Os dois continuaram caminhando em silêncio, até que Mira quebrou o clima.
— Você tá fedendo!
— Tá me tirando?! Se não quer vir, então vai embora! — retrucou Kay, furioso.
— Eu não tô te xingando, Kay. Você tá mesmo fedendo. — disse Mira, séria.
— É o cheiro do coelho. — explicou ele, desviando o olhar.
— Entendo... — respondeu Mira, voltando ao silêncio.
O silêncio perdurou, até Kay perguntar abruptamente:
— Você me odeia, não é?
— E ainda pergunta? — respondeu Mira, com um tom quase sarcástico.
— Então por que continua implicando comigo? — insistiu Kay.
— Porque eu sou sua única amiga! Se eu parar de falar com você, aí sim você vai ficar sozinho de verdade e nunca mais vai querer sair de casa! — disse Mira, com um tom misto de frustração e preocupação.
Kay parou de andar e virou-se para ela.
— Tá com pena de mim? — perguntou, com um olhar sério.
Mira parou também, cruzando os braços.
— Eu não disse isso!
— Tá dizendo que, se me abandonar, eu vou ficar sozinho. Então, é por isso que ainda está comigo? — insistiu Kay.
— Acho que foi praticamente isso que eu disse... Mas tá me colocando como uma pessoa horrível aqui! — rebateu Mira, indignada.
Kay ficou em silêncio por um momento e voltou a caminhar, o rosto impassível. Mira o seguiu, ainda resmungando.
— Idiota... Eu não vou te deixar sozinho. Somos amigos, não somos? — murmurou Mira, envergonhada.
— Não tá com pena de mim, então? — perguntou Kay, de repente, sem olhar para ela.
— Bem que você podia ter mais amigos, mas não acho que você seja um coitado. Sei que é escolha sua! — disse Mira, com um tom mais leve.
Kay colocou o balde com o coelho no chão, observando a área ao redor. Ele pegou dois pedaços de madeira que estavam jogados ali e entregou um para Mira.
— É verdade que não tenho amigos, mas tenho muitos inimigos. — disse Kay, segurando a madeira como se fosse uma espada.
— O que tá acontecendo? — perguntou Mira, confusa, olhando para o pedaço de madeira.
— Nossos pais são do exército, e por isso eles me atacam. Tentam me vencer pra provar algo. É uma perda de tempo, mas eles nunca desistem. — explicou Kay, com um tom de irritação.
— Não me meta nessa confusão! — reclamou Mira, recuando um pouco.
— A Mira tá com ele! Agora podemos vencer! — gritou uma garota, surgindo com um pequeno grupo de crianças armadas com pedaços de pau.
— Tem garotas também? Mas por quê? — perguntou Mira, surpresa.
— Dinheiro, honra, glória... Eles acham que, me vencendo, poderão entrar no exército e fazer um nome pra si mesmos. — respondeu Kay, revirando os olhos. — Se está com medo, fique atrás de mim. Essa confusão é minha.
— É sua mesmo, então se vira sozinho! — disse Mira, se afastando rapidamente.
Kay girou o pedaço de madeira em mãos e se posicionou.
— Podem vir! — desafiou ele, encarando o grupo.
As crianças avançaram, atacando de vários lados ao mesmo tempo. Kay desviava com agilidade, usando o pedaço de madeira para bloquear e contra-atacar com precisão.
"Até que ele é bom... Parece que o pai dele deve ter dado umas aulas pra ele." — pensou Mira, observando de longe, intrigada.
Um a um, os adversários foram caindo.
Logo, Kay ficou cercado por dois garotos. Ambos avançaram ao mesmo tempo, tentando pegá-lo desprevenido. Kay, porém, desviou com um salto ágil, girando o corpo para sair do cerco.
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— Muito fácil! — disse Kay, olhando para trás com um sorriso confiante.
Os dois garotos que haviam avançado contra ele colidiram de frente, tropeçando um no outro.
— Que nojo! — exclamaram os dois, rolando no chão.
— Olha lá, eles se beijaram! — zombou outro garoto, rindo enquanto apontava.
— O que eles estão fazendo no meio de uma luta?! — perguntou Kay, confuso, virando-se para encarar a cena absurda.
Foi nesse momento que ele baixou a guarda. Uma voadora veio pelas costas, acertando-o em cheio e o jogando no chão.
— Quem foi?! — gritou ele, tentando se levantar rapidamente, mas sentindo o impacto do golpe.
Uma garota, com um sorriso vitorioso, já estava sobre ele, segurando-o no chão e imobilizando seus movimentos.
— Você baixou a guarda! — disse ela, triunfante, levantando o pedaço de madeira como se fosse um golpe final.
Kay tentou se desvencilhar, mas a força da garota o manteve preso.
De repente, Mira surgiu ao lado deles, apontando sua própria madeira diretamente para a atacante.
— Sai de cima dele! — ordenou Mira, com firmeza no olhar.
A garota olhou para Mira, hesitante por um instante. Mas, ainda a encarando, ignorou a ameaça e fez o movimento para atacar Kay.
— Eu venci! — gritou ela, confiante.
— Melhor olhar direito. — disse Kay, com um sorriso de canto.
A garota piscou, confusa, e viu que sua madeira havia atingido o chão ao lado do rosto de Kay. Antes que pudesse reagir, ele rolou rapidamente, derrubando-a. Em seguida, pressionou sua madeira contra a testa dela.
— E quando eu achei que tinha vencido... — murmurou a garota, desolada.
— Nunca baixe a guarda em uma luta! Seu pai não te ensinou isso? — exclamou Mira, cruzando os braços.
— Estava tudo sob controle. Pode voltar para o seu canto, eu dou conta! — disse Kay, levantando-se e ajeitando as roupas com um ar desafiador.
— Eu não tenho o dia todo. Só vou ajudar pra acabar logo com isso! — retrucou Mira, assumindo uma posição de combate.
— Então nem pense em me atrapalhar! — respondeu Kay, ficando ao lado dela.
Na frente deles, cinco crianças ainda estavam em pé, segurando seus pedaços de madeira com expressões determinadas.
— Eles são rápidos! — murmurou um dos garotos do grupo, apertando a empunhadura.
Kay e Mira avançaram ao mesmo tempo.
Um dos garotos tentou atacar Mira, mas ela desviou com agilidade e preparou um contra-ataque.
— Eu vou perder! — disse ele, surpreso ao perceber que ela já estava à frente de sua investida.
Mira fez um movimento certeiro, passando sua madeira perigosamente perto da barriga do garoto, mas parou antes de acertar.
O garoto, confuso com a hesitação, deixou sua espada de madeira descer por reflexo e acabou atingindo de leve a cabeça de Mira.
— Droga! — exclamou ela, caindo no chão com uma expressão frustrada.
— Vocês viram? Eu ven... — começou o garoto, mas sua comemoração foi interrompida por Kay, que acertou a madeira na cabeça dele, derrotando-o rapidamente.
Kay largou seu pedaço de madeira perto das árvores, pegou o balde e virou-se para Mira.
— Vamos embora. — disse ele, simplesmente.
— Tá... — respondeu Mira, levantando-se, envergonhada pela derrota.
Enquanto caminhavam, Kay lançou um olhar breve para ela e comentou:
— Você previu bem, mas agiu antes do tempo. Se aquele pedaço de madeira fosse um pouco maior, você teria vencido.
Mira chutou de leve a perna dele.
— Se vai me zoar, então fala logo! — disse ela, irritada, mas com as bochechas coradas.
Kay continuou andando, com o rosto levemente corado também.
— Eu não estava te zoando. — respondeu ele, sem olhar para trás.
Mira parou, surpresa com a atitude dele.
— Não tava com pressa? Anda logo! — disse Kay, virando-se para chamá-la, impaciente.
No tempo atual, na sexta divisão
— Ele descobriu seu ponto fraco em apenas um ataque. Ele era impressionante. — disse Rem, comentando sobre o video.
— Olhando agora, era óbvio o que ele quis dizer... Mas eu não dei ouvidos à dica dele. — completou Mira, com um toque de arrependimento na voz.
— Kay já está nesse nível?! — exclamou Emilia, impressionada.
— Ele não é grande coisa! São as outras crianças que são amadoras! — retrucou Mira, com desdém.
— Entendi sobre os experimentos deles, mas... o que esse pedido de desculpas do Kay tem a ver com o momento atual? — disse Rem, perplexa.
— É o que vem depois, quando saímos da casa da Lily! — respondeu Mira, sem olhar para trás.
De volta à gravação, o vídeo agora mostrava o que aconteceu depois que eles saíram da casa da Lily.
— Olha pelo lado bom, você ficou com o coelho! — disse Mira, tentando suavizar a situação.
— Quer dividir? — perguntou Kay, com um sorriso travesso.
— Eu não! — respondeu Mira, afastando-se um pouco. — Eu vou voltar para casa e ver se não brigo com os outros!
— Promete que vai cumprir o que disse? — insistiu Kay, virando o rosto, visivelmente envergonhado.
— Com o quê? — retrucou Mira, parando de andar.
— Sobre não me abandonar! — Kay parecia genuíno, e sua expressão fez Mira parar por um momento.
— Sei não... Se você continuar sendo tão irritante, talvez eu acabe me afastando no final! — brincou Mira.
Kay ficou surpreso. Mira não percebeu, mas a câmera captou a reação dele.
— Esquece isso! Você me irrita! — Kay avançou, tentando esconder o desconforto.
— Você que é irritante! — retrucou Mira, com uma expressão carrancuda.
— Já estão brigando de novo? — comentou Rem, surgindo atrás deles, com um sorriso malicioso.
— Tia! — Kay se virou, surpreso.
— Que reação foi essa? Isso foi suspeito! — Rem provocou, com um sorriso travesso.
— Não foi nada, estou indo para casa! Com licença! — disse Kay, tentando se esquivar da situação.
— Não seja assim. Cadê seus pais? — perguntou Rem, com curiosidade.
— Estão ocupados! — respondeu Kay, evitando o olhar de Rem.
Rem olhou para o balde de Kay e, em seguida, para a casa de Lily, com um olhar que denunciava sua desconfiança.
— Fez algo errado de novo, não fez? — disse Rem, com um tom sério.
— Coelhos são todos parecidos! E se estavam na floresta, não dava para saber que era da Lily! — Kay tentou justificar, mas a expressão de Rem não se suavizou.
— É assim que você pensa? Que cruel! — Rem reagiu, um pouco surpresa com a falta de arrependimento de Kay.
— Você pode fazer um ensopado para nós? Acho que minha mãe não vai estar com cabeça para cozinhar. Por favor! — Kay pediu, tentando mudar de assunto.
— Tem certeza disso? — Rem olhou para ele, desconfiada.
— Sim! Acho que ela não vai conseguir ver carne por um bom tempo. — Kay respondeu, com um suspiro.
— Então tudo bem. — Rem aceitou, cedendo ao pedido de Kay.
— Não aceita, é um animal morto! — disse Mira, com um tom de reprovação.
— É só você não comer! — Kay rebateu, sem paciência.
— Maldito! — Mira resmungou, irritada.
— Eu vou fazer a janta e preparo para o Kay. Então você fica quieta em seu quarto! — disse Rem, de forma resoluta.
— Obrigado, tia! Eu tenho algo para fazer em casa, mas daqui a pouco volto! — Kay agradeceu, entregando o balde.
— Tudo bem! — respondeu Rem, com um sorriso.
Kay partiu dali, e Rem olhou para Mira, com um olhar curioso.
— E então, por que estavam brigando dessa vez? — Rem perguntou, ainda observando as duas crianças.
— Não era uma briga. O Kay só é um idiota! — respondeu Mira, se afastando com raiva.
— Espera a mamãe! — Rem seguiu Mira, sorrindo.
— Sai pra lá com esse bicho! — Mira gritou, fugindo, enquanto Kay retornava para sua casa.
Kay vestiu rapidamente o traje químico e voltou para o laboratório. Ele olhou ao redor, constatando que não havia ninguém por ali.
— Eu imaginei que eles não estariam aqui! — disse Kay, com um suspiro de alívio.
Ele pegou a bandeja e colocou-a sobre a mesa. O experimento estava pronto para a próxima etapa.
— Já fez o molde, agora só falta aquecer! — disse Kay, com um leve sorriso de satisfação.
Kay colocou a bandeja dentro do forno de mufla, ajustando a temperatura para 500 graus.
— Lavel, eu vou para a casa da Rem. Avise meus pais para ficarem de olho no forno e fazer os testes depois! — disse Kay, com determinação.
Uma carinha feliz apareceu na tela do monitor.
Kay se dirigia a uma parede no canto da sala. Ele clicou em um botão discreto, e a parede se abriu, revelando um cômodo secreto, repleto de prateleiras cheias de alimentos armazenados com cuidado.
Kay rapidamente pegou alguns itens essenciais e os colocou em uma cesta. Com o carregamento feito, ele se retirou, e as portas se fecharam automaticamente atrás dele.
Ao se aproximar da entrada do laboratório, Kay parou por um momento, sentindo uma leve pressão no ar. As portas do laboratório se fecharam com um suave zumbido, e ele foi guiado para uma área isolada. Lá, uma estrutura no teto se ativou, liberando uma nuvem de vapor de desinfecção.
O vapor se dissipou rapidamente, e o sistema de desinfecção foi desligado e as portas se abriram para o Kay seguir em frente. Agora no momento atual.
— Não tinha câmeras na casa de vocês, então vou direto para os experimentos! — disse Lavel, com uma expressão animada no monitor.
Voltando para o passado.
A gravação mudou, e agora mostrava o pai e a mãe de Kay no laboratório, desligando o forno.