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FRACA?

O ar se perturba, se ondula e se modifica. Que poder é esse que possui, para contorcer assim o meu mundo, o que eu sou? Sua presença me arrepia e me obriga a sonhar, e me faz esquecer que havia esquecido o que é ser um sonhador. Como serei com você me modificando assim?

- Ora, parece que Uivo está meio zangado. Aconteceu algo, Tenebe? – perguntou Adanu, os dois parando à frente do pajé, os olhos seguindo Uivo que se afastava.

- Ele não gostou da puxada de orelha. Uivo está muito estranho.

- Ele se meteu em confusão?

- Sim! Além de uma cicatriz de flecha, com que apareceu ontem – e sorriu, vendo que Adanu sorria contido também, - agora ele apareceu com marcas de flechadas e lanhos de sedenerás...

- Ora, ora... Isso vai ser interessante – Adanu sorriu encarando Tenebe, fazendo sinal para se sentarem.

Tenebe, lentamente, contou aos dois o que acontecera.

Adanu estava sério, pensativo.

- Esse jeito dele é louvável, sem dúvida. Bem, Tenebe, ele sabe se cuidar, não?

- Sim, claro que sim. Mas me preocupa – esclareceu.

- Te preocupa a fraqueza dele? – perguntou Allenda com um sorriso no rosto.

- Fraqueza? – espantou-se Tenebe com um sorriso maroto no rosto. – Não, Uivo pode ser muita coisa, mas fraco ele não é não.

- Ora, então ele encontrou um guerreiro melhor do que ele, ou melhor, do que vocês acreditam que ele seja...

Tenebe e Adanu a sondaram.

- Você o atacou, filha? – Adanu fingiu espanto pela novidade, sob o olhar que aparentava confusão de Tenebe.

- Nos atacamos sim... Ele bloqueou meu caminho.

- Ô, ôôôôô... – suspirou Tenebe, tentando se decidir se achava aquilo engraçado ou preocupante. – Então foi isso?

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- Ora, vocês já sabiam, então?

- A trilha é muito perto daqui. Viram vocês – Adanu deu uma risadinha.

- Mas, vai lá, nos conte. Como foi isso? – Adanu quis saber.

Sob o olhar curioso dos dois Allenda contou como foi o confronto. Adanu olhou para Tenebe, um sorriso pendurado no rosto.

- Você ataca todos que encontra na trilha? – perguntou Tenebe, a voz suave e um pouco divertida.

Allenda observou atentamente o pajé por alguns segundos, tentando se decidir se respondia ou não.

- Não, humano. Só ataco os que me afrontam...

- Ele te afrontou? – interveio Adanu.

- Ele próprio já é uma afronta – respondeu com rispidez.

- Entendo... Mas, estranho esse confronto de vocês – cismou Adanu pensativo. – Ouvi muitas estórias de Uivo, e em nenhuma delas ele agiu assim. Ele é muito nobre, muito decidido. Ele já foi vencido alguma vez, Tenebe?

- Que eu saiba, não, não em uma batalha. Mas, sei que ele se deixou vencer algumas vezes.

- É mesmo? E como ele aceitou essa desonra? – Allenda perguntou com desdém.

- Porque ele não acreditava que seria uma desonra. Acho que ele tentava proteger a outra pessoa.

- Proteger? – questionou Allenda entredentes. – Que estranho, né?

- Se pensar bem, até que não. Tenho certeza de que agiu assim não porque as considerasse fracas, já que ele não admite a fraqueza, mas porque via nobreza na pessoa, e não queria feri-la... Essa, Allenda, parece ser a verdade no seu caso, porque ele nem se poderou totalmente, de acordo com o que contou.

Allenda ficou pensativa, os olhos presos no humano. Então, lentamente, seu rosto foi ficando duro.

- Se ele fez isso, então ele me desonrou – sussurrou ela controlando a raiva que a ameaçava.

- Você pode ver dessa forma, ou não. Acho que ele lhe prestou uma honraria – esclareceu Tenebe.

- Também acho isso – Adanu concordou pensativo. - Mas, pelo que vi dele agora há pouco, quando ao te ver se afastou meio irritado, acho que a próxima vez poderá ser diferente. O pouco que lhe considerava parece ter acabado. Por que não o deixa em paz, para que ele a deixe também?

Relembrando o dia anterior, e a forma como o vira lutar neste dia, Allenda teve que dar razão ao velho humano. Sabendo como ele era quando totalmente poderado viu que era verdade que no encontro anterior dos dois ele realmente não se mostrara como era de verdade.

- Ora, devo entender que estou em risco, sendo ameaçada?

- De forma alguma, filha. Apenas sei que vocês dois são grandes guerreiros, e não gostaria de vê-los como inimigos.

- Sei... Humano, apenas avise seu menino para se manter longe do meu caminho – falou se levantando de súbito, o rosto vermelho, tomando o caminho da floresta.

Adanu e Tenebe ficaram em silêncio, vendo-a se distanciar.

- Acho que ela foi atrás dele...

- Também acho – concordou Tenebe divertido. – E acho que ela nem notou isso...

- É, acho que não... Vai ser interessante prestar atenção nos dois. Ela poderia ter se incendiado, se poderado...

- Tal como ele, que se guardou todo...

- Acha que há risco para eles?

- Ara, talvez uns ferimentos aqui e ali, uma refrega mais dura, mas não acredito. Eles estão se sondando. Mas, não custa ficarmos de olho.

- Sim, nisso eu concordo – falou Adanu divertido.

- Por acaso você tem uma marca de flecha no ombro?

Tenebe riu quando Adanu esticou a pele no ombro esquerdo, onde se via claramente uma linha branca em relevo.