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NO ACAMPAMENTO

Não temo o futuro, na maioria das vezes.

Uivo se recostou no tronco, quieto. Com força colocou a cabeça entre as mãos.

Com cuidado se estudou, sentindo o que rondava sua alma.

Deveria estar apavorado com o que estava acontecendo, com sua vida que se desfazia de forma assim tão violenta. Allenda se fora, o sol se fora, e agora se descobria parte demônio, e descobria que um demônio velho se acercava dele, um demônio que se dizia ser seu parente, seu avô, que caçara a própria filha para lhe tirar a vida.

Com um suspiro viu que não estava irritado ou nervoso, mas apavorado com o futuro que parecia estar sendo-lhe negado.

Devagar trouxe um pouco das sombras, vendo suas mãos se tornarem neblinas cinzas e pesadas, sentindo com um certo nojo uma maldade e frieza se imiscuindo em sua alma. Depressa se refez, atordoado com o que lhe acontecia.

Como seria a partir de então?, se perguntou, a mente voltando ao momento em que quase matara um lobisomem que encontrara há algum tempo atrás, de forma gratuita e sem qualquer provocação.

Tinha que encontrar uma forma de se controlar. E teria que aprender rápido, se convenceu. Como poderia estar com os outros se corria o risco de, por qualquer mínimo motivo, se tornar um demônio que poderia destruir tudo à volta pelo simples prazer de destruir?

Tinha que achar um meio de controlar o que parecia estar nascendo em sua alma.

Suspirou, subindo os olhos para o céu, numa silenciosa súplica.

Voltou os olhos para os montes e vales abaixo, sob o dia que ameaçava surgir cinza e triste. O pequeno danush de Danbara despertava na orla de um bosque. Da distância viu Danbara e Jádina, e por algum tempo ficou prestando atenção nas duas. A verdade é que não sabia por que viera até elas, ainda mais sabendo que uma delas havia jurado matá-lo. Talvez soubesse, mas isso não era importante, no momento. Apenas ficou se perguntando o que procurava ali. Muito melhor seria se embrenhar por aquelas terras, sozinho. Não precisava delas, e talvez não fosse nem mesmo aconselhável que estivesse junto delas.

No entanto, não queria se dar um tempo para encarar o que trazia dentro de si, ou o que poderia se tornar. Se ficasse sozinho, tinha certeza, não conseguiria parar de ficar se encarando, supondo caminhos, vendo seus receios e medos irem aumentando, se tornando cada vez maiores e mais sufocantes. Precisava de outras pessoas, precisava de distração, desesperadamente procurando tempo enquanto ia se fortalecendo.

- O que pode ser melhor para isso que uma batalha se aproximando? – murmurou para as montanhas, onde via seres sombras se movendo.

Com cuidado estendeu seus sentidos e sua visão. Grupos inúmeros fugiam do oeste e tomavam aqueles caminhos, sua atenção se prendendo em um grupo de caçadores invasores que rondava aqueles lugares. Ao que tudo indicava esse grupo sabia da comitiva de Danbara e parecia se mover para ir contra ela.

Inspirou com prazer.

Uma garoa fina como um roçar do vento começou a cair assim que se levantou e começou a descer a montanha em direção ao acampamento.

- Achei que iria desistir – Danbara o cumprimentou apoiando-se na perna esquerda assim que Uivo se aproximou o bastante.

Uivo parou e se plantou tranquilo. Com suavidade a cumprimentou com um movimento de cabeça, bem como à toda a comitiva que se posicionara atrás dela.

- E por que pensou isso? – perguntou, observando que todos se mostravam tranquilos, exceto Jádina, que estava tensa e desconfiada.

- Ora, três dias nos seguindo, tentando se decidir se se juntaria a nós, ou não, mostrava que você estava tentando tomar uma grande decisão.

- Medo talvez, oncinha? – debochou Jádina.

Uivo a desconsiderou acintosamente. Para ele, a atitude infantil dela a desmerecia.

- Há grupos de inimigos a meio dia para o noroeste – revelou Uivo, os olhos sondando a distância.

- Conseguiu ver quantos são?

- Não.... Mas encontrei alguns que fugiam daqueles lados, e eles falam em vários grupos, pequenos e grandes.

- Não podemos ficar caçando boatos – observou Danbara. - Poderíamos ser manobrados, se agíssemos assim – falou voltando os olhos para a direção que Uivo dizia que seguiam.

- Sim... Isso desde que os boatos não dissessem que é o seu grupo que eles estão tentando cercar.

- E por isso nos cerca você, lobinho?

- Sinto que eles se aproximam – falou com tranquilidade, mais uma vez ignorando o corte debochado de Jádina.

Uivo viu o discreto sinal de Danbara, que fez desaparecer Jádina. Então viu Jádina e mais oito guerreiros num morro próximo, tomando a direção do noroeste.

- Ela fará um grande e largo círculo, que irá ampliando lentamente, até confirmar, ou não, suas informações – explicou Danbara. - Mas, e quanto a você? Que caminho te ordenaram tomar?

- Estou por minha conta. Se me permitir, gostaria de seguir com vocês, por um tempo...

- Se não me criar problemas, Uivo, será um prazer...

- Não criarei, fique tranquila.

- E se te provocarem? – perguntou, os dois tomando o caminho do acampamento lado a lado.

- Cada um busca o seu caminho. Sou responsável pelo meu, apenas.

- E se tornou responsável pelo nosso? – sorriu. - Mas, ao final, você está certo! Está bem então. Isso me basta, por hora... Venha, Uivo – chamou Danbara entrando na área do acampamento.

Uivo a seguiu, e a cada um do restante da comitiva foi apresentado. Já conhecia bem a maioria da comitiva, mas muitos deles estavam mudados. Viver sob o manto da batalha parecia que os envelhecera. A grande euforia da partida se fora, e agora ali havia somente guerreiros.

Várias horas depois, quando o dia já começava a romper, Jádina retornou. Estava encharcada e manchada de sangue, e vinha com apenas a metade dos que levara.

- Encontramos três companhias deles. Companhias de coloridos - explicou.

- Sombras com eles? – quis saber Uivo.

Jádina o olhou de cima-abaixo, e sua voz foi fria e seca quando respondeu.

- Não!

- Mas eles não devem estar longe. Se eles os caçam, então os sombras devem aparecer logo.

- O que acha, Jádina?

- Acho que o lobinho está certo. Eles estavam em largo círculo em torno de nós... A sorte é que eles não nos esperavam...

- Provável que acreditassem que não seriam postos a descoberto... – falou Uivo.

- Certo... – interrompeu Danbara. - Vamos ficar mais atentos. Aposto como eles se aprofundarão mais por aqui – cismou.

Ela nem bem terminara de falar quando Uivo se virou e se poderou como pumacaya, o corpo rijo e preparado para uma batalha.

- São os mantas. Eles seguiram sua irmã, e agora sabem que foram postos a descoberto – falou.

Com o corpo inclinado para frente, os braços retesados para trás e as garras todas aparentes Uivo soltou um grito feroz de alerta.

Em resposta o mundo pareceu desabar. A fúria do ataque dos mantas foi enorme.

Dois da comitiva foram mortos no ataque. Uivo se esquivou do ataque que lhe dirigiam, os olhos sondando, procurando aquele que comandava os mantas. Assim que o viu tomou impulso em direção à uma árvore alta, seus olhos presos no sombra que a tudo assistia de um ponto bem acima no morro.

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O dia surgiu triste e pesado, carregado de umidade. Do alto da árvore viu coloridos que se aproximavam apressados, e mais apressados ainda se lançando contra a comitiva. Se virou e viu que Danbara, Jádina e outros estavam se defendendo muito bem. Então saltou novamente e se cravou em silêncio numa árvore bem próxima ao sombra, à distância de um salto. Em silêncio aguardou com tranquilidade, os músculos retesados, a atenção total nos mínimos movimentos do sombra. Então olhou sua cauda e se lembrou do que ouvira sobre eles. Ela estava quase parada, sinal de que estava se preparando para atacar.

Ao sentir que ele estava a ponto de cair sobre o acampamento Uivo saltou. Mas o sombra o havia percebido. Num giro segurou Uivo no ar e estocou. Uivo conseguiu segurar o esporão enquanto se aferrava com a outra mão na criatura, não lhe dando condições para atacá-lo com suas garras.

O demônio girou no ar e começou a cair. Quando atingiram o solo Uivo se soltou e se empertigou arrogante, mostrando um sorriso de desprezo na cara.

O demônio, como um estilhaço, o atacou com grande velocidade. Uivo se esquivou girando, abrindo um talho no flanco da criatura, que guinchou baixo e raivoso.

Em uma nova explosão de velocidade o sombra atacou. Mas, quando Uivo adiantou a garra para atingir a criatura novamente, ela estacou súbito o movimento. As garras de Uivo passaram cortando o ar. Mas o arco não foi finalizado, porque a criatura buscou e puxou a pata de Uivo e o apertou com violência contra um grosso tronco de peroba, apontando para ele todas suas armas.

Uivo segurou o esporão que o sombra tinha sob a asa e, com uma pata traseira parou a garra afiada.

Mas o demônio o atingiu com a outra garra, que afundava cada vez mais em seu ombro, querendo destruí-lo ao forçá-la para baixo, em direção ao seu coração. Uivo girou com força o pulso e o demônio o soltou com um guincho de dor ao sentir o giro violento em seu esporão.

Uivo caiu no chão.

Com um movimento brusco se levantou, os olhos fixos no demônio que o encarava raivoso, pairando como uma pluma de fumaça à sua frente.

Eles se preparavam para novo embate quando várias setas atingiram o demônio na base do estranho pescoço e numa das asas, que ficou perfurada em vários pontos. Com um guincho raivoso ele se virou para encarar o novo inimigo.

Aproveitando o descuido Uivo saltou no momento em que o demônio arremetia contra Jádina. Com violência o demônio tentou se enrolar, se descontrolando no ar. A força do encontrão do demônio com Uivo a cavaleiro foi tão violento que atropelou Jádina e a lançou vários metros para trás. Uivo, tomado de prazer, abriu todas suas garras e rasgou profundamente o demônio. O guincho de dor ecoou ao longe. Quando o demônio planou e tombou em agonia no chão Uivo se levantou.

Com desprezo mexeu na criatura com uma das patas traseiras. Dando-se por satisfeito voltou-se para Jádina, que já estava de pé.

- Eu pensei que você lançaria primeiro suas setas contra mim... – falou Uivo conferindo que Jádina não mostrava ferimentos graves.

- Foi uma bela oportunidade, não foi mesmo? Eu realmente pensei nisso sim. Mas, infelizmente, Danbara o quer vivo. Haverá outras ocasiões...

- Sem dúvida que haverá – concordou Uivo se despoderando em sinal de agradecimento. - Haverá muitas chances para que tente se vingar...

Jádina parou e se voltou para encarar Uivo.

- Acha mesmo que estou querendo me vingar? – perguntou após avaliar que havia uma trégua em torno deles.

- E não é esse o motivo? Ao menos foi isso o que disse no acampamento danatuá – estranhou Uivo, conferindo que a morte do sombra deixava os atacantes bem desorganizados.

- É apenas tempo, e um aviso, para você se mostrar. OrelhaCortada era importante para mim, sim, mas ninguém me fará me mover por ele. Eu me movo por mim. Não luto as lutas dos outros.

- E quanto ao sedenerá?

- Ele era importante apenas para ele mesmo.

- E qual sua luta que me envolve?

- Os outros podem não ter observado naqueles dias, mas eu vi o resultado de seu ataque no acampamento de OrelhaCortada, e soube na hora que, antes de ser um puma, você era uma outra coisa, escondida, disfarçada, latente. Eu não sabia o que era, mas não gostei naqueles dias. A verdade é que eu já sabia que você é um perigo para todos.

Uivo respirou fundo.

> Mas agora eu sei o que me incomodava. Os boatos correm, nós os ouvimos. Que espécie de demônio você se tornou?

- Eu ainda não sei.... Mas... – o olhar triste voltou para o céu, confuso. Os boatos então tinham ido longe. Se perguntou se a comitiva já sabia, uma dor estocando suave seu peito. – Aposto que me pintam como algo aterrador.

- Essa é a parte que não entendi. O relato do lobisomem que você atacou foi um pouco estranho para alguém que se encontrou com um demônio. Ele disse que viu a luta em você - revelou Jádina. - Estranhamente, muitos ainda confiam em você.

- E você não?

- Eu deveria confiar em você, quando você mesmo se teme?

Uivo viu o momento em que uma urgência tocou os olhos de Jádina. Sem pensar se adiantou e se abraçou nela, protegendo-a do que vinha contra eles. Ainda se poderava em puma quando sentiu um empurrão brusco. A dor foi monumental. Todo seu corpo doía. Com esforço empurrou Jádina para longe. Olhou para o lado e viu um grande sombra em cima dele. E tal parecia ser o ódio que o movia que desconsiderava totalmente o esforço de Jádina em pará-lo.

A dor foi imensa quando o esporão foi entrando pelas suas costas, procurando se enterrar em seu coração.

Foi sem pensar, foi uma reação de sobrevivência.

O manta soltou um urro violento quando uivo se envolveu completamente em sombras pesadas, farpas crescendo nas costas e atingindo o demônio. Havia ódio e desprezo quando Uivo tirou o demônio de suas costas e se virou de frente para ele, que recuou confuso, apavorado com os muitos ferimentos sofridos.

Depressa ele tentou recuar, os olhos se voltando para cima, marcando sua rota de fuga.

Num átimo Uivo o alcançou e o segurou, fiapos de sombras como dezenas de garras movendo-se como se estivessem vivas, mantendo-o imóvel à sua frente. O sombra tentou usar o esporão, mas num movimento ele foi partido e arrancado fora. O urro de dor ecoou longe, até que Uivo o rasgou ao meio. Com desprezo lançou os pedaços para os lados. Quando encarou dois mantas e um sombra que vinham contra ele havia um desprezo cavernoso e profundo em todo seu ser. Num relance voou para cima, levando os demônios em seu encalço.

Então, num giro rápido e violento ele inverteu o movimento e desceu sobre os três.

Quando bateram com estrondo no chão o pequeno manta se desfazia no ar, enquanto Uivo mantinha o outro manta e o sombra presos em dois longos tentáculos escuros e esfumaçados cravados na terra. Os dois se debatiam horrorizados, enquanto de forma lenta e metódica Uivo os despedaçava usando outras farpas de sombras.

Assim que os dois se desfizeram Uivo parou de súbito dois coloridos que fugiam, e com um movimento leve e suave os destruiu.

Com velocidade feita de puro ódio atingiu mais três seres, antes que pudessem se afastar.

O grito de Jádina o fez parar, mantendo os três imóveis. A pressão aumentava sobre eles, mas algo lutava dentro de Uivo.

Jádina correu até parar perto dele, a seta quase encostada em sua têmpora feita de fumaça.

- Solte-os! Deixe-os ir, demônio, ou você morre aqui.

Jádina se manteve firme, vendo farpas cinzas e movediças lentamente cercando-a pelos lados.

- Eu não faria isso – murmurou ameaçadora.

Jádina o viu virar o rosto para si sem soltar os três companheiros. Havia desprezo e uma arrogância perigosa demais naqueles olhos estranhos.

- Jádina, não!!! Pelo amor de Tupã, saia de perto dessa coisa – ouviram o grito desesperado de Danbara, que se aproximava correndo, em companhia de vários guerreiros.

- Você não vai sobreviver aqui, demônio – ameaçou Jádina novamente.

As respirações dos que observavam a cena foram suavizando quando perceberam que a fumaça escura de que era feita a criatura e os olhos vermelhos que espreitavam de dentro da nuvem foram se suavizando, as farpas que quase tocavam Jádina desaparecendo lentamente como uma fumaça tocada por uma brisa.

Então os três prisioneiros foram libertados.

Assustado, Uivo então se deu conta de que quase matara Jádina e seus três companheiros. Seus ombros caíram, a face mostrando toda a dor e tristeza que vagava dentro dele.

Mantendo os olhos nela se despoderou de súbito.

Uivo ficou parado, os olhos agora tristes preso nos dela, vendo-a tirar a pressão da seta e descer o arco, totalmente em silêncio.

Quando Danbara se aproximou Uivo virou a cabeça e a encarou.

- Peço desculpas a todos. Não tinha a intensão de colocá-los em perigo, ou de me poderar como demônio – falou controlado e triste.

Danbara o olhava revoltada.

Rapidamente passou os olhos por Jádina, conferindo que ela não estava ferida. Não se preocuparia, ou ficaria triste se ela caísse numa batalha com inimigos, mas ser morta por alguém que deveria estar do seu lado era algo terrível demais, e ela não poderia tolerar isso, ainda mais se considerasse que havia sido ela que deixou o inimigo seguir ao lado do grupo.

- Então você pode mesmo se poderar em demônio... O que pensou estar fazendo? – gritou aplicando um golpe violento no rosto de Uivo.

- Sinto! – respondeu Uivo, um filete grosso de sangue escorrendo do sobrolho esquerdo e do nariz. – Eu... eu já vou indo.

O silêncio era pesado quando Uivo se poderou como puma e começou a se afastar.

Ele ia lento e pesado, dominado por uma tristeza profunda que parecia existir em cada passo que dava.

- Espere! – ouviu Jádina pedir.

Uivo parou. Devagar se virou, encarando a comitiva que o olhava confusa.

> Espere! – pediu Jádina novamente, se aproximando de Uivo. – Eu o vi lutar, e vi o que o movia. Não era apenas ódio e insanidade. Sei, agora, que tem a força necessária para vencer a si mesmo. Desejo-lhe sorte.

Danbara, apesar de surpresa, suspirou profundamente, se controlando. Por fim, sorriu e caminhou até eles.

- Uivo... Eu não vi tudo o que aconteceu, mas vi que se controlou e como você foi parado facilmente por Jádina. Eu vejo minha irmã confiando em você, o que para mim é uma surpresa. Confio nela, e sei que ela deve estar certa nisso. Então, quando estiver completo, será uma honra tê-lo conosco. Que seu caminho para se conhecer seja o caminho do guerreiro. Sei que será assim, nobre e altivo como é. Boa sorte.

Um sorriso triste surgiu em Uivo, que as olhou cuidadosamente.

- Obrigado pela confiança de vocês. Talvez não saibam, mas todo o bem que se recebe, fortalece o que de melhor temos. Me sentirei honrado se algum dia puder retornar. Obrigado a todos por me terem permitido batalhar ao lado de vocês. Obrigado, Jádina – agradeceu, um sorriso triste morrendo na face.

Dito isto se virou e se afastou. O passo, que a princípio era lento, logo se tornou apressado, logo o colocando fora das vistas.

Danbara voltou-se para a imã, olhando-a curiosa.

- Essa não é a Jádina que conheço. A que conheço teria disparado a seta e acabado com a ameaça logo de cara.

- Ele matou os sombras e mantas sem pestanejar, mas parou nos três. Eu vi a luta dele com ele mesmo. Eu apenas reforcei a sua tendência. Ele poderia ter matado os três em questão de segundos assim que os capturou, mas parou indeciso. E foi só ouvir minha voz que ele se recuperou. Ele está quase conseguindo vencer o demônio de que é feito. Se ele conseguir, irmã, será um guerreiro formidável. Precisamos dele!!!

- Você... Não me diga que era por isso que era contra ele...

- Eu não sabia o que era, mas apenas não confiava nele, sentia algo muito perigoso nele – explicou ela. – Quando os boatos começaram a chegar foi que eu entendi.... Mas, como não tinha certeza, resolvei esperar...

- Éééé... Minha irmã crescendo. Que bom isso... – congratulou com um sorriso aberto enquanto se virava e tomava o caminho do acampamento.

Jádina ainda ficou algum tempo observando o caminho que Uivo tomara. Em seus olhos ainda estavam os olhos vermelhos da criatura que vivia dentro da nuvem espessa. Mas, havia visto algo mais lá, algo nobre, algo com uma força incrível.

- Sorte! Que vença o que te tortura e te grita que não tem futuro – desejou para aquele que se perdera na distância.