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MEMÓRIAS DE UM DEUS - VOL 02 (Fantasia - português)
PERDAS DE CORAÇÃO - FIM DA GUERRA 32.000 E7

PERDAS DE CORAÇÃO - FIM DA GUERRA 32.000 E7

Me desesperei ao pensar que a morte se aproximava, mas confesso: agora que passei por isso, vejo que o meu maior pavor foi mesmo quando me preparava para nascer.

O ataque foi tão violento e brutal que todo o batalhão danatuá foi dizimado em um tempo extremamente curto.

Gadhiel e Haamiah se puseram apressados a recolher as inúmeras centelhas do campo de guerra assim que liberadas. Com alivio conferiram que elas estavam fortes ainda e que logo estariam restabelecidas. Então se voltaram e encontraram Adanu vivo e quase sem ferimentos, que continuava sua vida solitária.

- Foi melhor – cismou Haamiah.

- Não sei, meu amigo – falou Gadhiel, os olhos pensativos no curupira, seguindo sua amargura pela desistência dos danatuás[1] e a consequente descida das montanhas.

Abanaram a cabeça desalentados quando Adanu foi aprisionado e julgado pelo conselho dos anciões, por ter demonstrado de forma veemente sua insatisfação com o modo como a guerra dos vivos terminará.

Gadhiel acabou dando de ombros, porque aquele fora um ponto de estrangulamento que só reforçara a linha de tempo para os mostradores do caminho.

- Não ter é melhor que perder? – se perguntou procurando mudar de assunto, se referindo a Adanu não ter se encontrado com Bella.

- No meio dessa guerra, acho que foi melhor que não tenham se encontrado. E, foi até melhor que, mesmo estando no mesmo batalhão, eles não tenham se reconhecido como família – disse, se lembrando como não conseguiam reunir Mulo, Valentina e Sol com Adanu.

Gadhiel não pode deixar de sorrir, lembrando dos inúmeros esforços que haviam empreendido para que os quatro que haviam descido se sincronizavam, o que se mostrou quase impossível.

- Providência divina – sorriu observando os três fractais que despertavam. - A guerra fez os caminhos ficarem tortuosos demais.

Com paciência os dois aguardaram, até que os fractais se mostraram plenos novamente. A primeira a se recuperar foi Sol, que ficou observando-os por alguns segundos.

- E Avenon? - Sol perguntou, se postando ao lado de Gadhiel e Haamiah.

- Ele conseguiu passar pela guerra. Ele está respondendo ao conselho de anciões, e será inocentado[2] – falou, descortinando para todos a visão de um jovem curupira de aspecto triste, ainda que orgulhoso.

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- Como entrantes não funcionamos muito bem – Valentina observou, se postando ao lado de Sol. – Eu me embaralhei muito com os meus poderes. Foi terrível, e muito sofrido. A confusão era muito intensa.

- Acho o mesmo. Não gostei de ser um entrante – concordou Mulo surgindo também.

- Percebemos isso também... Acho que devemos tentar uma outra abordagem: sementes... – aventou Gadhiel.

Mulo tirou os olhos de Gadhiel e os postou nos amigos.

- Memórias e poderes?

- As memórias serão recompostas a partir já de uma tenra idade, quando poderão conviver com ela e aceita-las como parte de uma experiência. Quanto aos poderes, terão tempo para se acostumarem com eles enquanto vão envelhecendo.

- Uma nova era já está nascendo agora – falou Haamiah. – Milhares e milhares de centelhas cumpriram as missões que se deram, enquanto outros milhares de seres ainda não se sentem satisfeitos. Essa guerra não terminada ainda levará muito tempo para recomeçar.

- Como deve ser – falou Valentina. - Por enquanto está tudo bem, ali. Os danatuás quase cometeram uma covardia com Adanu e com os outros, mas agora está tudo certo. Então resolvemos, eu e Mulo, que vamos ficar um tempo com Lázarus, Ariel e Derfla. Os veladores ainda vão demorar um pouco para surgirem como tal.

- Quanto a isso é verdade – Haamiah sondou. - Uma linha de tempo promissora para os veladores, que tem o maior potencial, ainda está muito à frente, perto de uns 90.000 anos ainda – confirmou.

- Tempo mais que suficiente para dar uns empurrões na Ordem – riu Mulo. – Além disso, estou com muitas saudades das crianças – sorriu. - Quanto a você, minha irmãzinha – se dirigiu carinhosamente para Sol, - cuide bem de Avenon, e nos chame se precisar. Até acho que a quantidade de vezes em que descerá terá pouca importância até que consigam a linha de tempo que os unirá. Uma experiência interessante e diferente, não é mesmo? Temos que achar uma forma de nos encontrarmos mais rapidamente, e isso você vai aprender e nos ensinar porque, se não soubermos como nos encontrarmos, estaremos muito enfraquecidos.

- Isso é verdade... Viram como foi difícil para Lázarus e Ariel? – lembrou-se Gadhiel abrindo um franco sorriso.

- O caso deles foi um pouco diferente, não foi? – Valentina riu também.

- Havia animosidade entre eles, mas eles acabavam se encontrando, não?

- A força de um sentimento é um poderoso atrator. No caso dele era amor, e no caso dela era um tremendo ódio.

- Quer dizer que Sol e Avenon não se importam tanto um com o outro? – Mulo fez ar de zombaria, observando Sol com um sorriso nos lábios.

- Deixa de ser chato – ralhou, dando uma cotovelada no amigo. – O stresse da guerra, somado com a confusão em que estávamos foi muito pesado – Sol pensou alto. - Vamos ver como as coisas vão ficar, não é mesmo?

- Eu sei disso, e estou brincando. Sei o quanto é difícil. Eu e Valentina ficamos perto muitas vezes, e nem nos reconhecemos – Mulo falou, puxando Valentina para si. – Foi bem difícil.

- Então está certo! Vocês vão e eu e Avenon vamos ficar. Mas, isso depois. Por agora quero apenas descansar um pouco, ficar seguindo Adanu sem descer. Não quero descer por algum tempo – falou Sol.

- É compreensível... – concordou Gadhiel. – Além disso, a decisão sempre é sua. Quando seu momento chegar você saberá. E quanto a vocês, sabem quando vão partir?

- Não por agora. Vamos ficar algum tempo com Sol e Adanu...

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[1] Sobre este ocorrido verificar no livro I de "Os Danatuás", do mesmo autor.

[2] Esta passagem está bem documentada na série "Os danatuás", do mesmo autor.