É nisso que me perco, ao procurar nos modos dissimulados a verdade, oculta, empurrada brutalmente para o fundo, apenas com o objetivo de... Afinal, qual o objetivo mesmo?
- Espere – pediu Ariel, observando os dragões com cuidado. Depressa chamou dois dranians, que rapidamente volitaram.
Quando os dragões estavam a pouca distância eles voltaram.
- Não atacaram, Ariel – relataram. – Eles apenas passaram sobre as aldeias, e a nenhuma delas eles incomodaram.
- Mantenham suas espadas atentas e seus arcos e lanças prontos – orientou Lázarus, os olhos vasculhando os dragões que se aproximavam, mantendo sob atenção aos dragões de Par Adenai.
Então, prestou atenção na suave pressão que vinha sentindo, desde que os dragões foram avistados. Se acalmou e se ligou à sua velha amiga.
> Braba acaba de me avisar que eles não estão vindo para a guerra, mas que estão vindo para uma conferência – revelou. - Me aguarde aqui, Ariel, e você também Mulo. Fiquem de olho em mim – avisou, se lançando no ar e se adiantando velozmente, parando a poucas dezenas de metros da coluna de dragões, que lentamente foram descendo sobre as suaves colinas Belt.
Lázarus desceu a alguns metros do grande dragão vermelho.
- Vejo que te machucaram feio – apontou.
- O mesmo para você, vigilante – devolveu o dragão, podendo ainda ver, com prazer, o momento em que atingira o anjo.
- Sim, uma batalha e tanto. O que deseja? Uma nova refrega?
- E se for?
- Bem, acho que agora não seremos pegos de surpresa. Mas, confesso que nunca quis me bater com vocês. Eu os tenho em grande consideração.
- Soubemos da assembleia que convocou.
- Sim, eu precisava saber, precisava colocar à luz o que aconteceu. Afinal, vocês nunca tinham se envolvido nas guerras das pessoas, homens ou mesmo anjos. Ao menos não dessa forma – esclareceu com serenidade. – Os que foram acusados se mostraram limpos na luz do fogo. Vocês foram enganados.
O dragão o observou com cuidado. Devagar se aproximou mais. Lázarus não se moveu.
- Pedimos desculpas. Acho que eu devia tê-los procurado antes de nos envolvermos.
- Pode me esclarecer? A assembleia de vocês apenas limpou os nomes dos acusados, mas nada mais nos revelou.
- Sinta – falou o dragão.
Lázarus viu a solicitação da ligação, e viu que não havia maldade ali. Então abriu sua mente, e o que viu fez seus olhos ficarem doloridos.
- Eu entendo, e sinto muito por isso. Gostaria que vocês me acompanhassem, para que a paz retorne – pediu se elevando lentamente.
Então, num voo lento e suave os levou para os grandes campos à frente de Par Adenai, onde foram descendo sob os olhares confusos dos que estavam nos edifícios.
Então, em silêncio, os que estavam nas varandas e nos grandes salões desceram e se reuniram com eles.
Atendendo a um sinal Ánacle e FlorDoAr se aproximaram, momento em que Lázarus pediu que os dragões feridos fossem atendidos. Ánacle o observou curioso, mas sorriu e saiu com FlorDoAr para tomar os preparativos.
Então, junto do grande vermelho, se aproximou do conselho.
- Este é Adron. Foi com ele que lutamos, e ele está aqui para nos contar sua estória – declarou, sentando-se perto de Ariel, que disfarçadamente adiantou uma mão, aliviando a dor do enorme ferimento que ainda estava vivo no lado do AsaCortada, que sorriu agradecido.
- Foi ele que fez seus ferimentos? – perguntou Ariel num sussurro.
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- Sim, foi ele – Lázarus confirmou bem baixinho. – E aqueles ferimentos nele, fui eu quem fiz – sorriu.
- Viemos aqui, na presença de vocês para lhes pedir desculpas – falou o dragão em alto e bom som, o que era extremamente raro, visto que eles, quando queriam se comunicar, o faziam quase que exclusivamente pela mente. Só essa deferência dele dava mostra da relevância do assunto que iria tratar.
> Vários filhotes nossos foram roubados e massacrados – contou. – Tirados dos ninhos. As mães foram mortas. Achamos espadas de vigilantes. Encontramos alguns vigilantes mortos ali, pelo chão. Também vimos energia de dahrars nos locais de ataques. Ficamos sabendo que várias outras coisas assim tinham acontecido, principalmente entre os vermelhos e os das sombras. Nos unimos e fomos contra um grande assentamento de vigilantes próximo às aldeias. Eles nos juraram que não haviam sido eles, mas que haviam encurralado um exército que parecia ser aquele que procurávamos, mais ao sul.
- Acreditaram neles?
O Dragão pareceu meio desconfortável com a pergunta do velho caipora. Então, levantou a cabeça enorme, os olhos fixos naqueles olhos de fogo.
- Ele me mostrou imagens do massacre dos nossos filhos e esposas, e em quase todas elas havia a imagem de alguns seres.
- E de quem eram essas imagens? – Ariel perguntou.
- De dois dahrars que sempre andam com vocês, e de uma vigilante. Esse que chamam de Avenon e esse outro que chamam de Mulo – falou se virando para o local de onde os dois seguiam toda a conversa. – Eles estavam no meio de um grande grupo de pessoas e vigilantes, mas eram os mais sedentos pelo nosso sangue.
- E agora? – quis saber um caipora, o corpo todo avermelhado, a um suspiro de completo poderamento.
- Na assembleia dos dragões, que foi chamada por Lázarus, nos mostraram a sondagem nos dois dahrars que foi feita, mostrando que eles nem mesmo estavam por aqueles lados. Ainda, nos mostraram uma névoa escura e pesada nos que atacaram os nossos.
- Reconheceu a energia, Adron? – quis saber Ariel.
- Sim... – reconheceu, a voz vacilando de dor. – O mesmo que nos convenceu de que haviam sido vocês, o mesmo com os quais lutamos ao lado, emprestando nossos fogos e garras.
- Estão conosco? – perguntou o lobisomem.
Adron o observou com estranheza.
- Apenas viemos pedir suas desculpas, e pedir que não nos vejam como inimigos, pois que inimigos são os que nos enganaram. Mas, suas guerras são suas...
- Querem ajuda contra eles? – perguntou um curupira.
O dragão o observou, e havia uma imensa paz naqueles olhos, como que um agradecimento.
- E nossas guerras são nossas – ajuntou com suavidade.
- Claro, claro que sim – falou o caipora, agora totalmente tranquilo. – Em todo o caso, oferecemos cuidar de seus feridos e, caso precise de nossa ajuda, só precisa nos chamar. E essa ajuda inclui até mesmo nossas armas, que estão ao dispor de vocês.
- Sem que isso crie qualquer responsabilidade ou dívida por parte de vocês – ajuntou Lázarus, vendo que Adron iria recusar orgulhosamente.
Adron respirou fundo, os modos se acalmando.
- Vocês são guerreiros muito bons. Perdemos muitos dos nossos, e muitos outros estão feridos. Houve muita nobreza nessas batalhas, e nos sentimos muito honrados. Agradecemos seus cuidados, e os aceitamos. Nada lhes devemos, mas nossas chamas são em suas fogueiras. Não duvidaremos mais de vocês. Obrigado – falou se elevando só com o poder das asas, dando por encerrada a reunião.
Ariel os viu se arrumando pelos campos, enquanto se misturavam com os dragões que ali viviam, e com as pessoas e com os homens, sem demora.
Sorriu em paz e aliviada.
- A batalha com eles foi tão terrível assim? – perguntou.
- São seres de poder imenso – Lázarus confirmou. – Como inimigos eles são terríveis – falou dando-lhe um demorado beijo. Então, vendo Adron deitado com a asa esticada, puxou Ariel em sua direção.
- Então, grandão, me desculpe por isso aí – riu, apontando para o grande ferimento.
O dragão o olhou, e Ariel podia jurar que ele também estava se divertindo, olhando o ferimento terrível em Lázarus.
- E eu por esse aí. Ainda bem que eu fui gentil com você...
Lázarus balançou a cabeça e riu, vendo um grande curupira, que sabia se chamar Elmet[1], se aproximar do dragão acompanhado de um queixada de aspecto feroz, que logo se puseram a tratar da ferida.
- E podem deixar uma cicatriz bem bonita aí – brincou Lázarus. – Como uma lembrança.
- Vai deixar a sua?
- Claro que vou, Adron. E vou ter muito orgulho dela. Ouviu, Ariel? – falou, vendo-a cuidar do ferimento que o dragão causara.
- Assim está bom? – mostrou sob a cota uma grande cicatriz, parecendo uma cadeia de montanhas vista de muito alto.
Lázarus a examinou e gostou do que viu. Então se virou para o dragão e a mostrou, todo satisfeito.
- Isso, isso mesmo. O que acha? Bonita? - perguntou para Adron, que prontamente a aprovou.
- Então, caro amiguinho, deixe uma grande cicatriz aí, que todos possam ver – sorriu também.
O curupira concordou, satisfeito.
- Pode deixar, meu amigo. Vou fazer aqui uma obra de arte – falou, acariciando a cabeça do queixada, todo concentrado no ferimento.
- Vocês dois são dois bobos – riu Ariel, se abraçando satisfeita em Lázarus.
Durante dois dias ficaram ali reunidos, momento em que foram cuidados com muita atenção, o que fez que rapidamente todos se restabelecessem.
No terceiro dia da chegada eles, após calorosos cumprimentos, se foram.
No mesmo dia vieram notícias de terríveis ataques contra hordas de vigilantes, e agora não só de dragões vermelhos e sombras, mas também dos azuis de Corbélia, brancos e verdes.
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[1] Esta é uma referência a um curupira de guerra, muito valente e feroz. Esse curupira, que se tornou chefe pelas suas capacidades. De sua linhagem virá um descendente curupira, que será um expoente de grande importância na sétima e oitava eras, que se chamará Adanu.