A espada silenciosa sobre a lareira, naquele lugar abandonada. De que é feita um dia achei saber, até que nela vi, em um momento, a sombra da minha alma.
- Eu e ela temos que resolver isso, Lázarus – Haamiah pediu, os olhos vendo a aproximação cuidadosa da demiana.
- Tem certeza? Da última vez que se encontraram não foi muito interessante.
— Tenho sim, Lázaro. Preciso do perdão dela – murmurou.
- Está certo então... – aceitou.
Levantou os olhos para Ariel, alta no céu, um pequeno risco alado que vinha bem devagar. Se aproximou do guarda-corpo, aguardando sua descida.
Ariel passou ao lado, os olhos confirmando a presença de Haamiah, recuado na sombra da varanda. Ela deu um giro, como se fosse se afastar, mas então girou no espaço, um giro pensativo e suave.
Lázarus sorriu, vendo a energia dela em tons suaves.
Ariel abriu em toda sua extensão as suas asas e desceu com uma suavidade imensa ao lado de Lázarus. Fechou devagar as asas, passando os olhos por Haamiah.
Ainda sem falar nada se abraçou em Lázarus, dando-lhe um longo e demorado beijo, como se usando esse tempo e o amor que sentia por aquele anjo para limpar sua alma.
Então se afastou, os olhos perscrutando os mínimos lampejos nos olhos de Lázarus.
- Amo você, Lázaro. Foi você quem me mostrou, não foi?
- Apenas abri a fresta. Foi você quem procurou olhar, meu amorzinho.
Ariel passou suavemente as mãos no rosto duro do anjo e se virou calmamente para Haamiah, que permanecia silencioso perto da larga porta da varanda.
- Eu vi, eu sei porque aquilo aconteceu, Haamiah. Deveria lhe agradecer, eu acho - ela disse, parando à frente dele.
Haamiah levantou os olhos vermelhos, a tensão no rosto, as mãos cruzadas à frente do corpo.
— O que viu, Ariel? – murmurou, sem tirar os olhos dos dela.
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- Eu e você conversando, antes que eu fosse aprisionada. Vi o momento em que lhe pedi, e o momento em que aceitou o meu pedido. Você tinha acabado de se decidir a cair ainda mais na escuridão, e se tornar um demônio. Você ouviu meu pedido, e se recusou num primeiro momento. Mas eu inisti, e você acabou aceitando. Então, sinto que sou eu quem deveria ser a portadora de um pedido de desculpas, e de um sincero agradecimento.
- Não entendo, Ariel... – Haamiah a observou confuso.
- Eu estava perdida em minhas possibilidades, sempre sendo arrastada por sentimentos de culpa, desde a minha queda. Eu procurava uma redenção, na verdade erroneamente procurava uma punição. Você tentou me avisar, mas eu desconsiderei. A verdade, Haamiah, fui eu quem pediu, e insistiu, para ser capturada e torturada, como uma paga pela minha rebelião.
- Entendo... Também tive alguns flaches estranhos, e isso esclarece o que andei vendo. Em todo o caso, peço seu perdão, Ariel.
- E ele está dado, meu irmão, desde que me de o seu também.
Haamiah engasgou, a voz se recusando a sair. Então, de forma bem simples, tirou as duas espadas que pertencia a Ariel, que ela perderá quando for a libertada das mãos de Ladar, e as esticou em oferecimento à frente do corpo.
- Lázarus a tirou de Ladar e as escondeu - contou. - Ele me deu há poucos minutos, para que eu pudesse lhas devolver.
Ariel se virou e olhou com carinho para Lázarus, que apenas sorriu. Então se voltou novamente para Haamiah e tomou a primeira espada, Anara, a sua espada original.
Assim que ela a tocou ela brilhou, como em reconhecimento, logo se aquietando novamente.
Perdida em suas lembranças a girou suavemente nas mãos, sentindo seu peso, revendo e se reconhecendo em seu equilíbrio. Ela estava diferente, mais nobre, reconheceu com um sorriso agradecido.
Levantou-a em pé, frente ao rosto, tocando a ponta de seu nariz e a testa, e beijou sua lâmina.
Então com um golpe a trouxe para a posição à sua frente, ao longo do corpo. Devagar tomou Dandra, a espada que atualmente usava e, com um suave movimento, a fundiu com Anara.
- Essa é Durva, a renovada – nomeou a nova espada, que quando se mostrou estava em uma cor verde suave, com uma linha fina que percorria toda a lâmina de ambos os lados paralela à sangria, com dizeres rúnicos angélicos. Dito isto, e satisfeita com ela, a guardou na bainha.
Lázarus sentiu seus olhos se avermelharem, ao ver o que ela inscrevera na lâmina: Vidas em vidas. Na procura interminável, o coração que se estica.
Sorriu emocionado.
Ariel então tomou a outra que Haamiah mantinha à frente do corpo, a espada que NuvemEscura lhe dera um dia. Sorriu quando Danvara brilhou também em reconhecimento. Levantou-a à frente do rosto e beijou-lhe cerimoniosamente a lâmina.
Com cuidado a baixou ao longo do corpo, examinando o brilho prateado e seus fios verdes esmeralda, que tanto gostava de ficar apreciando. Com grande carinho a guardou na bainha que estivera vazia há um bom tempo.
> Obrigada, meu irmão – falou, se adiantando e colhendo-o em um terno abraço.
Haamiah deu um leve soluço, e ficou assim, um bom tempo abraçado com ela.
Quando se separaram os dois sorriam, as almas leves e soltas.
- Que bom que está de volta, Ariel – ele murumurou baixinho.
- E que bom que você também está de volta, meu amigo. Sinto-me feliz, sinto-me em paz.
- Ótimo, ótimo... Agora sim, as coisas estão bem. Vamos celebrar isso – Lázarus sorriu passando e puxando os dois para dentro da casa, colocando a frente deles uma grande jarra de hidromel, enquanto se instalavam nas largas e macias poltronas.