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FIM DO CONTRATO

Me sinto bem. Não é por você que faço, e que até mesmo aceito me desfazer. Ao final de contas, sempre foi por mim mesmo. Preciso da força e da paz que você me faz criar em mim mesmo.

O demônio o examinou sem pressa, mostrando intenso prazer nisso.

Lázarus, por seu lado, ainda se mostrava muito receoso sobre o que poderia ter sido preparado pelo demônio. Tivera muitas dificuldades para chegar até ali, e lutara incessantemente com toda a sorte de demônios. Agora estava ali, na frente daquele demônio que tanto conhecia e que julgara que nunca mais veria. Via nele um reconhecimento. Não via mágoa ou dor, apenas um reconhecimento frio. E ele estava com Ariel. Pelo que vira ele investirá muito tempo e esforço na captura dos dois.

- Agora me chamo Ladar – ele falou, repetindo seu nome. – E você está certo, eu o reconheço, e por isso me esforcei para que viesse até mim.

Lázarus suspirou profundamente, reconhecendo o quanto estivera errado. Havia mágoa ali, e naquela voz agora conseguia traduzir uma pontada de vingança.

- Entendo. Onde está Ariel?

- Ah, a bela Ariel... Sim, ela é muito bela. Sabe, eu tenho grandes planos para ela, planos maravilhosos. E aposto que cada um dos meus demônios que estão aqui também têm. Isso é, assim que ela tiver aceitado o destino espetacular que criei para ela. Sabe, tipo empregada, prostituta,.... Sei que ela vai se divertir muito com isso – riu feliz.

Lázarus suspirou lenta e profundamente, mantendo oculto o turbilhão que se revolvia em seu íntimo.

- Sabemos porque se esforçou tanto em sequestrá-la, aceitando até mesmo todas as perdas que teve. Quando era Negrumo me acusou de ser o artífice de sua maldição, de sua queda. Ainda acredita nisso?

Lázarus viu o momento em que os olhos intensificaram sua luz, uma luz maldosa numa face onde boiava um sorriso cheio de prazer.

Ladar se levantou de seu trono negro, a cota de malha caindo lentamente ao longo do corpo, a espada tinindo quando tocou as pedras do trono.

- Ah, sem dúvida, meu irmãozinho. Não há o acreditar, há apenas o saber – sibilou com lentidão. – Mas, deixando esta discussão de lado, porque você não vai me enganar novamente com suas falas e seus pensamentos articulados, você veio para negociar, não veio?

— Não! Eu vim para tirá-la daqui.

- Bem, você já tentou tirá-la à força, e viu que esse não é o jeito certo, porque não é o caminho que lhe deixo.

- Vim apenas para libertá-la – repetiu.

- O bom e velho Sênior. Tudo bem, eu até posso deixá-la ir embora. Mas, há algo que desejo em troca, para que isso seja cumprido.

- O que deseja, Haamiah? – perguntou, usando o nome anterior de quando ele ainda não era demônio.

Ladar bufou. Não gostava das lembranças antigas. Estava satisfeito com sua realidade, com o mundo que ajeitara ao seu gosto. Até mesmo da pedrinha solta no trono que adorava rolar com o dedo enquanto pensava gostava demais. No seu mundo perfeito havia aquele toque que tanto o seduzia: torturar e diminuir qualquer um que o tivesse traído, que pensasse em traí-lo, ou até mesmo qualquer um outro.

Por isso bufou baixinho, recordando que muitas vezes se pegara grato à Lázarus como se pegara não ter aquela vontade de persegui-lo, apesar do imenso prazer que torturar alguém lhe trazia.

- Há só uma coisa que desejo de você, Lázarus. Então, ela poderá ir embora, eu prometo. É só uma coisinha boba, simples.

Lázarus inspirou demoradamente, em sua mente rodando o que deveria ser.

- E o que é, Haamiah?

- Uma pequena e inocente bobice – abriu um largo e maldoso sorriso. - Você deve assinar o contrato.

Lázarus ficou em silêncio sob os olhos pesados do demônio. Sua mente rapidamente avaliou como seria viver no mundo como uma pessoa ou um homem. Sem asas, sem as lembranças e sem aquilo que sempre o impedia de desistir de ser um AsaLonga: a grande proximidade com o UM. É lógico que sabia que não precisava dessas lembranças, porque o UM sempre estaria ao seu alcance, como sempre está ao alcance de todos. Mas, não seria a mesma coisa: ele acabaria esquecendo e, com o tempo, duvidando, como todos fazem, cada vez mais se esforçando tremendamente em viver, em se recordar de pequenas peças do quebra-cabeças que suas lembranças seriam.

Devagar Lázarus olhou à volta, para as centenas de demônios que estavam ali. Era óbvio que não teria sucesso contra todos eles, ainda mais considerando que deveria haver outras centenas nas entranhas mais abaixo.

- Traga-a e deixe-a ir. Quando ela estiver em segurança, assinarei o contrato – aceitou.

- Amar assim é doloroso demais, não é? Sei de seu poder, impartido, como imagino que deve ter pensado muito em ignorar o código dos caídos. Ruim, muito ruim isso, não é mesmo? Se liberasse toda sua força, será que iria mesmo incinerar Gaia? Ah, é provável que sim... E você teria todas essas luzinhas, inclusive a minha, para ficar pedindo desculpas – Ladar riu satisfeito, caindo como um saco de farinha no trono. – Ah, quer saber? Vou amar isso, vou sim – sibilou tomado de prazer. – Sei que não fará isso, e sabe por que? Justamente porque é um impartido, e sabe que esses acontecimentos aqui são frutos de próprias decisões, do livre-arbítrio – riu novamente. – Você está impotente, essa é a verdade. Então, com tudo isso em mente... – Ladar parou, avaliando Lázarus, - se eu já o tenho aqui, já não está tudo bem? O que me impede de te capturar e ter os dois para torturar e me servirem de alimento e brinquedo pelo tempo que eu quiser?

Lázaro passou os olhos à volta.

- Porque agora sei que é você, que é você que está aqui, e que agora tenho o registro e a assinatura da sua energia, tenha certeza de que as coisas mudarão, caso você tente algo assim. Tentem me matar, e se conseguirem, voltarei contra vocês. Se não conseguirem me matar agora, acontecerá a mesma coisa, porque eu sempre voltarei contra você. Nunca mais encontrará essa paz medonha que tanto gosta, até que eu consiga sua danação, e te enfiar tão fundo nessa experiência que desejará apenas se desfazer e recomeçar.

- Não deixa de ser um bom argumento, não é mesmo? – riu feliz. – Então aí novamente o contrato faz mais sentido, não é mesmo? – falou feliz, se levantando e rodando um pouquinho à frente do trono, teatralmente encenando estar pensando sobre o assunto. Então se deixou cair pesadamente no trono novamente, todo largado, todo satisfeito.

- Eu sei o que fez, Haamiah. Você me deixou ver, não deixou?

- Ah, mas é claro que deixei que visse – sorriu. – Precisa ver que maravilha que foi trabalhar com ela, Sênior. Ela acha que foram séculos. Dois dias trocados por, ... hum, deixe-me ver, trezentos e quinze anos, lentos e demorados trezentos e quinze anos de terrível e amarga tortura. Não foi uma bela troca? Trezentos e quinze é reduzido para nove, não é mesmo? O belo número que não altera e não é alterado...

- A centelha dela deve ser deixada livre – avisou, ignorando o orgulho do outro com o que fizera.

- Ora, e por que isso? – riu feliz, batendo a mão no braço do trono, apoiando a perna direita em um dos degraus. – Você não tem poder para fazer qualquer exigência aqui sobre o que quer que seja, nem o menor poder possível.

- E a minha centelha também poderá partir. E não deveremos ser incomodados depois, mesmo quando reencarnarmos. Estas são as minhas condições – continuou ditando suas condições, ignorando a recusa do outros.

- E se elas não forem suficientes? Eu já a tenho comigo, e agora tenho você – voltou a ameaçar, desejando explorar o poder que sentia sobre Lázarus.

- Se o que disse não te acendeu os olhos, então digo que me sentirei justificado a quebrar o “código dos descidos”, mesmoq eu de forma controlada, contra vocês. E bem sabe o que isso representa – ameaçou. – E, além disso, Haamiah, Miguel está avisado, principalmente sobre não sermos incomodados depois que encarnamos nesse mundo – falou, a voz suave e ponderada.

- Entendo...

- Assim, dê-se por satisfeito com o que conseguiu, porque será o máximo que poderá aproveitar. Sei que instilou um ódio mortal nela contra mim. Que assim seja. O que fez, está feito. Traga-a e liberte-a. Só isso...

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- E se eu quiser me divertir um pouco mais, só mais um pouquinho, com vocês dois? – ameaçou entre sorrisos.

- Se se lembra bem de Sênior, saberá o quanto isto irá lhe custar. Isso além de que, tenho certeza de que não conseguirá muito sucesso contra Miguel e suas hostes, e perderá tudo o que pensa ter conseguido. Tempo, você o experimentou contra Ariel. Não percebeu o quanto ele é irrisório contra tudo o que já vivemos?

- É, eu me lembro de suas loucuras – falou, uma pontinha de saudades que logo se desvaneceu. – Está bem, está bem... Estou de acordo... Ótimo, então – falou satisfeito, fazendo sinal para um demônio pequeno e esquelético que estava ao seu lado, que rapidamente desapareceu num escuro corredor de pedras à direita, onde Lázarus pressentira a presença de Ariel. Não demorou e passos foram ouvidos no corredor, que lentamente progrediam para o salão.

Lázarus se esforçou em ignorar os sons de gemidos e correntes batendo e sendo arrastadas nas pedras, além de riso de alguns demônios que pareciam se divertir em arrastar alguém.

Olhando a cara de Haamiah viu o quanto ele estava adorando notar sua dor.

Então entraram dois demônios, com o emissário na frente. E os dois, de modos abrutalhados, traziam Ariel arrastada por correntes, que lançaram aos pés de Ladar.

Rapidamente Lázarus vistoriou seu corpo. A roupa e armadura estavam em andrajos, bem como seu corpo mostrava coberto de sujeira e profundos ferimentos. O que viu o fez olhar com ódio e desprezo para Haamiah o que, percebeu, deixou o demônio muito feliz.

Apesar de toda a dor que o aspecto dela chamava para o seu coração, sentiu um sopro de alívio e frescor varrer sua mente e seu coração só por poder vê-la novamente. Com força refreou o ímpeto de correr até ela e ficar abraçado, abandonado, sussurrando que tudo estava bem, que tudo estava bem.

Então prestou mais atenção nela.

A vigilante gemeu e arqueou o corpo. De forma brusca levantou a cabeça, os olhos raivosos olhando ao redor.

Ariel parou, a respiração se tornando errática e nervosa, assim que seus olhos deram com Lázarus. No silêncio de que se vestiu seus olhos mostraram curiosidade, permanecendo quieta. Era visível que vasculhava suas memórias, procurando se lembrar de quem seria aquele estranho ser.

Subitamente, quando o reconheceu, todo seu corpo se enrijeceu. No ato os olhos se mostraram injetados e raivosos, o corpo todo duro, os músculos tensos e estirados ao máximo, os braços e pernas repuxando as correntes, a respiração quente e furiosa.

Num impulso súbito Ariel se esforçou em se levantar apesar dos pesos das correntes. Os nervos do pescoço e braços estavam esticados dolorosamente, o rosto repuxado para frente, encarando o AsaLonga, o corpo arqueado, a respiração dificultada.

- É você mesmo, seu desgraçado. Desgraçado, desgraçado, desgraçadoooo!!! – gritou, os músculos tesos, o rosto voltado dolorosamente para o ser, o corpo fazendo força contra as correntes, que faziam o som vibrar pelas paredes lúgubres do lugar. - Você me abandonou aqui – ela gritou tomada de profunda agonia. – Você me traiu. Eu o amava, seu desgraçado, e você me traiu. Você nunca deixou de ser o Sênior, não é mesmo? – gemeu, tentando se aproximar, o ódio injetado nos olhos, a raiva transpirando por todo o corpo, as mãos como garras dentro das correntes, desejosas de capturar e estraçalhar, ferindo ainda mais os pulsos já tão machucados. – Como pode me esquecer? Como pode mentir tanto? Como pode me dar aos demônios, como se eu fosse uma mercadoria sem valor? – chorou desamparada, o corpo tremendo, convulsionado pela terrível dor. – Hostes de demônios, para comandar hostes de demonios, foi por isso que me trocou? Eu vou matar você, Sênior, vou matar você... – gritou em desvario.

- Nunca a deixei, Ariel – o anjo sussurrou com imensa suavidade, acompanhado pelos gritinhos jocosos dos demônios. – Nessa ou noutra vida eu vou te encontrar...

- E eu vou estar te esperando... – gritou tão alto que as paredes foram levemente abaladas, para deleite dos demônios, que elevaram seus gritos e imprecações. – Vou te esperar para te torturar e matar muitas e muitas vezes, seu canalha...

Ladar, com um movimento lento e suave, fez calar os demonios, a atenção fixa nos dois.

- Lembre-se: “Vidas em vidas” – Lázarus insistiu. – “Na procura interminável, o coração que se estica. Traídos e enganados os corações se esforçam, nas vidas em vidas”. Lembre-se – Lázarus murmurou o que passara a sussurrar para ela quando ela dormia, após ter visto o que a linha de tempo dos dois apontava.

Os demônios gritaram de prazer, ao ver a dor no anjo.

Ariel não falou nada, o corpo teso e tenso, os olhos injetados presos nos de Lázarus, a boca espumando de ódio.

Lázarus viu que nada poderia entrar por aquela carapaça de dor e horror. Tirou os olhos dela e os pôs em Ladar, que apenas sorria, absorto na visão dos dois.

Ariel viu Ladar sinalizar para dois demônios, que tomaram sua direção. Acreditando que iria ser novamente conduzida para o calabouço perdeu o controle, os gritos contra os demônios e contra Sênior enchendo os salões e corredores.

> Você foi torturada e enganada pelo tempo. Lembre-se de que as árvores ainda não surgiram por causa do dilúvio – Lázarus falou apressado para aquela face congestionada.

A um sinal de urgência renovada de Ladar os demônios a tomaram e subiram velozmente pelas rochas, tirando-a das vistas de todos do salão.

Lázarus, e todos ali, ficaram aguardando.

Em silêncio viu os demônios libertando Ariel sobre a montanha. Com o coração dolorido viu as correntes caírem e serem recolhidas pelos demônios, que se afastaram para dentro da terra, voltando para o covil de Ladar.

Lázarus aguardou, até que Ariel, confiante, se pôs em pé, avaliando o mundo novo. Em transe perante a liberdade não viu quando um demônio se aproximou por trás e lhe cortou a garganta. Lázarus esperou pacientemente, até ver a centelha dela pulsar e se afastar do corpo.

- Está feito, ela está livre e logo irá reencarnar. Agora, você, meu velho amigo. A sua espada, por favor.

Lázarus voltou os olhos para o lado esquerdo do trono escuro, onde conseguia identificar duas espadas.

Lázarus puxou vintana, olhando-a com carinho.

Com um movimento brusco e poderoso, sem que os demônios pudessem impedi-lo, a lançou para cima, onde ela se perdeu, fora do alcance dos demônios.

Um estrondo injuriado ecoou por todo o salão.

Ladar deixou as mãos estendidas penderem inertes ao lado do corpo, o sorriso pregado na cara.

> É, eu sabia que não ia deixar ela para mim. Que seja então. O contrato, Lázarus – Ladar exigiu.

Lázarus respirou fundo, abrindo em toda a extensão as suas asas. Devagar levou a mão direita para o coração, que depois afastou alguns centímetros, a palma voltada para o alto. Então levou a mão esquerda ao coração, que também afastou, voltando a palma para o solo.

- Tem certeza disso? – perguntou Miguel como que em sonhos frente ao anjo em agonia. – Podemos libertá-lo, Lázarus. Quanto a Ariel, pode demorar um pouco, mas estaremos protegendo-a e vamos curá-la também.

- Tenho certeza, meu amigo. O tempo já foi longo demais. Minha família se foi, Ariel está tomada de ódio por mim e ... Haamiah era meu irmão, e em Ladar vi algo que me deu esperança. Se for de alguma outra forma não acontecerá o que deve acontecer, e ele permanecerá nessa escuridão que tanto o atormenta.

- Acredita mesmo que poderá fazê-lo despertar?

- Sim, acredito. Afinal, em algum momento todos iremos despertar, não é mesmo? – deixou um sorriso triste e pensativo se esticar pelo seu rosto. – Mas, sim, acredito que com a assinatura no contrato seu espírito começara a se lembrar. Não me afetara, mas sim a ele. E, eu preciso deixar Ariel ter a experiência que tanto aguarda, desde que caiu. Além disso, Miguel, o meu tempo aqui acabou, e você bem sabe disso. Esse novo mundo surgido do dilúvio não precisa mais de mim, nem mesmo o multiverso. Na verdade, meu grande amigo, acho que estou até mesmo feliz por ter a oportunidade de entrar mais na experiência.

- Não tem como você cair dentro da experiência, meu amigo. Como impartido esse não é o seu caminho, você sabe. Você nunca deixará de ser um AsaLonga, e um sentinela dos veladores...

- Mas, terei um tempo para experimentar, e ficar perto dela... Além disso ...

- Sim?

- Esse parece ser o desejo dela, desde que aceitou participar da rebelião. Livre-arbítrio, ... – repetiu, talvez mais para se convencer em ter paciência com o tempo. - Assim, meu querido amigo, aqui, perante você, assino o contrato, assinado que está.

- Assinado que está – repetiu Miguel cerimoniosamente.

Um silêncio respeitoso se manifestou. Miguel respirou fundo, não tirando os olhos de Lázarus.

Lázarus deu um sorriso curto, assim que Miguel e os outros anjos desapareceram.

Ao se ver novamente no salão sorriu em paz para Ladar e os outros.

Foi por um breve momento em que uma luz se intensificou ao lado do anjo, o que pos todos os demônios assustados. A luz lampejou e se foi, apagando-se de súbito, tal como quando surgira.

Ladar examinou toda a aura de energia de Lázarus, e viu com satisfação que o contrato fora assinado.

De súbito percebeu o movimento, e temeu que tudo desse errado. Um demônio se apressou contra o AsaLonga, que apenas girou o corpo, a mão penetrando perto do coração, que puxou com violência. Porém, a força do avanço do demônio que tombava sem vida empurrou o AsaLonga, que rolou, se erguendo rápido ao lado do trono.

Ao ver que Ladar controlara os demônios, Lázarus se mostrou tranquilo, voltando para sua posição anterior sob os gritos raivosos dos demônios.

- Ninguém tem autorização para atacar o maldito AsaLonga – Ladar gritou bem alto, o que fez o silêncio cair sobre todos. A um sinal seu alguns demônios arrastaram o cadáver do outro para um corredor vizinho onde o lançaram, deixando atrás de si um grosso rastro negro de sangue.

- Assinado está – Lázarus falou alto para todos.

- Assinado está – Ladar repetiu, agora mais tranquilo.

Ladar observou Lázarus, e o que planejara já parecia meio descabido. Sonhara, desde que obtivera Ariel, que poderia extirpar lentamente as asas do velho anjo. Agora, por mais estranho que parecesse, não via isso com bons olhos. O que conseguira era mais que suficiente.

- Akindará, Negrumo – Lázarus o cumprimentou, dando com os dedos um toque suave entre as sobrancelhas, os dedos se voltando em sua direção, como se espalhasse suas melhores intenções à frente de seu caminho e ao coração que o observava.

Ladar parou, um sinal fraco de reconhecimento ante aquele velho cumprimento. Mas então o sorriso desfez o breve momento.

> Akindará... Adeus, velho inimigo, velho amigo – confirmou se aproximando um passo, cortando com um só golpe a cabeça do AsaLonga. O corpo ainda não tocara o chão quando se desfez completamente.

Ladar ficou frente a frente com a centelha que flutuava tranquilamente na altura de seus olhos. Havia enorme poder ali, tanto que fazia o ar vibrar e zunir suavemente, o que fez levantar uma algazarra entre os demônios. Com um movimento Ladar impediu que os demônios esfaimados se lançassem sobre ela, mesmo sabendo que aqueles que a tocassem iriam sofrer horrores e iriam se desafazer em pequenas chamas. Poucos poderiam suportar aquela energia, e ali não havia ninguém assim.

Então a centelha pulsou suave, como um reconhecimento. Num movimento súbito denunciado por um leve estampido se elevou e desapareceu.

Ladar, sentindo-se estranhamente solitário, se afastou de costas, até tocar no trono com o calcanhar. Então levou a mão para sentir as espadas que tomara de Ariel. Não pode deixar de sorrir ao ver que elas não estavam mais ali.

Foi então que o reconhecimento do ataque de seu demônio fez sentindo.

Agora era certo que for a o próprio Lázarus que insuflara o demônio a atacá-lo, para ter a chance de recuperar as espadas de Ariel. Com um suspiro sorriu ante a artimanha do AsaLonga.

- Assim é!! Você as mereceu – falou para o tempo que se esvaia, a voz suave demais para um líder de demônios.