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A SAINTE

Tudo tem o seu tempo certo, mesmo que eu não saiba disso.

A demiana parou na trilha, os olhos perdidos no céu. Há alguns dias vinha sentindo essa amargura, esse vazio no coração. Era como uma perda, um pulso inconstante e fraco, mas assim mesmo, terrivelmente poderoso e dominador.

Baixou os olhos com um demorado suspiro, observando as copas das árvores mais além. Devagar desfraldou as asas e se elevou, ao perceber pessoas que vinham para aqueles lados.

Não estava a fim de ver ou conversar com quem quer que fosse.

O dia estava brilhante e lindo. Era inverno, e as nuvens eram ralas, como se fosse uma coalhada azul, que os homens chamavam de céu de brigadeiro.

Sorriu, subindo alto no céu, ficando acima das nuvens. A visão de lá era como se elas formassem um colchão macio e branco, cheio de morrinhos. Mas, para o norte via nuvens do tipo cirrus cúmulos, finas e lindas. Voou para lá, e se deixou entre elas.

Foi nesse momento em que o viu.

O anjo estava parado ao longe, examinando-a. então parecendo ter se decidido, se aproximou.

De súbito estava ao seu lado, observando-a com cuidado.

- Como está se sentindo hoje? – ele perguntou, para estranheza da demiana.

E realmente ela o olhou confusa e perplexa.

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- O que um anjo quer aqui, nesse planeta solitário?

- Vim pelo seu chamado...

- E que chamado seria esse? – Árgrila sorriu descrente.

- Você está procurando uma saída dessa vida, mas sabe a gravidade de uma atitude. Então, vim lhe oferecer um ponto de saída.

Árgrila olhou o anjo demoradamente.

- Quem o enviou?

- Miguel...

- Ah, o poderoso Miguel. Um ponto de saída. Há alguém precisando entrar?

- Há sim Árgrila.

- Uma demiana guerreira que não terminou sua missão, e que foi morta por um demônio...

- Você está falando de Éfrera... Todos já ouvimos. Senti muito por ela.

- Sei de sua irmã, que estava sob o poder de um caído.

- Sim, de um caído amargo. Foi Éfrera que a libertou, quando matou aquele louco.

- Sabemos!

- Sei que sabem... – ela sorriu. - Se eu aceitar, ainda terei que ficar aqui, neste mundo de vibração tão pesada?

- Lhe será oferecido um lugar mais leve, onde poderá se recuperar com mais rapidez.

- Poderiam oferecer isso a todos os caídos – falou com uma nota de acusação.

- Se engana. Provavelmente seria maléfico para eles. Eles fizeram a escolha deles, e você está frente à uma.

Árgrila o observou, e sorriu por fim, avaliando com muito cuidado o que o enviado de Miguel lhe oferecia.

Como se estivesse indiferente o enviado a observou com cuidado, vendo o quanto era adequada. Ela parecia ter o corpo preparado para receber uma guerreira como Éfrera. Na verdade, por feliz coincidência, eram muito parecidas, a não ser os cabelos vermelhos como fogo tomados de ondas grandes, como se o fogo realmente se revolvesse ali, bem como as sardinhas no rosto e no colo dos seios e braços. Também ela era um pouco mais alta, e os olhos eram de um violeta predominante.

Diria que, para uma vigilante, era de extrema beleza.

- Aceito o acordo – Árgrila falou por fim.

- Que bom que aceitou... – o enviado sorriu satisfeito.

- E quando acontecerá?

- Já está acontecendo, Árgrila – ele informou.

Nem teve tempo para se preocupar ou se encher de receios. Uma luz cresceu em torno de si, e fez o mundo desaparecer. Era como uma liberdade, um retirar de um peso.

Em paz sorriu.

- Deu paz para a minha irmã, e agora para mim. Obrigado, Éfrera – sussurrou enquanto sua mente parecia crescer, e seres de luz surgiam ao seu lado.