Abrindo seus olhos em um abrupto susto e tragando todo o ar em sua volta de uma só vez, Loc sente como se tivesse acordado após sair de um profundo escuro abissal eterno, e involuntariamente começa a chorar e gritar de horror e medo primitivos, como se tivesse saído de seu lugar ideal e mais protegido.
Memórias sobre barulhos repetitivos de armas que soltam rajadas contínuas, cheiro de corpos queimados, berros aterrorizantes de pessoas sofrendo, o cheiro da necrose profunda instalada em seu inconsciente, de um indivíduo engolido pelo ódio e amargura; tudo se funde no implacável fato de estar vivo e ter a maldição de lembrar de tudo.
Tentando olhar para os lados, a luz forte dos arredores o cega e o deixa tonto, sentindo mãos o agarrando, Loc nota que está pelado completamente e tem um corpo pequeno.
Vozes se entrelaçam em uma conversa totalmente intraduzível para, exceto pelo tom calmo e alegre que, talvez, universalmente, significa algo bom.
A rapidez da migração de sentimentos e emoções o deixa letárgico, a digestão psicológica de sua circunstância é corroída por um ácido denominado receio e gratidão.
'Não acredito...' a realidade mais uma vez o deixa em choque. O alvoroço de emoções o deixa anestesiado, seu processo de pensamentos é parado como um impacto, ele só sai desse estupor após ter a noção de que reencarnou.
A impossibilidade de tudo isso, mesmo, segundo as religiões de sua nação, ainda não ameniza o quão incrédulo ele está. Agora já enrolado confortavelmente, ele tenta tatear seu entorno, agarrando-se a mechas grossas de um cabelo sedoso e macio que o faz relembrar o de sua falecida mãe.
Emocionado com toda a comoção, Loc inicia um coro de gritos originados de um turbilhão fundidos de sentimentos reprimidos, apenas o fato de não sentir mais o cansaço, a perdição e a desolação que estava atolado o fazem uivar em agradecimento a qualquer coisa que exista e que o fez ter essa benção novamente.
Mas entre todo o intenso processo de aceitação, ele se comove adicionalmente por saber o peso de viver em total desgraça memorial.
'Não, por favor. Que não se repita, por favor. Eu só não aguento mais.' o desespero de cair em tal esfera inóspita de calor fraterno e humano, somente o ego mordaz, o assusta como um ataque cardíaco.
Com a visão embaçada pela cachoeira de lágrimas, Loc se estabiliza lentamente pelo agradável conforto que sente repentinamente, o calor que o acolhe afavelmente o faz tentar focar a visão na pessoa que o olha com o rosto torcido em um sorriso transbordando felicidade genuína.
Surpreso com a rara expressão que viu em sua vida, Loc para seus gritos e visualiza atentamente o ser que o admira fascinantemente.
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É um jovem adulto de vinte e poucos anos de estrutura facial naturalmente séria com cabelo bem curto negro profundo, como se puxasse a luz levemente, de olhos de cor roxa quase preto, sobrancelhas grossas, mas combinando com sua barba rala, nariz reto e lábios avermelhados emitindo saúde.
Toda a característica o faz lembrar de um homem bonito do ocidente, porém a cor bizarra de seus olhos o fazem ter a noção de que, um talvez impactante, ele não esteja em um lugar a seus padrões, pelo menos, estéticos por enquanto, referindo-se, é claro, não somente a questão da aparência oriental média.
'O que tem de errado com esta pessoa? Que adulto fica olhando fixamente para um recém nascido, e ainda com essa íris do olho roxa estranha.' Incrédulo é o mínimo com os eventos recentes.
Após o pânico inicial, Loc está mais calmo do que deveria não estar, as combinações de estranhezas estão o deixando novamente alarmado.
Quando ele começa a se remexer enquanto assiste o rosto do homem a poucos centímetros da própria cara, o homem o afasta e o ergue alto. Ainda o olhando, Loc percebe que o homem é alto e de ombros largos, pois há pouca distância de sua cabeça de bebê para o teto.
Antes que pudesse entender a expressão pensativa do homem grande, ele começa a falar languidamente com olhos fechados e é acompanhado ao seu lado por uma mulher adulta da segundo década de cabelo ruivo carmesim escurecido caindo em cascata até a cintura, com traços maternais e inofensivos, de pele clara e rosto oval. Simplesmente linda, o lembra das mulheres russas que viu em retratos.
'dupla maravilhosa em...' Loc tem seus pensamentos novamente interrompidos, porque capta uma mulher deitada, sua provável mãe, que está deitada com as costas encostadas em travesseiros e olhando com um sorriso amoroso, aparentemente cansado porém.
'loira clara e muito parecida com a outra mulher do lado do meu novo pai, mas a outra é ruiva... quê?'
A loira, contudo, possui um cabelo loiro clarinho até os ombros ternos. As duas mulheres jovens apresentam o mesmo corpo curvilíneo e em forma, apesar de esguio, elas são preenchidas nos lugares adequadamente. O semblante jovial e ameno, também é incluído na lista.
Todos, incluindo a parteira, uma idosa aparentemente gentil, banhada em sangue, estão agora de olhos fechados e pronunciando frases em uníssono.
Lentamente o homem o traz mais próximo e o beija gentilmente na testa, ainda todos de olhos fechados.
Após o estalo engraçado do doce beijo, o homem o abraça com cautela e repete três vezes a mesma palavra, sendo acompanhado pela mulher loira na segunda afirmação, e a ruiva e a mesma loira ao mesmo tempo na terceira.
Todos agora estampando sorrisos alegres após abrir os olhos e levantar a cabeça, começam a vaiar e celebrar enquanto se abraçam, a festa súbita continua mesmo após um homem e uma mulher com roupas mais arrumadas na casa do fim da terceira década adentrarem o local humilde e começaram lacrimejar e fungar.
Poucos segundos depois aparece outro parente, um homem já aparentando os primeiros traços da meia-idade, que inicialmente tenta manter uma fachada séria, mas deixa cair algumas lágrimas silenciosas.
Do nada, todos estão gritando a mesma palavra, uma que Loc não entende o significado, mas compreende que só pode ser seu novo nome.
Um sentimento adentra fortemente o interior de Loc, um que ele nem se lembrava que poderia sentir novamente, preenchendo todo o vazio sufocante marcado em suas memórias, fazendo-o sentir a profundidade da sensação de ter outra vez pessoas que se alegram e gostam de simplesmente você estar vivo.
Só sentir esta simples celebração de seu nascimento, inevitavelmente faz Loc derramar, pela primeira vez, lágrimas de felicidade e gritar, como se, de alguma forma, este ato tirasse todo o sofrimento que ele sentiu em sua existência, e tentando agarrar fortemente a camisa do homem, como se fosse sua última salvação, a única tábua em um lago profundo e abissal que, Loc, desesperadamente, espera nunca mais adentrar, nunca mais sentir o definhar.
'Aceitarei com todo o meu ser este novo nome. E não irei deixar ele ser manchado por nada... Obrigado'
Após dizer mentalmente tal promessa, Loc se deixa levar pela sonolência repentina e entorpecente, levando-o de novo para a paz que incomumente foi presenteado, fechando seus pequenos olhos molhados pelo choro ardente.