.
Era um lúcido que filtrou tudo além do mórbido, Loc havia se tornado extremamente inescrupuloso. Ele era puro, pura maldade hedionda com seus inimigos.
Auto cegou-se, era imperceptível, surdo aos gritos e ignorante para com as tragédias que cometeu.
Loc residia em uma bolha tampada por uma caixa coberta por uma cortina no interior de um breu que orbitava somente caos e rodopiava uma espiral de calamidades brutais e horrendas, tudo mergulhado em sua cólera de ódio.
A vingança havia se tornado uma espécie de religião ou justiça selvagem e primitiva para Loc, era essencial para ele. Equivocado seria os que acreditavam que ele não era um fanático fervoroso desta ímpia doutrina, pois era a crença e lei de Loc Wang.
Escusado será dizer que ele era simultaneamente os três poderes desta democracia mordaz de sua violenta filosofia.
Ele era o advogado e promotor que argumentava para acordos entre a tortura psicológica ou física, não por sadismo, apenas pela imaculada penitência que seus opositores mereciam.
Loc não tinha redenção, e reconhecia isso, só resta coexistir com esta miséria. Loc compreendia que era uma escória da corja mais torpe, possivelmente o seu sofrimento não era suficientemente plausível para ele causar tanta desgraça.
Porém, e daí? Foda-se, seu fatalismo não era nobre nem honroso, ele não tinha orgulho e nem preferiria ser assim, contudo sua razão e porquê não era sujado por ganância e promiscuidade.
E isso era menos sujo e asqueroso para ele, pois foi esta guerra foi iniciada devido a seres humanos que detinham tal avareza desprezível e fútil.
Ele não tinha nojo de si mesmo, mas sabia que era um maldito patético.
Apesar disso, se forçar a nadar contra a correnteza pútrida da realidade era inútil, ele já estava muito longe nas águas negras da imundície, era sua nova moradia e é neste local o centro do caos.
É neste animalesco ecossistema carniceiro e desumano que ele quer e prefere habitar, porque pode se vingar de tudo e de todos.
Ele foi domesticado e domado pelo desejo de destruir, se tornou um civil da mais alta cúpula da sociedade dos assassinos.
Ele se tornou o assecla e lacaio de sua própria sede de sangue. Estava em conluio com a morte, pois era um adepto devido ao seu fascínio limítrofe em originar mais cadáveres e defuntos.
Sua jornada mortífera, devorou sua sanidade mental, crises e surtos agressivos se tornaram típicos em sua rotina. Era o efeito colateral do frenesi de engolir o placebo que sua cruzada perturbada iria amenizar seu extremismo.
Mas ele era leal como Loc, pelo menos isso?
Apenas com quem amou, já com as pessoas à sua volta? Cínico era eufemismo e metáfora.