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DESPEDIDA DE MAGO

E se pudéssemos experimentar a dúvida sem o medo...

Eu andava, apenas isso, apenas andava. O dia estava maravilhoso, e eu me sentia muito bem. Ao longe eu vi o vale descendo das montanhas, com a linha fina branca e brilhante como um fio de prata que ora se aproximava da base de uma montanha ou de outra, dentro do largo vale, e às vezes até mesmo sumia.

Hoje eu acordei com uma sensação estranha, era como um amortecimento de tudo, mas das coisas ruins. O sol, por outro lado, estava mais brilhante, como as folhas e matos e árvores estavam mais verdes e vistosos. Eu nunca tinha sentido algo assim, eu acho.

Além disso, hoje parece ter se acentuado o que já vinha acontecendo há algum tempo: eu já não conseguia mais diferenciar os vivos dos mortos, e a ambos eu prestava consulta. Quando alguém me olhava estranho, após eu ter cumprimentado outra pessoa, ficava claro que eu acabara de cumprimentar alguém que já não estava mais no mundo dos vivos.

Eu sorria, como as pessoas também sorriam compreensivelmente, pois todos ali me conheciam.

Meu mentor, que sempre me acompanhava, se mostrou ao meu lado, o mesmo sorriso disfarçado e bondoso de sempre.

Ele não me disse nada, apenas se sentou, ou sentou em uma mesma pedra em sua dimensão, e ficamos os dois ali, quietos, vendo as sombras das nuvens correndo pelos vales e montanhas; a águia que passou quase à nossa frente; a joaninha que pousou por alguns segundos numa folha de grama e se foi. Suspirei fundo e calmo, e me pus quieto dentro do meu peito, apenas deixando o mundo se iluminar, como parece que eu me viciara nisso.

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De repente as árvores eram feixes de luz, como as montanhas tinham uma aura tão incrível que ainda me fascinaram de novo. E as águas então? É difícil descrever os córregos e rios que desciam das montanhas. Eram como... Não consigo explicar... Mas, enche a alma de algo tão... grande, que é difícil falar sobre. Olhei para o céu, agora mais vivo e cheio de cores. As nuvens que corriam eram como lenços de prata onde a luz do sol brincava de pintar e dar vários tons.

Observei uma árvore ao meu lado. Senti o cheiro adocicado da seiva, que via como cordões de luz subindo pelo tronco e se espalhando em luz dourada, exalando uma respiração quando tocava o sol.

- Sabe que não quero partir, não é mesmo? – sussurrei.

- Isso aqui é apenas uma pequena parte do todo, e além disso muito pobre.

- Eu sei – sussurrei novamente. Deixei um sorriso pequeno escapar, compreensivo a mim mesmo. – Apesar de saber que não sou responsável pelas pessoas que estão aqui, e mesmo das que me procuram de longe, me dói um pouco saber o que está para acontecer.

- Sei que sabe disso. Cada um escolhe seu caminho. Eles quiseram experimentar isso que experimentam agora, e o que vem também. É como você... Aposto que, quando estiver para decidir reencarnar novamente, vai olhar para este mundo e todas as suas possibilidades, e se dirá: por que não? E talvez volte em uma condição sofrível, ou como um marginal, ou como uma mãe caridosa ou como um guerreiro cruel, ou prostituta ou um santo ou... Será a sua escolha, meu querido amigo, e sei que será uma boa escolha, que te levará pelo caminho que quer seguir.

- Sempre de olho nos prêmios, não é mesmo? – sorri.

- Ah, sem dúvida, os dados e os recebidos. Essa é uma experiência incrível, não é mesmo?

- Sem dúvida que é... – concordei, me levantando na companhia do meu mentor, vendo meu corpo tombado na terra.

Olhei para o lado da aldeia, e vi pessoas correndo e falando alto enquanto se dirigiam para onde o meu corpo estava.

E eles foram ficando cada vez menores, cada vez menores, e cada vez mais embaçados...