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VI SEUS PAIS

Não sou fruto dos meus pais, mas da alma que sou que, em um dado momento, os escolheu.

- Antes, meu amiguinho, precisamos saber...

Mulo observou Ariel. Vendo dentro de seus olhos sentiu-se bem. Não que confiasse menos em Lázarus, mas havia algo diferente em Ariel, como se uma deusa estivesse posta ali dentro, apenas esperando ser chamada para cuidar dele.

- Por favor – decidiu-se, olhando diretamente para Lázarus.

Lázarus suspirou fundo. Olhou para Ariel, que o encorajou com um belo sorriso, apesar de notar que seu coração estava apertado.

Lázarus inspirou profundamente e se fixou nos olhos turquesas do dahrar. A dor o atingiu quando a força de um demônio se aferrou nele. A escuridão avançou com força, como se estivesse apenas esperando que a porta fosse aberta.

Deixou que as sombras avançassem mais, ignorando toda a tristeza e dor que isso lhe fazia. Então, com extrema suavidade para não colocar o demônio fora de seu alcance, abriu as asas e colheu a escuridão, trazendo-a para junto de si. Quando estavam assim e a escuridão crescia desenfreada, apenas trouxe a luz do seu coração. Achou que haveria uma luta terrível ali, mas então a viu no meio daquelas sombras, tranquilizando-as, cuidando do dahrar, e soube que estava tudo bem. Tomado de respeito se retirou, um sorriso gentil no rosto.

Ao focar novamente os olhos em Mulo, viu o quanto ele relaxava, ao dar com seu sorriso iluminado.

- Então – perguntou Valentina, tentando não se mostrar apressada em saber.

- Ele está bem. Esse menino é da luz, e não ficará demente – sorriu Lázarus. – Tem um demônio aí dentro, é certo, mas a luz é bem maior. Sua mãe, meu amigo, era uma vigilante, e ela nunca o abandonou. Ela deixou algo para trás, uma vontade e um amor que não se apagará nunca. Você é o fruto de um grande e improvável amor – declarou.

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- Meus pais. Amor... – gemeu o dahrar.

Com um movimento gentil se separou de Valentina, e entrou alguns metros na floresta.

Os três se entreolharam.

Lázarus viu a luz do dahrar se tornar pensativa e gentil enquanto se afundava nas sombras frescas da floresta. Suspirou satisfeito, dando o tempo de que o dahrar tanto necessitava.

Curioso sondou a dimensão mais próxima, e viu que ali tudo também estava tranquilo em torno daquele lugar.

Relaxou e ficou aguardando.

Não o encararam quando ele voltou, mas viram que ele estava bem mais leve. Ainda naquele estado de leveza se sentou, voltando os olhos para o anjo.

- Como ela morreu? Você viu?

- Isso não foi importante, ela colocou ênfase nisso quando se mostrou para mim. O importante sempre foi você – revelou. – Além disso, anjos também não morrem, Mulo. Tudo apenas se renova.

- É, não sei como, mas eu sei, eu sabia da escuridão. Sabem, desde criança eu trago um medo terrível, que me atormenta demais. Um dia, eu era muito pequeno, eu vi essas sombras dentro de mim, e tive muito medo.

- Ainda teme as trevas, meu querido? – perguntou Ariel, a voz suave e carinhosa.

- Sim... Não gosto da escuridão, não quero a escuridão – gemeu, se apertando um pouco mais em Valentina.

- Ah, Mulo, o medo é da escuridão, a ela reforçando. Não a tema, apenas a acolha e a transforme.

- Transformar em que? – perguntou, os olhos esperançosos postos em Lázarus.

- Na força que é... A escuridão não é a ausência de luz, mas é uma luz extremamente pálida. Reacenda-a...

- E como faço isso?

- Só tem um jeito... É com o coração, Mulo.

- É assim que tenta controlar o guerreiro enfezado que eu vi?

Lázarus fechou brevemente os olhos, sondando sua alma. Sentiu os dedos de Ariel se apertando com suavidade em seu braço, como viu a cabeça de Valentina se dobrar sobre os ombros de Mulo, enquanto os olhos dela o olhavam com um carinho imenso demais.

Seu coração se encheu, como só poucas vezes assim se enchera.

- Como a família é importante – sussurrou para si, acariciando um silêncio de paz que se insinuou poderoso.

> É, é assim mesmo que tento todos os meus dias, porque o guerreiro que sou é a escuridão que trago dentro de mim. Então, meu amigo, faremos isso juntos...