Somos mais, somos muito. Somos legião, de todos, de tudo o que existe somos parte e temos parte. Um dia vamos nos lembrar disso.
- Vai dar tudo certo. Somos terríveis – Avenon riu, sob os olhos sérios de Mulo. Sol balançou a cabeça, ainda abraçada em Darvana.
- Vão descer todos, então? – Ariel não pode deixar de sorrir.
- Ora, é família... Vai ser interessante... E o bom é que vocês vão estar aqui, o que vai nos deixar mais tranquilos. Sabem como é, a gente reza, vocês descem desesperados para servir uma limonada para nós...
- Vou por sal na sua limonada, Avenon. Eu juro – prometeu Lázarus, segurando o riso.
- O meu é com pouco sal... – falou Mulo, os modos aparentemente sérios.
- Tá bom, Mulo. Mas na sua eu ia colocar cal – Haamiah riu.
- Mas sério, é isso mesmo que vocês querem? – perguntou Ariel, o rosto compenetrado, avaliando cada um deles.
- Sim, é sim. Isso ia acontecer em algum momento, não é mesmo? Então, resolvemos escolher o momento. E o momento é agora – confirmou Sol.
- Mas nós queremos descer também – Tarvu Saden reclamou, os olhos presos nos pais.
- Já conversamos com vocês, com todos vocês... Vocês vão, mas não agora. Está bem, está bem? – Mulo olhou sério para os cinco.
- Mas eu quero participar disso, pai – Torvena reclamou, sob o olhar azedo de Toruen.
- E vão... Derfla logo virá buscar vocês. Eles precisam de ajuda contra a Ordem. Está bem assim?
- Mas ele está demorando demais – Teleruden reclamou, sob o olhar divertido dos outros.
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- Paciência é uma arte que vocês têm que aprender – Avenon tentou ralhar, mas acabou rindo, batendo com suavidade nas cabeças deles.
- Tio – reclamou Toruen recuando.
- Está bem, está certo. Vamos aguardar o Derfla – concordou Tarvu com a voz mostrando o quanto estava chateado. - Mas se ele demorar muito, nós mesmo vamos atrás dele. Pode ser?
- Está bem, isso dá para aceitar – riu Sol. – Se conseguirem uma nave...
- Esqueceu que tem anjos aqui? – Avor Grada sorriu de forma malandra, vendo que Miguel se aproximava.
- Então está certo. E quanto a vocês, já pensaram como vai ser, quer dizer, como vão descer? – Ariel quis saber.
- Pessoas de poder – falou Mulo. – Uma guerra imensa e terrível está para começar contra os velhos demônios. Vou gostar muito disso, apesar do véu de maya.
- E já está tudo arrumado para que se encontrem mais rápido, porque se encontrarem acabaria acontecendo – Miguel sorriu pousando ao lado. – Vamos agilizar isso. Avenon vai descer como um curupira, Sol como uma sedenerá, Mulo como um anaquera e Darvana como uma mãe-da-mata. Esse é o plano inicial...
Todos se entreolharam, confusos pela estranha pausa do anjo.
- Estou certo em ter estranhado esse seu "plano inicial", Miguel? – questionou Mulo.
- Ora, sempre é assim, não é mesmo? – falou sob os olhares preocupados de todos os que estavam ali. – Essa guerra será terrível, e talvez muitos de vocês não consigam passar por ela, então terão que voltar, e voltar novamente e novamente... Mas, não se preocupem, suas almas chamarão umas pelas outras, e os amigos e as chamas gêmeas irão se conectar novamente.
- Entendo... – Sol murmurou. – E os poderes? Eles irão diminuir a cada nova encarnação?
- É natural que isso aconteça. Mas, no caso de vocês, esse decréscimo será pequeno, a não ser nesse primeiro mergulho, quando os poderes de vocês serão sensivelmente diminuídos.
- Isso já sabíamos – disse Haamiah, o olhar sério e pensativo posto no anjo.
- Está certo – Lázarus apoiou as mãos nos ombros de Avenon e Mulo, um sorriso carinhoso nos lábios. Então tomou Sol e Darvana num abraço suave e demorado. – Se acaso algo surgir e tenhamos que nos ausentar, não ficarão desassistidos. Há muitos amigos aqui, que se preocupam com vocês.
– Sabem de uma coisa? Estamos juntos há pouco tempo, no meu caso, mas é o que disse, família – falou Haamiah. - Eu não vou dizer que vou sentir falta, porque vamos estar colados nos pés de vocês. Fiquem tranquilos, nós vamos estar por perto, vamos cuidar de vocês. E, como é em uma guerra que vão entrar, os que morrerem iremos recolher e cuidar. Fiquem tranquilos.
- Vocês são muito chatos. Deviam deixar a gente descer com vocês – reclamaram os filhos, se abraçando apertado com eles. – Está bem, akindará, akindará – saudaram, se afastando um pouco deles.
- Akindará, filhos – responderam. – Akindará, meus amigos – se despediram enquanto seus corpos começavam a ficar mais sutis, logo sumindo no ar frio da tarde que se ia.