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PRIMEIRO ENCONTRO

Como posso sentir ódio quando sua alma tanto me comove? Será que é a destruição que eu procuro?

Allenda endireitou o corpo e encarou o nefelin que se aproximava. Ao dar conta de que ela estava na mesma trilha ele parou, indeciso sobre que atitude tomar, os olhos baixos, furioso consigo mesmo por se sentir tão perdido. Ouvindo os passos suaves e confiantes que vinham ao seu encontro levantou o olhar, que se esforçou em tornar duro e indiferente. Ela mexia consigo, e isto o irritava.

Tentando aparentar indiferença fixou os olhos arrogantes de Allenda, parada no caminho, bloqueando a trilha.

- Abra caminho, nefelin. Este caminho é estreito para nós dois.

Uivo a observou confuso com a atitude dela. Então se lembrou que ela era uma guerreira experimentada, que vagara só por muito tempo.

Uivo dobrou um pouco o rosto e observou o lado do caminho à esquerda de Allenda. Com cuidado fez o mesmo com o lado direito.

- Não vejo assim. Você, um pouco para a direita; eu, um pouco para a esquerda. Passamos nós dois.

- Não vou sair para você passar – ela desafiou.

- Então, volte por onde veio, ou abra outro caminho pelo mato, tanto faz. Esse é o meu conselho!

- Desde que o vi eu desconfiei de que era apenas um encrenqueiro – ralhou. – Saia da frente!

Uivo não respondeu. Apenas ficou em silêncio, tranquilo na trilha. Mas Allenda percebeu que seu nível de atenção estava à toda.

Num movimento dobrou o corpo para baixo e girou rápido, os joelhos se dirigindo para a coxa de Uivo, que apenas saltou suave. Allenda não parou. Continuando o giro o atingiu quando ele desceu.

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Allenda se irritou ao ver o sorriso cínico, seu golpe bloqueado pelo nefelin.

Ela então se ergueu, o ódio tomando todo seu ser, a tatuagem brilhando fracamente. Os golpes vieram em sequência, atingindo duramente Uivo, que não esperava um ataque de tal envergadura.

Allenda estava decidida, disposta a acabar com o confronto rapidamente.

Ela viu Uivo se poderar assim que o primeiro golpe o atingiu. Tomada de fúria atacou ao ver surgirem garras de mármore, brancas, curvas e lisas. Ignorou quando sentiu um calor se espalhar a partir de seu bíceps. Determinada avançou, tornando sem efeito o recuo de Uivo.

Então parou, segurando a flecha que enfiara no ombro de Uivo, que a olhava com um misto de incredulidade e decepção. Ignorando o súbito sentimento de vergonha que sentiu torceu a flecha, imaginando a dor que devia estar tomando o seu oponente.

Por um segundo pensou em se incendiar e incandescer a flecha, mas desistiu. Aquele não era um embate para um grau tão alto. Ele não se mostrava digno. Com desprezo tirou a mão, deixando a flecha no ombro, sentindo o calor e a viscosidade do sangue na palma e em seus dedos, recuando os olhos dos olhos que a observavam com imensa desilusão.

- Não me provoque, nefelin. Você não tem a força para isso. Não se deixe enganar por ter amedrontado o lobisomem. Ele não era nada. Agora – falou bem devagar, - saia do caminho.

Devagar levantou a mão, tornando-a um pouco mais quente que o normal, apenas como um aviso. Com determinação a apoiou sobre o peito de Uivo e o forçou para a direita, abrindo a trilha.

> Sabe, eu estava curiosa sobre como seria você poderado, e confesso que estou decepcionada... Apenas essas pobres garras e essa pelagem rala? É isso que você é? Garras de marfim... Que grotesco. Nem um puma de verdade você é. O lobisomem tinha razão – sorriu maldosa.

Allenda passou e, um pouco mais à frente parou, voltando o rosto para ver o jovem nefelin, um sorriso confiante e debochado no rosto. Ela o viu com os olhos pregados na flecha cravada no ombro. Ficou absorta quando ele subiu os olhos e os prendeu nos seus. Seu sorriso morreu quando ele levantou a mão bem devagar sem desviar os olhos, agarrar a flecha e puxa-la lentamente de seu ombro.

Com a mesma lentidão levantou a flecha ante os olhos e a examinou. Então a deixou cair, juntamente com o braço que pendeu ao lado do corpo, a postura tranquila e silenciosa.

E ela viu o sorriso pendurado, e havia uma imensa decepção neles que a incomodou. Mesmo enquanto a flecha ia saindo de sua carne ele não tirou os olhos dela, não demonstrou qualquer dor ou outro sentimento, a não ser aquele perturbador sentimento de decepção.

Ela o viu girar sobre os calcanhares e retomar seu caminho, os passos lentos e pensativos.

Contrafeita deu de ombro e seguiu em frente, tentando ignorar uma culpa estranha, incômoda e, até o momento, desconhecida que apertava suavemente seu coração.