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A ESCURIDÃO

E se um anjo não tivesse porque tomar o poder de um outro?

Dei mais força aos motores, mas era óbvio que não conseguiria escapar daquelas naves. A minha era uma nave comum, enquanto aquelas, apesar de menores, eram nitidamente mais rápidas, e estavam completamente armadas.

Fomos avisados de que isso poderia acontecer, como fomos avisados de que algo tomara uma direção totalmente nova. A perfeição tivera seu fim decretado, muitos gritavam, tomados de uma daquelas sensações novas e até então desconhecidas, que chamavam de medo. E esse sentimento era terrível, porque ele gerava uma sensação de destruir antes de ser destruído, de iludir para que a verdade do que se pretendia não pudesse ser bloqueado, e a sensação de se estar totalmente sozinho, porque não se poderia mais confiar em ninguém.

Que coisa foi essa que se espalha por esse universo?

Vi uma ravina profunda e arborizada, e rapidamente joguei minha nave para dentro dela, estupidamente desejando acreditar que conseguiria enganar a nave que tentava, incompreensivelmente, me destruir, como se eu pudesse enganar sua tripulação, humana e robótica. Mas, o que me sobrava?

Então, com certo alívio, vi as naves se elevando subitamente e desaparecendo no céu.

Me recostei no assento, minha mente tentando entender qual o propósito de tudo aquilo. Diziam que era por poder, mas, que poder? Poder sobre o que? Diziam que era para dominar as pessoas e obrigá-las a trabalhar para eles, para que eles tivessem muito mais de que se eles só produzissem eles mesmos. Eles queriam ter mais, mas para que?, me perguntei confuso.

- Como pode alguém querer dominar um outro? Já não temos tudo de que precisamos, com base no que merecemos? Ter mais nos deixaria melhores?

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Mas, acabei desistindo dessa linha de pensamento. Era tudo muito estranho, e estava começando a me dar dores de cabeça.

Foi então que vi porque as naves se foram, mesmo podendo ter me capturado. Uma onda gigantesca de fogo e destruição subia do horizonte, enquanto o solo começava a se revolver com violência.

Tomei altura depressa, e vi que estava perdido.

A lua em que eu estava, estava sendo destruída.

Foi muito rápido. A onda me atingiu com violência e dissolveu em pó a nave e a mim. Nem deu tempo para gritar. Num momento estava na nave, e no outro flutuava na terrível tempestade de fogo e ódio.

Suspirei, me afastando. Acharia um outro lugar, bem mais distante, para encarnar novamente, decidi.

Então volitei para minha cidade natal, e não reconheci mais os grandes salões da magnífica cidade.

Ali também era somente destruição. A cidade que outrora fora uma joia fumegava, arruinada que estava. E havia algo mais pesando sobre ela: era uma escuridão profunda e dolorida, e solidão. E ouvi sussurros, e temi pelo que estava por vir.

- Tudo muda a partir daqui – ouvi um mestre antigo falando, como se estivesse confidenciado algo.

Me virei para ele.

- Mas, o que está acontecendo? Eu vejo essas coisas terríveis, e vejo se misturando nelas sentimentos estranhos, escuros, mas de um nível que nunca tinha acreditado que poderia acontecer.

- Meu filho, este é um novo degrau da experiência.

- Mas, eu não aceito isso, não vou ajudar a criar isso... Isso não acontecerá! – declarei já mais confiante.

- Agora há o mal, e ele já corrompeu uma quantidade imensa de seres, insuflando-lhes medo e horror, e eles caíram, e estão puxando consigo toda a criação. Não há mais como escapar disso, não nesse universo. E os universos outros foram fechados, para que o mal não escape daqui.

Me voltei assombrado para tudo aquilo, e rapidamente minha alma tomou consciência de tudo. Realmente estava tudo ali, vi de súbito, tomando consciência do que estava acontecendo ao me ligar nas mentes dos meus irmãos, ligação que cada vez se tornava mais pesada.

Agora eu via, e chorei pelo que estava acontecendo.

A experiência tomara um novo rumo. Agora havia dualidade, o bem a o mal, a luz e a escuridão, a felicidade e o desespero.

- E havia o esquecimento – sussurrei enquanto tombava em direção a um planeta distante, onde um novo corpo estava sendo gerado.