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O QUINTO PLANETA

Se eu pudesse me lembrar de tudo que fiz e fui, como eu me sentiria com o que sou agora?

O jato de plasma passou à milímetros da minha cabine. Eu girei a nave o mais rápido possível, protestando alto contra o robô que fora atingido logo no início do combate. A nave agora era só um pedaço matéria e energia que eu tinha que controlar e comandar. Eu recebera treinamento para esse tipo de ocorrência em Trakun, em Alnitak, no cinturão de Orion[1], mas todo o treinamento, por melhor que fosse, nunca iria se equiparar àquela maldita realidade.

- Como está aí? Vai conseguir? – perguntei aos gritos para o tripulante, que tentava restaurar a mente robótica da nave.

- Ela foi atingida. E juro que não foi por acaso. O disfarce para que não a encontrassem não foi lá muito bom.

- Mas, como conseguiram passar pela defesa? – gritei a pergunta, me desviando de um disparo de laser.

- Sei lá, capitã... Aparentemente foi um trabalho muito apressado. Ela está fora de combate – relatou, sentando-se ao meu lado.

- Se ela está, então também estamos. Não tem como sobrevivermos por muito tempo.

- Talvez tenha... – cismou ele.

- Eu sei o que está pensando, e aposto que eles também sabem.

- Tudo bem. Mas, o que nos resta então? Essa frota que se chama de frota da luz está muito bem preparada agora. E nossa nave-mãe se foi – lembrou ele, mexendo em muitos controles.

- Realmente, não nos sobrou muitas alternativas, não é mesmo? Bem, então podemos brincar um pouco, o que acha?

- Vender caro?

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- Isso, vender bem caro.

- Concordo. Mas, em que você está pensando?

- Naquilo – apontei com o dedo além da janela de força, para o pequeno planeta, onde todos sabiam que havia uma pequena base da frota da luz.

- Sem captura – ele concordou.

- Sem captura – respondi, plugando minha mente na nave, assumindo o papel, mesmo que de forma incipiente, de inteligência robótica.

Então sai detrás do segundo planetoide daquele cinturão e, de asteroide em asteroide, fomos nos aproximando de Kálidus, o maior planeta daquele cinturão.

Ele tinha quase o dobro do tamanho do segundo, ou seja, exatos 1.643 km de diâmetro.

Como se fosse o toque suave de um dedo senti o contato da base instalada no planeta-anão. Simulei inércia e deixei o feixe de exame livre para nos observar. Então logo ele se dissipou.

> Não vamos ter muito tempo – sussurrei. – Dispare ao meu comando. E, quando você disparar vou ter que sair bem rápido. Você vai continuar a cuidar das armas, porque eu vou estar muito ocupada ziguezagueando por esse cemitério. Está certo?

- Claro que sim – ele sussurrou de volta.

- Está bem – falei baixinho e bem devagar, a mente concentrada em virar a nave, deixando as armas na direção do planetoide. Sabia que assim que a energia começasse a encher as naves, a gente iria receber uma grossa saraivada. A gente teria que ser muito rápido. – Agora – sussurrei mais forte, a nave totalmente apontada.

Foi muito bom ver as armas se enchendo com estupidez, cuspindo um grosso banho de plasma e muitas saraivadas de laser.

Quando reagiram, antes de serem impactados, eu já girava a nave, prontos para partir. Mas, como achava que iria acontecer, fomos duramente atingidos, e nossa nave morreu ali. Na explosão de Kálidus eu vi grossos pedaços sendo atirados para o planeta agora vermelho, e muitos pedaços sendo atirados na direção do maior planeta daquele sistema miserável. Quase dois terços daquele planetoide seria engolido pelo vermelho ou pelo gigante, pequena parte seria lançado no espaço, e o resto iria engrossar o cinturão de asteroides.

Eu estava perdida nesses pensamentos quando a onda de choque nos pegou, e estilhaçou o casco de matéria da nave, selando seu destino, visto que os campos de força que mantinham sua integridade e a protegiam do exterior já estavam em rápido declínio. Só deu tempo para um pequeno sorriso para o meu companheiro, que estava morto, uma barra enfiada na cabeça, quando o campo cedeu e a atmosfera se foi, enquanto a nave se dirigia rápida contra o gigante, onde iria desaparecer.

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[1] O cinturão de Orion, mais conhecido como as três Marias, é composto pelas estrelas Alnitak, Alnilam e Mintaka. Na época, esses sistemas faziam parte de Drakonis, uma extensa colônia draconiana, há pouco tempo tomada pela federação da luz.