Um toque na alma, um lembrete mágico enviado por Deus. Como faço para guardar isso no meu coração, e não deixar que desapareça?
- Ora, ora, então aqui está você.
Fiquei confuso, observando a estranha figura que surgira na minha frente. Eu só me lembrava de que sentira uma grande dor se irradiando a partir do meu peito, e nada mais além de estar ali, naquele ambiente estranho, de frente para aquela mulher.
O local era um monte, no meio de montanhas e outros montes, e todo o local estava estéril. Não era um deserto, mas não havia ali qualquer árvore ou qualquer mato, mas apenas terra, vermelha, amarelada, meio enegrecida, por toda a vastidão a volta que meus olhos alcançavam.
- Não sei quem é você, nem que lugar é este. Então...
- Você morreu, meu bem, ao menos por um tempo.
Olhei para a mulher, como se ela fosse demente. Dei uma risada cínica.
- Ainda estou aqui. Então essa estória de que...
Súbito não estávamos mais sobre o monte pedregoso, mas sobre uma montanha nua.
- Você está em minha mente... – comecei a acusar.
- Você morreu por um tempo – ela insistiu, apontando para um banco, que não sei de onde surgira. - Sabe, Evandro, você foi trazido aqui por solicitação de seus orientadores.
Ela levantou a mão, me pedindo para só ouvir, o que fiz, muito estranhamente.
> Você é arrogante demais, e trata muito mal todos os seus funcionários, a família, a natureza, e até mesmo o seu próprio corpo. O triste é que você sabe disso, e tudo isso vai se voltar contra você, quando seu corpo realmente morrer.
- Mas, afinal, quem é você para...
- Sabe – continuou, pouca importância dando à minha raiva e estranheza, - tratar mal os outros te elevará para uma vibração ruim que muita dor irá te trazer, e a forma como trata seu corpo será visto, por você mesmo, como uma forma de suicídio, e te digo que isso te trará ainda mais sofrimento.
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Repentinamente o lugar agora era opressivo e escuro, e eu podia ouvir gritos e lamentos dentro da escuridão. Um cheiro ruim de água parada e lama podre se levantava daquele lugar.
Minha mente que vinha febril parou de súbito, e eu fiquei apenas escutando, e sentindo. Todos os meus cinco sentidos estavam alertas, e então eu vi que sabia que aquilo ali era verdade.
- Me explique! Esse nosso encontro é uma chance?
- Sim, essa é uma chance, que você se deu caso se esquecesse dentro dessa experiência. Esse não é um ponto de saída, porque se você sair agora, seu sofrimento será terrível; esse é um ponto de lembrete e de atenção que se deu.
- E se eu não o usar? – murmurei tomado de preocupação.
- Será uma escolha sua, e como toda escolha haverá uma consequência. Tudo bem, se ela é o que você busca – sorriu.
- E se eu escolher mudar minha forma de agir?
- Também é uma escolha, com consequências também. Escolhas, meu amigo, é somente isso.
- Essa é uma EQM[1]?
- Não, porque você teve apenas um mal que ocasionou um desmaio profundo. Logo você irá acordar.
- E irei me lembrar desse nosso encontro?
- Irá, porque assim foi acordado para essa sua vida.
- Entendo... Mas, todo o mal que já fiz, pode ser pago, apagado?
- Você precisa entender que isso aqui é apenas experiência, meu amigo. Se você tiver culpa, e se as acusações dos que tiveram essa experiência com você e aceitaram ser vítimas nela te pesarem, sua vibração irá se apequenar, e você irá sofrer. Se você entender que está experimentando situações e elevar suas vibrações, então haverá salvação. Escolhas, escolhas e escolhas... E perdão, para si e para os outros, um perdão profundo e autêntico. Então, meu querido amigo, faça o seu melhor na experiência que se deu...
E, dito isto, ela tocou em minha testa.
Foi como um soco, e logo me vi em meu quarto, caído aos pés da cama.
Suspirei fundo e me senti irritado, porque ninguém viera me acudir. Me levantei e toquei com brusquidão na maçaneta da porta.
Mas então parei.
Voltei para a cama e nela sentei.
Então liguei para o escritório, dizendo que não iria na empresa naquele dia.
Um frio terrível, feito de medo, se arrastava pela minha mente e pela minha coluna. Devagar fiquei rememorando tudo o que me acontecera, dando atenção aos mínimos detalhes, tentado desesperadamente ver a realidade nessas visões. Eu tinha que me esforçar muito para que minha mente não me convencesse de que tudo fora uma alucinação de uma mente esgotada pelo trabalho.
Suspirei fundo, tentando achar alguma forma.
Então senti algo em meus sapatos.
Devagar tirei um deles, e vi que ele estava com terra vermelha dentro dele.
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[1] Experiência de quase morte.