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AS ESCOLHAS DAS MUTAS - 31.911 e7

Você é um daqueles que corrompeu e maltratou os pequenos anjos do senhor, ou é daqueles que os reconheceu como tal?

O arcanjo passou os olhos pelo grande salão. O silêncio era enorme, cheio de expectativa. A nave estava estacionada perto de um portal, onde naves sumiam e surgiam, como formigas na boca de um formigueiro.

Devagar puxou o olhar novamente para dentro da nave, para os seres que ali aguardavam.

Miguel observou por um tempo a multidão ali reunida, pacientemente. Por fim, resolveu quebrar o silêncio, seu coração pulsando suave em reconhecimento do enorme amor que estava ali. Um amor sem compromisso, sem exigências, limpo, leve.

- Obrigado a todos vocês por terem atendido ao meu convite. Conforme a prévia que receberam, a missão para a qual os convidei é de extrema importância, não só para um planeta muito amado e para toda a vida que ali floresce e irá florescer. O que irá se desenrolar ali tem o potencial de afetar todo o universo, todos os universos, e isso porque a vibração é intensa demais ali. Vocês já devem ter ouvido falar de Gaia, e que ela desceu pesadamente na experiência, e que os escuros desceram com toda a força para dentro dela. Eles desejavam participar da experiência e torná-la sua. Afinal, essas novas criaturas, os homens, são... diferentes, porque eles podem conter em si a escuridão e a luz, e os escuros sempre desejaram fazer dela um instrumento para adensar ainda mais a escuridão, além de um ponto que julgam limite.

- Sabemos disso, como sabemos que o sofrimento é imenso – falou Theliel, - e que alguns que conhecemos já desceram para a experiência com o intuito de impedir a destruição de Gaia, porque é somente isso o que nos restou, até agora.

- Fala dos ganedrais?

- Sim...

- Sim, os valorosos Ganedrais. Muito sacrifício... Ah, mas muitos outros desceram antes deles, e a grande maioria lá se perdeu - lembrou.

- Mas, mesmo com todos eles descendo, ainda não está sendo suficiente, não é mesmo? – cismou Gadhiel observando a expressão de Miguel.

- Não, não estão.

- Então, o que podemos fazer? – perguntou Layla, os olhos fixos no arcanjo.

- Há alguns seres de poder lá, poder residido ali pelo próprio Trovão, que apesar de penderem alguns para a luz e outros para a escuridão, estão tão próximos da fonte que essa definição por si só é falha.

- Já ouvimos falar das mutas – sussurrou Cassiel.

- Sim, são as mutas. Elas são um receptáculo de poder, de grande poder, e podem ser habitadas. Três delas já estão habitadas. Elahin, Lúcifer e Safiel é o nome deles. Mas, ainda temos dez que procuram um poder.

- Os demônios e os escuros tentaram tomá-las?

- Tentaram, mas falharam. Elas não podem ser tomadas, não podem ser obrigadas. Apesar de serem poderes de certa forma amorfos, elas vibram, e a vibração delas não aconselha grande proximidade com os demônios.

- Então, todas elas são da luz?

- Digamos que não é bem assim, Sekhemeth. Quem aceitar nelas mergulhar, e que elas logicamente aceitarem, precisam saber que, tal como há o véu de maya sobre o planeta, há também um véu sobre as mutas. Elas são poderosas, são consideradas frias jogadoras, e muito perigosas. Mas, ao final, elas são poderes de equilíbrio, sempre vigiando os destinos de Gaia, e isso porque dela o Trovão tem grande apresso.

- Quão grande é o poder delas? – preocupou-se Layla.

- Elas podem reiniciar toda a Gaia, se isso julgarem que deva acontecer. Nesse momento está sendo disponibilizado a vocês tudo sobre elas, e sobre cada uma delas. Por isso vocês foram convocados. Gostaríamos que considerassem mergulhar na experiência, partilhando as energias brutas das mutas.

Todo mundo ficou em silêncio, pesando o que era pedido.

Miguel observou os rostos tensos, e suspirou aliviado ao ver sinais de contentamento por uma experiência como aquela.

- É uma missão muito perigosa...

- Sim, é sim, Gadhiel. Por isso todos vocês foram convocados, chamados por todos os universos. Sabemos a força na luz que vocês possuem. Além disso, devemos observar o que essa experiência irá proporcionar; pois será um salto extremo nas almas que assim se permitirem.

- Voltando aos riscos... – insistiu Anael.

- Inúmeros, e imensos, ainda mais considerando o tamanho poder que irão possuir, o que poderá se contrapor até mesmo aos nossos. Por isso escolhemos com cuidado os que poderiam ser convocados, porque algumas das energias dessas mutas olharão com mais carinho para a escuridão, enquanto outras olharão com mais carinho para a luz, apesar de sabermos muito bem que todos estarão em risco.

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- O caminho para os mostradores do caminho é esse? – perguntou Devaniã.

- Sim... Yeshua e as Maria vão descer quando o momento se mostrar, para começar a subir Gaia como um todo, sendo precedidos em milênios por veladores, que fortalecerão as linhas de tempo para eles.

De repente um silêncio espesso desceu no imenso salão, quando fagulhas luminosas desceu sobre todos.

Miguel aguardou que despertassem e assimilassem os conhecimentos sobre as mutas que estavam sendo passados.

- Então, meus amigos, aceitam? – perguntou, ao ver que todos eles já estavam cientes de tudo o que era necessário, e as energias que mostravam que as decisões já haviam sido tomadas.

- Dez estão vagas?

- Sim, Gadhiel, dez estão vagas, e precisam de quem as habite.

Sem mais qualquer palavra Miguel moveu com suavidade o braço, o amplo salão iluminado por um sol acima na cúpula treze caveiras surgiram.

Três delas, Maestra, Canhestra e Nanindeua, se colocaram ao lado, porque já estavam habitadas.

> Essas são as mutas, meus amigos. Apenas peço que entendam: sabemos que todos vocês atenderam ao nosso chamado, mas são as mutas, em último caso, que farão a escolha. De todos os que se apresentaram para a missão, só os escolhidos por elas realmente irão se apresentar ante nós, e podem ser em um número muito superior ao das mutas que procuram um ser para as habitar. Serão desses que se apreentarem que elas irão escolher.

Seu coração deu um pulso comovido quando centenas deles avançaram um passo, se destacando da multidão que estava ali. Sorriu para os que, apesar de tentarem, não haviam conseguido se adiantar.

Examinou o semblante de todos os que não haviam sido escolhidos e ficou maravilhado. Havia gratidão naqueles rostos, havia amor pelos que se apresentavam.

À sua frente centenas de seres, além dos anjos e demianas também se apresentavam os que se pensavam caídos, como demônios e dêmonas; e todos eles se mostravam prontos.

Eles se postavam tranquilos, os rostos sérios e concentrados à frente das centenas de milhares de seres ali presentes, que também haviam se prontificado para a missão, que sorriam, enviando energia para os escolhidos. Havia uma aura de amor e poder à volta deles que o tocou profundamente.

Olhou para Gadhiel, que tinha os olhos mansos, examinando a sua família, que estava quase toda no meio dos escolhidos.

A muta SempreViva de repente pulsou, ocasionando um igual pulso em Cassiel, e os dois se ligaram. E VidaSempre se ligou com Sekhemeth, enquanto Haniel se ligava com NuvemAlta. Então Danação e Amonet se tocaram, como Tueris e Maresia. DosVivos pulsou forte, se ligando rapidamente com Theliel, enquanto DorEManso se ligava com Devaniã.

Miguel sentiu seu coração crescer de alegria, vendo o chamado ser atendido com tanto carinho e entrega. Com os olhos marejados viu Alegoria se ligando com Zadiel. Então Montesa esticou sua energia e tocou em Adiene, que inspirou demoradamente.

Então viu Volitora pulsando como se estivesse pensativa, aguardando. Percebeu que ela olhava cada um ali, e outros, bem longe no universo.

Com uma pulsação suave Bhantor, e Anael flexionaram as cabeças em despedida, e se foram embora. Miguel, Gadhiel e Layla sorriram para os que partiam, desejando-lhes ventura nos caminhos que escolhiam.

Gadhiel sentiu seu peito se encolher quando viu o pulsar de Volitora, que causou uma resposta em Layla. Com esforço refreou a intenção de se interpor, mas sorriu para os dois, para Miguel e Layla. Layla apertou os lábios entre os dentes e, com um sorriso resignado, deu um passo à frente.

- Será uma aventura maravilhosa, Gadhiel. Eu estou muito honrada, Miguel – falou num murmúrio assim que Volitora se fixou nela. – Vai ser incrível, Gadhiel...

- Será sim, meu amorzinho – Gadhiel murmurou, os olhos fixos nela, como se procurasse guardar com sofreguidão tudo que era ela. - Não se esqueça: nunca estará sozinha, Layla, como vocês nunca estarão sós, porque eu estarei ao lado de vocês, e eu também não estarei só – declarou aos outros, vendo as mutas e seus irmãos brilhando fortemente enquanto, junto com as outras três mutas, se iam da planície. O último olhar de Layla fixos nos seus olhos foi o que permaneceu, enquanto ela se desfazia.

O silêncio existiu ali por um bom tempo, todos assimilando tudo o que acontecera ali.

- Agradeço enormemente o amor e a presença de vocês, meus irmãos. Obrigado. Adanenai, meus irmãos.

- Prada – foram respondendo os milhares de seres, suavemente sumindo no ar.

Miguel então se voltou para Gadhiel, que permanecia pensativo, os olhos baixos, perdidos onde Layla estivera.

- Eu sabia que vocês se apresentariam – sussurrou Miguel comovido, por fim. – Estes tempos estão sendo... memoráveis. Acho que nem mesmo Yeshua acreditava que tantos se apresentariam para algo tão... pesado e terrível, e que mostra, no seu cerne, todo o amor que é o próprio UM.

- São muitos seres incríveis, não é mesmo? E nem todos se apresentaram ainda – Gadhiel sorriu, os olhos vazios e pesados, ainda baixos.

- Ela vai estar bem, Gadhiel, ainda mais com você atento a eles. Apenas tome cuidado, porque eles serão um poder cada vez mais intemporal, e por isso, digamos, um tanto amorais, quanto mais mergulharem na experiência. Não serão, por algum tempo, sua família.

- Eu sei, como sei que vai ser temporário. Tomarei cuidado, com eles e comigo – sorriu. - Bem, e quanto a você, Miguel? – perguntou levantando o rosto.

- Lá e aqui. Você sabe o quanto A Ordem ainda está muito forte, e como a Federação é nova. Mas, esse planeta...

- Gaia sempre foi especial, estranhamente especial. O UM teve muito cuidado com ela. Foi ele que enviou os anjos para cuidar dela no começo, e para ajuda-la a se formar, não foi?

Miguel sorriu ...

- Fala de Lázarus e sua família?

- Sim... Foi especial a chegada deles em Gaia.

- Meu irmão, não é tudo o que acontece obra do UM? – sorriu amoroso.

- Está certo. A descida de Layla me... Bem, sinto muita afinidade por Gaia, desde o começo, e pelas centelhas que ela ama abrigar, demônios e anjos, e nefelins e dahrars, e homens e pessoas que abriga, além de todos os outros reinos. Sei bem como os tardischs foram cativados por Gaia, porque eu também assim estou. Então, meu amigo, lá e aqui...

- Tardishs...

Gadhiel suspirou fundo, colocando sua atenção na questão de Lázarus e Ariel. E não pode deixar de sorrir quando fez isso.

> Acho que logo Lázarus e Ariel vão cansar de suas brincadeiras, não vão? – falou abrindo um enorme sorriso.

- Acho que vai demorar um pouquinho ainda – falou, abrindo uma visão onde uma lobisomem combatia com um caipora de aspecto franzino.

- Ela está mesmo com raiva, héim? Nem a visão de um ser assim fraquinho a comoveu?

- Pode não parecer, mas já melhorou muito – Miguel riu, vendo a lobisomem trucidando o caipora, enquanto era consumida pelas chamas.