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NO SILÊNCIO DAS MONTANHAS

Me deixe só com a minha dor, porque receio que ela poderá consumir o que você se tornou.

O anjo deixou a visão escorrer pela cama de nuvens que se espichava e crescia por entre os flancos das montanhas.

Deixou a cabeça pender. Por algum tempo ficou cismando, os olhos nas pequenas flores azuis que fizera brotar aos seus pés.

Em paz sorriu para elas, tocando algumas com as pontas dos dedos.

Fazia alguns dias que estava ali, cismando, sobre uma plataforma a mais de meia altura para o topo pedregoso da montanha, na face leste da imensa muralha Espinha de Dragão.

Aquela montanha, apesar de ficar muito próxima da Montanha do Dragão e de outras montanhas de fogo, delas estava protegida. Nas montanhas ao lado via os topos congelados, tal como a que estava também tinha. Abriu seus sentidos, o prazer de sentir o vento gelado que descia o deixando um pouco mais relaxado. De algum lugar ali perto ouviu uma avalanche despencando solitária. Não demorou e viu uma névoa branca subindo de um vale, onde a avalanche se dera.

- Ninguém morrera ali – conferiu sem muito interesse, voltando-se para acariciar o elegante dragão de fogo, enrodilhado ao seu lado, parecendo cochilar. Mas, bem sabia, ele estava bem desperto e atento. Enquanto acariciava seu longo pescoço ouviu o marulho do fogo em sua garganta. Deitou-se de encontro ao pescoço do dragão, como um travesseiro, a mente se perdendo longe.

Sorriu em paz, agradecendo a companhia do dragão sabendo que logo que o frio passasse a incomodá-lo, rapidamente iria embora, buscando alguma encosta de algum vulcão.

> Talvez eu vá te ver, antes de ir embora, meu amigo – sussurrou para ele, que novamente marulhou e se mexeu com cuidado, para não incomodar o anjo.

Devagar deixou os olhos irem para longe, onde podia ver com clareza as montanhas sombrias, apesar de tão pequeninas daquela distância.

> Quanta dor ainda tem ali, mesmo depois de Negrumo ter sido parado – cismou com pesar pelas montanhas. – Será que alguém ainda se lembra dele, ou dos irmãos que ali morreram? Talvez algumas poucas centenas.

Aquele fora um conflito localizado e restrito apenas em Urântia[1],, e fora apenas dentro de sua família que o combate se dera, a família dos renegados, motivo pelo qual pouca importância fora dada àquela terrível batalha. A guerra entre Lázarus e Negrumo, segundo relataram muitos dos sobreviventes, a batalha dos renegados, para a grande maioria dos anjos. Mas, era apenas uma batalha entre a luz e a escuridão, como qualquer outra batalha, suspirou.

Aquele aglomerado de montanhas, antes que Negrumo as tomasse para si e ali colocasse seu reino de sombras e maldades, era um lugar belo e gentil, onde viviam muitas criaturas nobres. Agora, depois de tanto tempo, era apenas um local a ser evitado, com o rancor e ódio impregnando cada pedra e grão de terra estéril do local.

Então voltou a ficar sentado, quando o dragão fez menção de se levantar. Se levantou também, abraçando o pescoço da magnífica criatura, que se deixou carinhosamente abandonado naquele abraço.

Então, assim que se separaram, o dragão se impulsionou e subiu em busca de um local mais quente, as asas revolvendo o ar frio.

Em silêncio Lázarus sentou-se novamente perto da face de pedra da montanha. Como que distraído fez brotar uma flor azul na rocha ao lado da sua cabeça. Apoiou as costas na montanha, tentando deixar a mente vazia. Ainda não tinha bem certeza sobre o que tinha que fazer, ou mesmo o que faria, e mesmo se faria algo nesse sentido.

> Por que a pressa? – disse para si mesmo, a voz num tom pensativo. – É bom deixar esse tempo se esfiapar assim – sorriu, pensando sobre todos os outros que já tinham se decidido a mergulhar na experiência.

De todos os últimos doze que haviam descido à terra com ele, nenhum mais restava. Cinco deles se fundiram com os homens, homens tendo se tornado. E desses cinco, dois estavam perdidos, irremediavelmente esquecidos de tudo o que foram e eram, perdidos de vez na carne dos homens.

Uma dor suave flutuou em seu coração, ao pensar sobre os outros sete. Da última vez que os vira e soubera deles, eles se recusavam a se deixar serem encontrados, desejosos de serem esquecidos. Eles eram os guerreiros mais raivosos dentre eles, que não quiseram mergulhar na carne, pois temiam que a face guerreira os dominasse e levasse extermínio aos homens. Aceitar o medo e viver nele era como uma loucura controlada, e ninguém gostava disso. Sabia que eles, logo, acabariam por mergulhar no esquecimento da carne. Apenas temia a profundidade em que se lançariam nessa experiência.

Mas, o que poderia fazer, se essa era a forma como expressavam suas vontades?, suspirou conformado.

> Tempo ao tempo – gemeu para as pedras. - Medo... Que sensação estranha – cuspiu de lado.

Em silêncio ficou se perguntando porque seus irmãos, que tinham medo de seus lados guerreiros, não tinham ido embora do planeta. Não eram AsasLongas[2]?, cismou.

Quanto a ele, acreditava saber, naquele momento, o que iria acontecer, mas queria um tempo ainda. Gostava de gerenciar seus marcadores[3], os lembretes de quem era e do poder que possuía, que distribuíra pelas eras à frente, caso se decidisse a descer como pessoa ou homem. Esses marcadores o trariam de volta a si mesmo, lembrando-o de quem era, sabia; por isso se preocupava tanto com eles. Quanto aos outros, logico que construíram seus marcadores, mas alguns julgou muito precários e frágeis. Não queria dar bola ao azar.

Talvez resolvesse mergulhar logo na carne, talvez em mais alguns anos, ou talvez nunca. Por que ficar remoendo isso? – tentou afastar esses pensamentos da mente.

Lázarus sentiu um cansaço entorpecer seu corpo, pesando em cada fibra dele.

Foi nesse momento que viu que a atenção dos que viviam nas aldeias aos pés da montanha que haviam posto sobre si resultava em alguma ação. Se recriminou por não ter lançado sobre si um ocultamento melhor.

Então, como sonâmbulo ficou seguindo as formigas se organizarem e, como uma linha trêmula, tomarem a sua direção montanha acima.

> Parece mais uma trilha de formigas medrosas – cismou, pensando se não deveria simplesmente ir embora. Decidiu que não. Talvez algo bom surgisse dali, pensou se recusando a acreditar que seria como da maioria das outras vezes.

As formigas vinham ao seu encontro em silêncio, tensas, percebeu. Pontos negros se arrastando para cima, acreditando, cada uma das formigas, que era movida por algum pensamento nobre e heroico.

Mas ele sabia que eles se empurravam montanha acima apenas pelo medo, ou pela esperança insana, como tantas outras vezes, de achar um culpado pela sua infelicidade.

Suspirou.

Quanto já vira disso? Milhões e milhões de vezes, e não só nesse planeta.

Devagar encheu o peito com desânimo, focando com certo desleixo no agora, no aqui. Gostaria de ter sua família ao lado, como sempre fora. Mas, eles estavam em outras lutas, em outros lugares, muitos deles já esquecidos de si mesmos, fora os que não quiseram se arriscar nesse mundo. Ser um AsaLonga nesse mundo tenebroso, por si só, já era algo memorável, sorriu. Mas o sorriso logo morreu, ao lembrar que da sua grande família só ele ainda resistia ali, como AsaLonga, apesar de não saber até quando isso seria assim.

A cabeça da fila de formigas parou à sua frente, o corpo continuando a subir, as formigas se acumulando e se espremendo entre as rochas dentro das rajadas de vento frio, até que se formou uma massa compacta, olhando-o com olhos acusadores, milhares deles.

Remexeu-se e se virou um pouquinho na pedra em que estava sentado, para fazer-lhes frente. Era um modo educado de dizer-lhes que se importava com eles.

> Aduene[4] – cumprimentou apenas formalmente, apesar de achar exagerado cumprimentar essas formigas dessa forma.

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- Adanene – respondeu o que estava mais à frente, encarando-o com rancor.

- A mesma conversa? – sibilou com indiferença, encolhendo uma das pernas e esticando a outra com força.

- E há outra? Você precisa fazer algo. Você é um anjo, ou não é?

- Anjo... – suspirou para si mesmo.

Sua mente estalou, se perguntando se eles tinham noção de toda a enormidade escondida naquela pergunta impensada. Ainda com a mente longe rodou a ponta da espada, fincada alguns milímetros na rocha. Com prazer ouviu o arranhado, metal contra pedra, e os pequenos estalidos quando ela estilhaçava algum grão da rocha. Inspirou com prazer o cheiro da rocha queimada. Então parou um momento e levantou o rosto, encarando a turba.

Vestiu um sorriso gentil e amável, encarando com amabilidade a turba.

- Sim, um vigilante é você, não é??? – insistiu um homem com a cara de poucos amigos.

- Vigilante... Sei!!! Para sua informação, pequeno humano, não sou vigilante. Estou aqui por escolha própria, como vários irmãos.

- Então, isso o torna ainda mais responsável por nossas desgraças... – veio a voz de uma jovem escondida atrás de um homem franzino, que portava um graveto pontudo na mão.

- Vocês são os únicos responsáveis pelas escolhas que fazem. Como podem querer acusar alguém por uma escolha de vocês ser uma escolha de merda? – perguntou, a ponta se enterrando mais alguns milímetros na rocha, enquanto voltava o mesmo sorriso para o rosto.

- Nós temos o direito de errar. Você deveria ter nos avisado - irritou-se um jovem cheio de si, acreditando-se poderoso por confrontar um anjo.

- Eu deveria? Sei!!! – retrucou incomodado. - Não é esse o meu dever. Melhor, não tenho qualquer dever para com vocês. Estou aqui por escolha própria, para meus próprios desígnios. Mas, mesmo assim, alguns de vocês foram avisados, e teimosamente riram e não creram. Destino, talvez. Vocês escolheram isso, vocês escolheram essa linha de tempo, e de uma forma de que nem mesmo se lembram. Por que não se vão? Falta-lhes fé em vocês mesmos...

- Como? – reclamou uma mulher de modos rudes, se adiantando após empurrar os que estavam na sua frente. – Você nos pede para ter fé???

- Isso mesmo – confirmou. - Tenha fé, criança... – falou com o tom de cansaço.

- De que fé você fala? – perguntou um cara grande e corpulento que estava ao lado da mulher. A sua voz era mansa e humilde, o que obrigou o anjo a prestar-lhe mais atenção. - Fé é um subterfúgio arranjado pelos espertalhões para engendrar enganações, para iludir, para se aproveitar dos inocentes, dos que têm uma necessidade intensa de acreditar em coisas maravilhosas. Fé... Eu tenho fé, e muita, tanto que até me arrepia. Tenho fé nas coisas boas, nos olhos inocentes, nos pássaros e pedras, nas árvores, no desprendimento, no que não é pedido, no que não é exigido; tenho fé na verdade e na justiça, na bondade, na humildade. Não tenho fé naqueles que nos dão pouca informação e que nos dizem que, se não acreditarmos, é porque somos de pouca fé. Essa desculpa é uma espécie de proteção caso o que previram não aconteça. Ah, não tenho fé nas palavras do homem, que tenta criar coisas divinas para prevalecer sobre o próprio homem. Nesses, nessas coisas, felizmente não tenho fé. Ah, nobre anjo, eu quero ter fé, eu preciso dela, sem dúvida.

Lázarus observou o homem com o coração, e viu que, talvez dentre toda aquela turba, ele provavelmente se mostrasse o único que sabia por que estava ali.

- E espera que eu renove a sua fé? – perguntou com carinho e suavidade.

O homem se remexeu no meio do silêncio das formigas, os olhos vasculhando sua própria alma.

- Estou apenas procurando algo que a renove – falou por fim, a fala suave e mansa.

- Então, escute sua alma. E você está certo, meu amiguinho, quanto a ter fé nos outros. Eu falo da fé em vocês mesmos, e no Deus que os criou.

- Bah, bah... – reclamou uma mulher, passando as mãos por baixo do lábio inferior, como se dele tirasse alguma coisa e lançasse ao chão.

- Fé... Se fé criasse mundos – gritou outra mulher, de olhos esgazeados e assustados, - estaríamos num mundo dominado pelas visões dos loucos. Quem tem mais fé que os loucos, quem mais crê que um louco, que vive completamente o que pensa? Ele então seria um fenômeno, se isso fosse verdade.

O anjo examinou as pessoas, medindo a sua arrogância, a sua raiva desmedida, e não gostou do que estava vendo. Raiva era uma das faces do medo, bem sabia.

Mas ele estava cansado demais.

Então sentiu como se algo quebrasse dentro dele. Tentou agarrar sua paciência e vesti-la novamente, mas sentiu que estava difícil demais.

Com um suspiro pesado girou a espada na rocha, que estilhaçou a parte onde ela estivera aninhada, se libertando ameaçadora.

Devagar tirou o sorriso e olhou pesado para os que estavam ali. Torcia para que entendessem os presságios e se fossem bem depressa.

O grande anjo levantou a espada azulada de veios de um forte e escuro azul, tornando-a espelhada, na qual se examinou com um certo desinteresse, ignorando os que se postavam acintosamente à sua frente. Com satisfação percebeu que o silêncio crescia entre o populacho reunido no topo da montanha, à sua frente.

Sentiu, com tristeza, que seu rosto estava duro e sua alma estava em silêncio, fria. Imaginou o que eles estariam vendo dele: o rosto era todo marcado por cicatrizes de batalhas terríveis, faltavam-lhe alguns dentes, havia hematomas, cicatrizes demais, algumas delas muito recentes; sua armadura estava amassada e queimada em vários lugares, e havia muitas tiras cortadas. Será que não conseguiam perceber?

Suspirou fundo, deixando o peso da espada baixá-la. Ultimamente ela parecia ainda mais pesada, tal como sua alma.

Inspirou lentamente pelo coração, segurou por alguns segundos e expirou bem devagar, deixando suas visões escorrerem.

Sem muita pressa embainhou a espada.

Os homens que estavam à sua frente, exigindo coisas sem nexo, acreditavam piamente que a culpa pelo mundo que haviam construído tinha que ser a ele imputada, aos vigilantes ser imputada. Deveria ser o contrário, cismou desanimado para uma nuvem. Ele os olhou por cima, a impaciência e a irritação transparecendo em seu rosto. Todos recuaram, apesar de em seus olhos ainda poder ver medo e acusações.

Estreitou os olhos, a tensão subindo lentamente.

Acariciou bem devagar o pomo da espada.

Gostaria de não sentir isso, de sorrir e ir-se embora, mesmo ouvindo impropérios e ameaças. Mas não queria mais isso, nem mesmo isso.

Estava cansado demais para ir embora.

Sem perceber se viu, muitos e muitos anos atrás, novamente frente a seres raivosos que lhe pareceram ignorantes demais, numa das últimas batalhas em que se metera. Eles exigiam e se justificavam de uma forma enervante. Tentara se afastar, mas eles se tornaram mais agressivos.

Muitos morreram naquele dia.

Suspirou demorado.

Uma tênue esperança embalou seu coração.

- Vocês são responsáveis pelos próprios atos, pelas próprias escolhas que fazem - falou bem lentamente, deixando o cansaço transparecer na voz e nos modos, esperando que isso amainasse seus ânimos. – A ninguém mais, muito menos a mim, cabe a responsabilidade pelas suas escolhas. Se são escravos, é porque assim querem; se são senhores desses escravos, é por comum acordo. Se são pobres, reis, miseráveis, doentes, felizes, ... são escolhas próprias. Vivam com isso!

Se levantou em toda a sua altura, mantendo uma perigosa calma, talvez último recurso para que se contivessem, ao ver que mostrar desânimo os tornara um pouquinho mais perigosos.

Mas, a pedra que o acertou na têmpora lhe disse o contrário.

A fúria e a indignação tomaram seu ser, sem lhe dar tempo para se controlar. Como um relâmpago desembainhou a espada e matou até o derradeiro deles.

Quando o último deles caiu na terra empedrada, com agonia chacoalhou a espada e fez queimar, para limpá-la do sangue, e a guardou, os olhos nos corpos retalhados, sem vida, carnes inertes. Olhou para o alto e suspirou desanimado. Prometera-se ser paciente e benevolente com esses seres ignorantes, inocentes, iniciantes no caminho da evolução. Se sentiu derrotado. Julgara que a energia do coração seria algo fácil de incorporar, mas descobria que não era nada fácil.

Sentiu vertigem e se sentou.

Em silêncio se desculpou, como desculpou aqueles que incitaram sua face guerreira. Essa havia sido a escolha deles, eles quiseram experimentar irritar um anjo. Bem, descobriram, experimentaram isso. Mas, tinha certeza de que essa não havia sido a escolha dele. Ele não planejara, não tinha como. Para ele havia apenas o agora. Só o aqui.

> Amor...

Fora para descobrir e se ver amor que se afastara da fonte, em um tempo muitíssimo velho. E agora, desde que se tornara guerreiro, sentia que desconhecia o que era esse “amor”. Guerreiro, era isso que a escuridão fazia, se desdobrando em cada ser que encontrava, tornando-os guerreiros, tornando-os ego, dando-lhes esperança de que poderiam fazer a escuridão recuar, quando ela, sem que percebessem, penetrava em seus corações. Por isso, em alguns momentos se perguntava se esse amor não parecia algo, ... inexistente. E ele precisava de algo para voltar a poder existir, a ser como era logo no início.

> Fé... – se lembrou da conversa que tivera há pouco. – Fé, é o que eu busco também – recitou, observando os corpos arrasados.

Se levantou e caminhou por entre os corpos até que o viu. Se ajoelhou junto à parte do corpo daquele homem que procurara fé. Com um gesto cuidadoso elevou sua centelha[5], tomando-a com carinho, com suavidade despedindo-a no ar.

Com pesar no coração se recolheu e se acalmou, e entoou uma pequena canção para o campo morto, e todas as centelhas se elevaram suavemente. Em meio à canção elas piscaram, Lázarus se despedindo de cada uma que se ia para o alto.

Em paz Lázarus deixou sua cabeça pender e os ombros caírem.

> Quando vou realmente aprender? Eu posso entender o que é o amor, então por que esse amor não suaviza o guerreiro que me tornei? – sofreu, enviando a pergunta para o céu.

>Talvez... – suspirou os olhos passando pelos corpos, agora realmente apenas massa que logo iria se desfazer, porque o que os movia não estava mais ali.

Em dúvida ficou parado, cismando, tentando se decidir. Com um movimento desanimado da cabeça voltou para o meio dos corpos, onde se ajoelhou.

Apenas um soco, os corpos se elevando alguns centímetros do solo. Quando despencaram novamente para o solo, não o encontrando apenas afundaram e dentro dele se perderam. O chão se fechou sobre eles, e tudo estava limpo, ao menos naquela dimensão.

Se levantou e voltou para a pedra, onde se sentou mais uma vez.

> Talvez deva realmente deixar de ser um anjo, abdicar de minhas asas e entrar na matéria, experimentar ser humano. Como poderei ser coração se tenho tanto poder, se o ego é, para mim, uma força tão... tão grande, tão cegante? Mas, ainda sinto que o esquecimento é algo a ser temido. E, também, tem a família...

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[1] [1] Nome do que seria conhecido, eras à frente, como Terra. (*)

[2] (*)

[3] (*)

[4] Cumprimento espelhado no cumprimento dos anjos, que quer dizer “O UM em mim reconhece o UM em você”, tendo como resposta – Adanene, “A energia em mim é a mesma energia em você”. Para outros cumprimentos, vide o ANEXO ao final deste livro.

[5] (*)