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NÃO NA COMITIVA

Como posso dizer que não proferi as palavras vazias e inúteis que disse, vendo o quanto elas me feriram, e a você também?

- Filha – Adanu chamou. – Eu preciso conversar com você um pouco. Pode se sentar aqui ao meu lado?

Adanu a observou enquanto ela se aproximava. Ela estava mais quieta, mais silenciosa. Estava triste, ele sentia.

- Pois não, pai? – perguntou sentando-se ao seu lado.

- É quanto ao danush.

- Quanto aos que pensa em chamar? – perguntou, passando mentalmente em revista os nomes que ele lhe dissera.

- Não, filha. É quanto ao que não irei chamar.

- E quem seria esse? – perguntou num sussurro, sentindo uma pontada de dor no peito.

- Uivo...

Allenda ficou quieta. Já esperava por isso. E, não tinha certeza de que se fosse ela no lugar do pai, o chamaria. Mas algo em seu peito doía ao pensar que ele poderia não estar por perto, apesar desse ser um sentimento mais como um sussurro, que ela não conseguia ver com muita clareza.

Suspirou.

- E por que?

- É verdade que ele é bem independente, e que muitos comandantes não o querem por esse motivo. Mas, não é só por isso. Receio que a comitiva o veja com reservas.

- Isso é bem provável que vá acontecer – falou séria. – É só por esses motivos? Otenv é um elmento desestabilizador no conselho, mas está lá.

- Tem outra coisa... Você...

- Eu??? – Allenda se assustou.

- Sim! Vocês, ultimamente, vem se estranhando de uma forma estranha, até mesmo perigosa para vocês dois. Acho que o tipo de convívio que vocês têm não será adequado dentro de um grupo tão pequeno quanto o nosso, ainda mais tendo a necessidade de discrição como teremos.

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- Entendo, Adanu. E você está certo quanto a isso. Também acho que ele não é uma boa escolha. Ele não terá serventia para a comitiva – falou, sentindo uma dor aumentada no coração quando ouviu o que ela mesma dissera. - Quer que eu fique também?

Adanu se espantou ao ver a reação da filha, e sua alma se condoeu pela dor que via nela.

- Sabe que não, filha. Já ficamos longe demais, não é mesmo?

- Está bem, pai. Eu irei...

Uivo suspirou fundo. Passava ao lado, e pela sua audição privilegiada conseguira ouvir a conversa dos dois. Como não lhe dizia respeito, já ia se distanciar quando ouviu o seu nome. Com a cabeça baixa parou sobre o monte suave, dentro da floresta.

Seu coração se espremeu ao ouvir Allenda declarar que ele realmente não deveria ser chamado para a comitiva, porque não lhe via serventia.

Apesar de tudo o que acontecera entre eles, a esperança era uma corruptora maviosa e ardilosa.

Tomado de urgência se afastou depressa, se perguntando como deixara alguém ter tanto poder sobre ele e seus dias.

Já bem longe, quando as vozes não podiam mais feri-lo, subiu numa árvore onde ficou em silêncio, os olhos perdidos bem longe, procurando algum inimigo sobre o qual pudesse descarregar todo o fel em que sua alma estava mergulhada.

- Filha, me diga, sim? – Adanu pediu. - O que está acontecendo, de verdade? Eu estou preocupado. Você anda mais quieta ultimamente, triste. É alguma coisa com Uivo?

Vendo que ela permanecia quieta, a cabeça abaixada, se assustou quando viu uma lágrima cair de seus olhos. Então, com suavidade, pôs a mão em seu queixo e levantou seu rosto, trazendo os seus olhos para os seus.

> Ara, minha querida, venha cá – falou, puxando-a para si, num abraço caloroso e gentil. – O que aconteceu?

- Ah, pai, eu não sei o que fazer, nem mais o que pensar... – chorou baixinho.

Adanu permaneceu em silêncio, disponível, apenas embalando-a com suavidade.

> Eu estava num lugar, com Lavareda. Uivo nos viu... Eu...

Adanu viu toda a extensão do desastre e da dor, e a puxou mais para si.

> Eu encontrei o Uivo mais tarde, e fiquei brava com ele por me seguir, e depois por me evitar. Então ele... Eu vi o que ele sentia por mim e... Eu não sabia, pai. Quer dizer, sabia, mas... Eu tentei fazer com que me ouvisse, e ele me atacou. Então Lavareda apareceu, e ia para cima do Uivo quando... quando Uivo quase o matou. Depois disso ele sumiu. E depois vi o Lavareda reunindo alguns para caçar o Uivo... Não deu tempo para pará-lo. Foi quando fui atrás de você e... E ele quase o atacou também...

- Ele poderia ter matado alguns, se essa fosse a intenção dele – mumurou. - Eu nunca o tinha visto com tanta dor, filha – gemeu penalizado pelos dois.

- Eu também não – ela soluçou baixinho. – Bem, o resto você já sabe...

- Então foi isso – falou num murmúrio, vendo que havia cometido um grande erro.

– Se eu soubesse disso, teria convidado ele para ir na comitiva – pensou abatido. - Talvez Tenebe possa trazê-lo para nós...

- Ah, filha, filha... Tempo ao tempo, filha...

- Mas, não há mais tempo, pai. E é bom que seja assim – declarou se levantando, enxugando as lágrimas com os dedos, o rosto tentando parecer decidido e duro. – Bom porque tudo isso acaba de vez.

- Antes fosse assim, minha filha – sofreu Adanu, vendo a filha se afastando, o caminhar pesado e magoado.