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ADEUS, JÁDINA

De quantas pessoas incríveis precisamos para construir nosso mundo?

- O mensageiro é do danush de Adanu, não é? – Danbara perguntou para Uivo, observando a face triste do amigo e o pássaro que aguardava uma resposta, num galho mais baixo de uma araucária ao seu lado.

- Sim... Tenebe pede a minha presença – falou se aproximando dela.

- E vai?

Uivo mexeu as orelhas, como fazia apenas quando ficava tenso. Danbara viu os olhos dele, pousando sobre uma figura silenciosa que descia um morro em direção a eles. Pelos modos ele sofreu por ela parecer abatida e pensativa.

- Gostaria de ficar, mas...

- Eu sinto um chamado de Allenda – Danbara engoliu em seco. – Estou certa?

- Não sei, Danbara. Mas sim, ela vai estar lá...

- Eu sei que ela vai estar lá, Uivo, e minha irmã também. Converse com ela. Ela sabia, desde o começo... – falou, vendo que Jádina se aproximava lentamente.

> Quanto a você – falou se dirigindo para o pássaro, - vá e avise que ele vai atender ao chamado do danush.

Jádina se aproximou, e segurou seu braço, se abraçando nele, observando-o pelo canto dos olhos enquanto ele observava a partida do pássaro. Sorriu ao ver aqueles olhos que tanto conhecida, vendo ali apenas saudades de uma flor-do-mato. Quando estava com ele sentia essa dor, essa falta. O abraçava com força, tentando ser o que ele procurava, mas a alma dele sabia a diferença, e ela entendia isso, essas linhas que o Trovão tecia.

- Você deve ir, Uivo – sussurrou com a voz gentil e macia.

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- Eu não sei bem se quero... – murmurou, vendo todos os que estavam ao lado o olharem como uma despedida silenciosa, enquanto se afastavam.

- Sabe sim, meu bem. E você deve ir, para não ser uma pessoa amarga e chata. Foram dias maravilhosos, esses que tive com você, Uivo. Obrigada. E não precisa ficar com receios. Se você e Allenda se acertarem, vou ser sua amiga do coração. Mas, se não voltarem agora, e enquanto não voltarem, você é meu – ela riu, ficando bem abraçadinha com ele.

Uivo deixou seus olhos escorrerem pela paisagem, logo se fixando nos olhos de Jádina.

> Sabe, fico feliz por você, meu grande amigo – Jádina falou.

- Não, você está pensando errado, Jádina. É o Tenebe que me chama. Vou ver o que ele quer, e volto logo.

- Não, não será assim, e estará tudo bem – falou se apertando nele. - Vocês homens são meio tapados para algumas coisas, e coisas do coração é uma delas. Allenda, meu querido Uivo, é ela que te chama. E, de todo o meu coração, espero que realmente tudo se acerte entre vocês. Juntos você poderão ser tudo o que vieram para ser, você vai ver. – Agora, vai...

- Não, eu ainda...

- Meu querido, por enquanto o nosso tempo aqui acabou – falou se abraçando em sua cintura, levando-o para frente da comitiva, que estava toda na entrada do acampamento, como se aguardando para se despedir dele. – Cuide de sua alma. Então, vá e lute por ela.

- Então lá se vai nosso lobinho endemoninhado – falou Danbara quando os dois pararam à frente da comitiva. – Foi uma honra imensa estar com você, Uivo. Você faz parte de nós, e sempre será bem-vindo, você sabe. Vá em paz, meu amigo. Akindará.

- Akinda... – devolveu Uivo sem conseguir completar a frase, a voz embargada, um sorriso doloroso preso no rosto.

> Akindará, Uivo... – Jádina se despediu dando-lhe um beijo demorado.

Uivo a estreitou em seus braços, o olhar luminoso posto em Danbara e nos outros, os quais olhava com carinho.

- Agradeço demais a vocês, que me receberam tão bem, apesar de todos os riscos. Vocês são minha família, e sempre estarei por perto para vocês. Se cuidem, se cuidem bem. E quanto a você, Jádina... – a voz falhou, e por mais que tentasse, não saia.

Ela riu e lhe deu um beijo forte e demorado.

- Eu sei, meu bem, eu sei. Também o tenho de uma forma especial demais. Que nossos caminhos se cruzem muitas e muitas vezes. Akindará, Akindará – se despediu.

Devagar Uivo foi se afastando, sentindo uma dor estranha em todo o seu ser. Era como se houvesse um cordão luminoso o ligando com aquele grupo, e doía muito quanto mais ele era esticado.

Na beira da floresta parou e olhou para o grupo. O coração bateu forte quando eles levantaram as mãos em despedida, o coração latejou quando Jádina ficou sozinha, olhando-o, esperando para ir-se quando ele se fosse.

Então se virou e entrou na floresta, liberando-a para que ela seguisse o caminho dela.