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A BATALHA DOS DEMÔNIOS

Não se aproxime! Me cansei dos dias sem luz, dos dias tristes. Agora, ao ver o dia nascendo, descobri que quero uma alma nova.

Mercator sentiu a aproximação e se virou bem lentamente. Havia uma maldade se aproximando, e ficou se perguntando por que se sentia incomodado.

Curioso, resolveu aguardar.

Não demorou muito e um ser, feito de fiapos de fumaça pesada surgiu.

- Ora, não é que é verdade? Um demônio confuso e louco... – riu o que se aproximava, parando a alguns metros de Mercator.

Mercator não falou nada. Ficou apenas ali, pensando, analisando, observando o demônio.

Vendo que ele não tinha intenção de ir embora, bufou insatisfeito.

- O que veio procurar aqui?

- Aposto que você é o que traiu Trevas e Escuridão, não é?

- Então, conhece os dois...

- De vez em quando fazemos negócios!

- E eles o mandaram?

- Não, não mandaram. Mas me disseram que havia um demônio louco por essas terras baixas. E aqui estou! Eu queria ver isso...

- Já viu! Agora se afaste, vá embora!

- Eles me avisaram que você é arredio... – riu novamente, a fumaça se revolvendo suave.

- Vá embora! – repetiu se virando, desconsiderando o demônio arrogante, os olhos seguindo o sol que nascia sobre o horizonte. E, acima dele, as nuvens pareciam um teto floculado. De repente sentiu vontade de voar até lá, se deixar naqueles blocos brancos. – Vá, não há nada aqui que te interesse.

- Sabe, demente – o demônio se aproximou mais, ameaçador, a voz rascante e dura, - essas terras são minhas. Você é que deve ir embora. Desapareça!

- Vá embora! – Mercator se virou e se aproximou do demônio. – Não me conhece muito bem para vir aqui me ameaçar.

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- Ora, digamos que sim... Mercator, o demônio que os anjos enlouqueceram e mantém assim. Mercator, o indeciso, o fraco. Pelo que contam, você sempre foi um louco, um desesperado. O Trovão deve ter se divertido em deixar você assim...

- OtentaPui – Mercator chamou o demônio pelo nome. – Sei quem você é, e sei de sua dor, de seu medo. Um neto de demônios – sorriu com desprezo. – A muta realmente mexeu com você, não foi? Ela viu sua alma apodrecida e decidiu que não seria adequado ser você – falou, a voz ameaçadora e pausada, parecendo uma rajada correndo entre pedras. – Ela deve ter se divertido ao fazê-lo saber de sua estória.

- Saber da minha estória não me torna cativo... – sorriu por sua vez.

- Os seres dessas terras sabem do acordo que fez com os demônios? Acredita mesmo que seu avô terá compaixão por você?

Mercator o olhou profundamente e o desprezo aumentou.

> Suas tramoias e traições não me interessam. Pensa mesmo em se tornar o mestre absoluto? Acha que os demônios serão tão inocentes que se deixarão envolver pelas suas mentiras? Vá agora! Seu tempo está se esgotando...

- Sabe, essas terras já foram boas. Agora, há coisas demais por aqui. Está na hora de dar uma limpeza.

O demônio cresceu subitamente e avançou, o cinza tornado negro rajado, feito de milhares de fiapos letais que procuraram por Mercator.

Mercator se desviou com facilidade, a espada desembainhada, o arco descrito, a manta negra atingida.

O demônio recuou, observando o rasgo em seu corpo. Com um sorriso cínico se recompôs.

- Acha que uma espadinha poderá me impedir de te destruir? – Riu.

Mercator apenas atacou em um giro violento. O demônio se esquivou e numa sanha assassina girou sobre Mercator, milhares de lâminas envenenadas procurando sem piedade pelo gigante, que movia a espada em tal velocidade que parecia haver um escudo envolvendo-o.

- Vá embora enquanto permito – falou Mercator se desvencilhando, os olhos duros fixos no demônio que sorria cinicamente.

O demônio atacou novamente, determinado a dar cabo de Mercator.

Um estampido atingiu ao redor, varrendo tudo como uma onda.

O demônio sorriu dominador quando a espada voou das mãos de Mercator, que se afastou alguns passos, o rosto duro e indiferente.

O demônio não deu trégua. Dominador caiu sobre Mercator, que desfraldou suas asas e, usando-as como escudo e arma, atingiu duramente OtentaPui vezes seguidas, jogando-o violentamente contra o chão.

O demônio se levantou e avançou novamente, girando e estocando, tentando envolver Mercator.

Mercator, com apenas um movimento, segurou o demônio, que o estocava desesperado. Mercator apertou um pouco mais as mãos que seguravam o demônio. OtentaPui sentiu, pela primeira vez, um sentimento estranho. O medo o atingiu dolorosamente.

Mercator, tomado de ódio, girou o corpo e o empurrou violentamente contra o paredão de granito. Então, sob o olhar de ódio e frustração do demônio, com a mão direta trouxe para si a espada.

- Essa não é uma espada comum – falou. – Ela já foi de um arcanjo, destinada a um demônio..., que era eu.

Então com bastante lentidão penetrou a espada no ombro de OtentaPui. Subitamente, num giro rápido, a espada cortou o demônio. OtentaPui levou os olhos para o corte profundo de ombro a ombro, sem poder acreditar. Enquanto se desafazia viu Mercator embainhar a espada e partir sem se importar em ver que ele morria, se perdendo acima do sol, em nuvens que pareciam castelos alvos flutuando no azul.