Eu sei que a minha estória é muito maior que a estória do corpo que uso...
Arael desceu suave no alto da árvore. Era muito estranha a falta e a saudade que a assaltavam de vez em quando.
Lampejos a atingiam em ondas, que vinham e rapidamente se perdiam, como os anjos que via de quando em quando por entre as nuvens ou pontos minúsculos contra o azul do céu, como se a estivessem mantendo sob cuidados.
Sorriu.
Sabia que era uma entrante, que não nascera naquele corpo, que não o vira crescer e evoluir, como sabia que não havia caído com ele naquele mundo.
Era uma entrante, e estava muito bem com isso.
Se ajeitou de cócoras sobre o galho da árvore. Lentamente fechou as asas às costas, deixando o pensamento escorrer pelas copas das árvores, sentindo o coração cheio e luminoso.
Ao ver ao longe uma progressão de seres escuros no chão da floresta, fechou sua mente. Não queria uma batalha, não queria nem ao menos um mínimo de enfrentamento. Tinha muita coisa em que pensar, e batalhar a tirava do foco.
Suspirou fundo, sentindo-se incomodada. Para o oeste, não muito longe, viu um grupo de pessoas sendo cercado por outros mantas e alguns coloridos.
Deixou os ombros caírem desanimados, quando os escuros desceram sobre aquelas pessoas. Com cuidado ficou observando as altas encostas onde eles estavam sendo atacados, se esforçando em manter suas emoções distantes.
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Viu, como se fosse em um filme, um curupira e um caipora dando combate a três mantas, e deles se livrando com alguma dificuldade. Viu o curupira ser atingido várias vezes por lanças e setas e tombar no campo, logo se desfazendo em fagulhas.
Como se estivesse profundamente cansada se levantou e neles fixou sua atenção.
Então deixou suas emoções retornarem, pensando nos sorrisos que se iam, nos olhos que estavam se apagando, apenas porque alguns desejavam, ... que apenas desejavam a admiração e o trabalho dos outros.
Foi esse pensamento que a ergueu de vez.
Em silêncio desceu atrás das linhas dos coloridos, a espada violeta zumbindo suave. Quando os coloridos perceberam a nova atacante e a enfrentaram, eles apenas foram caindo enquanto ela avançava, fria e irresistível.
Tomadas de energia as pessoas viram suas forças renovadas e se poderaram com mais vibração, e logo tudo estava acabado.
Arael embainhou a espada, que diminuía enquanto se acondicionava na pequena bainha na coxa.
- Você é um anjo? – perguntou uma manira-ellos de lindos modos parando sorridente e feliz à sua frente, secundado por todas as outras pessoas, de rostos agora luminosos.
- Já fui – falou com suavidade. – Devem ir embora, porque esses lados não são mais seguros. Vocês estão muito próximos do lar dos demônios – falou fazendo referência às altas montanhas do oeste.
- Sabemos, demiana. Estávamos abandonando essas terras, mas fomos cercados. Obrigada pela ajuda. Akindará, demiana – falou a manira se despedindo, fazendo sinal para todos se apressarem em sair daquelas terras.
Arael ficou em silêncio, o coração feliz, enquanto uma a uma as pessoas passavam à sua frente, os olhos luminosos, as faces sorridentes se despedindo agradecidas.
Assim que a última pessoa se afastou e se perdeu ao longe, Arael sentiu algo diferente. Devagar se voltou para o alto do céu a oeste.
Seu coração levou um baque quando viu a grande forma de um ser estranho desfazer um largo círculo no céu, como tivesse ficado algum tempo ali a observando. Seguiu a forma, que logo se perdeu além de uma alta montanha mais para o oeste, para dentro do território dos demônios.
Em seu coração desconfiava de quem seria, e se perguntava se ele realmente se afundava nas terras ao oeste em desafio aos demônios.
Sorriu.
Suspirou fundo, deixando se perder na visão de um demônio velho se amargurando enquanto ela morria em seus braços.