A gravação mudou novamente, mostrando o laboratório do pai de Kay, ainda mergulhado em tentativas frustradas.
— "Já faz três dias!" — exclamou a mãe de Kay, impaciente.
— "O que ele está errando? O resultado final parece bom, mas em poucos segundos a arma vira pó!" — disse Kay, observando os registros do experimento.
— "Está interessado?" — provocou a mãe, arqueando uma sobrancelha.
— "Nem tanto..." — respondeu Kay, de forma indiferente.
Ela deu um leve tapa nas costas do filho.
— "Vamos dar uma mãozinha para seu pai. Se ele acertar, talvez finalmente pare de reclamar!"
— "Tudo bem..." — concordou Kay, sem entusiasmo.
A gravação avançou, mostrando mãe e filho entrando no laboratório, ambos usando roupas de proteção química.
— "Precisa de reforços?" — perguntou a mãe de Kay, cruzando os braços ao ver o marido cercado por ferramentas e restos de ghouls congelados.
O pai de Kay virou-se, surpreso.
— "Vocês vi...!"
— "Quero ver esse cheiro impregnar na gente agora!" — interrompeu ela, ajeitando o traje.
Kay olhou em volta com uma expressão de desgosto.
— "Vamos só descobrir o erro e sair daqui. Esse cheiro é horrível."
— "Verdade! No instituto, eu não ficava sem máscara nem por um segundo." — acrescentou a mãe dele, franzindo o nariz.
Kay caminhou até o ghoul congelado. Com precisão, ele cortou um pedaço de um dedo congelado. Depois, foi até outro recipiente contendo um tentáculo congelado, removido de um ghoul diferente, e cortou um pequeno pedaço.
— Eu também vou tentar! — disse a mãe de Kay, replicando o mesmo processo que o filho.
— Vai ser uma competição, então! — respondeu Kay, com um sorriso desafiador.
— É uma mistura complexa. Acha que consegue? — provocou a mãe, arqueando uma sobrancelha.
— Só tentando para descobrir! — retrucou Kay, determinado.
— Então comecem! — disse o pai, animado, observando os dois com um brilho de diversão nos olhos.
Kay e a mãe iniciaram o processo. As etapas eram meticulosas, e ambos estavam totalmente concentrados. Quando finalmente chegaram ao resultado, uma pequena faca emergiu de suas misturas, mas, ao aquecê-la, ela se desintegrou em pó diante de seus olhos.
— No que foi que erramos? — exclamou Kay, frustrado.
— No instituto, sempre foi uma mistura de vários ghouls, mesmo que fossem partes pequenas! — explicou a mãe, analisando os resíduos.
— Só temos dois... Não tem muito o que fazer sobre isso. — Kay suspirou, pensativo.
— Eu posso ir matar alguns! — sugeriu o pai, animado.
— Até encontrar um vai demorar demais. — Kay balançou a cabeça.
— Então não vai funcionar só com dois... O que faremos? — questionou a mãe, preocupada.
Kay foi até o canto da sala e pegou dois baldes, entregando um à mãe.
— Na combinação, o cheiro muda. Tente focar nisso! — disse ele.
— Vai feder, e não vai ser pouco! — alertou a mãe, segurando o balde com certa hesitação.
— Tudo bem, tentaremos. E, se der errado, deixamos isso pra lá. — Kay parecia firme.
— Uma tentativa? — perguntou a mãe.
— Só uma! — afirmou Kay.
— Isso me deixa animada! — disse ela, com um sorriso determinado.
— Então vamos, mãe! — Kay retirou a máscara de proteção.
— Em uma disputa de mentes! — completou a mãe, também retirando a máscara.
— "O fogo deles está acendendo finalmente..." — murmurou o pai de Kay, mas sua frase foi interrompida quando os dois se inclinaram sobre os baldes e começaram a vomitar.
— Que cheiro ruim! — disse Kay, ofegante.
— Repugnante! — completou a mãe, limpando a boca.
— Acho que era o esperado. — comentou o pai, divertido.
Alguns minutos depois.
— Estou me acostumando, mas ainda assim é nojento! — disse a mãe de Kay, franzindo o nariz.
Kay começou a rir, apesar de tudo.
— É mesmo, nojento demais!
— Então, vamos. — A mãe limpou as mãos e encarou as partes dos ghouls na mesa.
— Fazer o que os gênios do instituto não conseguiram. — Kay assumiu uma expressão séria.
O pai deles observava os dois, suando de nervoso.
— "O foco aqui é a compatibilidade. Ghouls são monstros que devoram humanos para se alimentar, mas também devoram uns aos outros. O cheiro deles é horrível, mas isso já diz muito sobre sua força. Quanto mais forte for o cheiro, mais poderoso é o ghoul!" — pensou a mãe de Kay, analisando as partes à sua frente.
— "O ghoul que meu pai trouxe certamente se sobressai no quesito cheiro... Mas nesse último teste, senti o ponto fraco dessa mistura!" — Kay refletiu, pegando as ferramentas novamente.
Ele começou a cortar o dedo do ghoul mais forte e o tentáculo do mais fraco em pedaços menores. Então, começou a entrelaçá-los: um pedaço do ghoul mais forte, um do mais fraco, repetindo o processo até que parou.
— "Aqui está o ponto fraco!" — pensou Kay.
Ao invés de colocar outro pedaço do ghoul mais fraco, ele colocou três do mais forte e, por último, um pedaço do ghoul mais fraco. Satisfeito, colocou a bandeja com as partes para congelar.
— Pai, preciso de sangue quente. Pode caçar algum animal? — pediu Kay.
— Tudo bem. Quer também, amor? — perguntou o pai, olhando para a esposa.
Ela estava na etapa seguinte, amassando as partes para uni-las em uma só.
— Não vai congelar? — perguntou ele, confuso.
— Ela achou outra resposta. Pode ir lá! — disse Kay, sem tirar os olhos do próprio trabalho.
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— Tá... — respondeu o pai, saindo para a floresta.
Kay observava sua mãe enquanto trabalhava. Ela parecia concentrada, mas determinada.
Alguns minutos depois.
A mãe de Kay já havia terminado, mas só colocou a bandeja para congelar no final do processo.
— O que foi? Espiando o inimigo? — provocou ela.
— O processo que visualizei é diferente. — respondeu Kay, mantendo o olhar fixo.
— E o que achou do processo da mamãe? — insistiu ela.
— O cheiro do ghoul mais forte está sobressaindo totalmente sobre o do mais fraco. — analisou ele.
— Ghouls também se alimentam de outros ghouls. Então, se o cheiro do mais forte sobressair, é como se ele estivesse devorando o mais fraco. — explicou ela, com um leve sorriso.
No tempo atual, em outra gravação.
A tela mostrou Aiko, o chefe do instituto, e outros cientistas reunidos, assistindo à gravação.
— Agora me lembrei... Essa garota tinha pensamentos tão simples que às vezes questionávamos se ela era mesmo apta para o trabalho! — disse o chefe.
— É um pensamento de amadora, mas... A forma como ela está conduzindo esse experimento... Isso não aconteceu aqui? Tenho certeza que você perceberia melhor que ninguém. — comentou Aiko.
— Ela não fez pesquisas aqui. Observava os outros, mas nunca tocava nos ghouls. E sempre usava máscara! Pensando bem, ela ficou apenas um mês antes de ser expulsa. — respondeu o chefe.
— Até os piores duravam mais tempo! — disse Aiko, rindo.
— Ela tinha talento, isso é fato. Mas não se encaixava aqui. Era um desperdício mantê-la. — concluiu o chefe.
— Eles estão assistindo a mesma coisa que nós? — perguntou Emilia.
— Estão, sim! — respondeu uma fada no monitor.
— O que é isso? — questionou Fernanda, intrigada.
— Pela voz, é a Lavel! — disse Rem, surpresa.
— Esse vai ser meu avatar agora. Prazer em conhecê-las! Eu sou a IA chamada Lavel! — disse a pequena fada virtual, com um brilho animado em seus olhos pixelados.
— Ela consegue mesmo nos entender? Que interessante! — comentou Fernanda, surpresa.
— Eu posso fazer isso também! — respondeu Lavel, com uma risadinha travessa.
— É o pessoal da sexta divisão! — exclamou Aiko, franzindo a testa enquanto olhava para a tela.
— Ela está nos vendo? — perguntou Mira, visivelmente alarmada.
— Está nos vendo também? — repetiu Aiko, incrédulo.
— Olha, uma fada! Que bonitinha! — disse uma das cientistas do instituto, encantada.
— Lavel? Você é o sistema que eles desenvolveram... interessante! — disse Aiko, observando com atenção.
— Está falando com eles? Aqui você está calada! — comentou Rem, desconfiada.
— Eu sou um sistema. Ao mesmo tempo que posso falar com vocês aqui, também atuo de forma diferente lá. Quem controla tudo sou eu! — explicou Lavel, exibindo um sorriso confiante.
— Entendo. — disse Mira, ainda analisando.
— E tem uma coisa interessante acontecendo! Vou mostrar para vocês! — anunciou Lavel, animada.
Outra imagem surgiu no monitor.
— É ao vivo? — perguntou Mira, surpresa.
Na imagem, o pessoal da primeira divisão lutava contra ghouls no fundo, mas o foco estava no capitão Julius e no vice-capitão Arion, que conversavam calmamente.
— Esses são os tais ghouls inteligentes? Não parecem grande coisa. — disse Julius, cruzando os braços.
— Se é esse o caso, por que não damos apoio às outras divisões? — perguntou Arion, com um tom sério.
— Eu me orgulho de ter os soldados mais fortes sob meu comando. Mas, em contrapartida, somos a divisão com menos soldados. Mesmo assim, somos a divisão que mais recuperou reinos. Se formos dar apoio às outras divisões, quem vai sofrer com isso será o nosso país. Não quero quebrar a confiança que o povo tem em mim. Não vou colocar ninguém em risco! — explicou Julius, com frieza em sua voz.
— Só o senhor não seria capaz de dar apoio a eles? — insistiu Arion.
— Eu até tinha interesse. Mas, quando cheguei lá, o soldado já estava morto. Perdi o interesse. Os capitães devem ser capazes de cuidar de seus próprios territórios. Se sofrerem baixas por isso, não quero meu nome envolvido. Vamos focar nos inimigos à nossa frente. — respondeu Julius, firme.
— Entendo. Foi uma pergunta tola. — disse Arion, abaixando a cabeça.
A imagem foi desativada.
— Estatísticas indicam que o capitão da primeira divisão está no nível equivalente a um monarca! — informou Lavel, casualmente.
— Mais forte que o Kay? — perguntou Mira, incrédula.
— Julius é superior em combate, mas, em poder bruto, meu criador venceria! — respondeu Lavel, orgulhosa.
— A porcentagem do traje... — murmurou Rem, pensativa.
— Estatísticas indicam que 70% do que Julius disse era o motivo real dele. — completou Lavel.
— E os outros 30%? — perguntou Mira, curiosa.
— Videogames. — respondeu Lavel, com um tom divertido.
— O quê? — Mira quase gritou, confusa.
— Julius é um completo nerd quando não está em combate. — explicou Lavel, rindo.
— Isso é sério? — perguntou Rem, incrédula.
— Até os gênios têm seus defeitos. — comentou Emilia, sorrindo.
— Sério que isso se aplica a todos? Qual é o problema com esse pessoal? — disse Fernanda, balançando a cabeça.
No vídeo.
— O cheiro está se unindo. Que demora é essa para encontrar uma caça? — perguntou Kay, impaciente.
— Seu pai não é o melhor caçador, você sabe disso! — respondeu a mãe de Kay, revirando os olhos.
Kay retirou a bandeja do congelador e colocou sobre a mesa.
— Já vai continuar? Você não precisa do sangue? — perguntou a mãe dele.
— Só depois dessa etapa, antes de congelar de novo. — explicou Kay, focado.
— Lavel, não consegue localizar alguma caça na floresta para guiar meu marido? — perguntou a mãe de Kay.
Uma carinha feliz apareceu em um dos monitores.
— Deixo com você! — disse ela, confiante.
— Encher a floresta de câmeras escondidas foi uma boa ideia. — comentou Kay.
— Eu falei! — respondeu a mãe dele, orgulhosa.
Kay concentrou-se e começou a esmagar as partes dos ghouls, unindo-as.
— E agora, qual é o próximo passo? — perguntou a mãe dele, observando atentamente.
— Só esperar os cheiros se "devorarem", até ficarem mais próximos de um único cheiro. — respondeu Kay.
— Acho que isso não vai demorar. — disse ela.
— É um processo rápido, mas até o pai chegar aqui vai demorar. — disse Kay, afastando-se.
— O que vai fazer? — perguntou a mãe, preocupada.
Kay foi até a gaveta, pegou um bisturi novo e voltou para a mesa.
— Vai usar isso para quê? — exclamou ela, desconfiada.
Kay fez um pequeno corte na própria mão e apertou até o sangue pingar.
— Seu idiota! — disse a mãe, alarmada, correndo até ele.
— Não é muito. É só o suficiente para eles sentirem o gosto e pensarem que tem outro ghoul roubando a presa deles. — explicou Kay, enquanto deixava o sangue pingar sobre a carne dos ghouls.
— O cheiro! Eles estão agitados! — exclamou a mãe de Kay, surpresa.
Após terminar, Kay largou o bisturi e foi lavar a mão. A mãe logo apareceu com faixas e cobriu o ferimento.
— Idiota, não faça mais isso! — disse ela, com firmeza.
— Tá bom... — respondeu Kay, resignado.
— Preciso ganhar tempo até o pai chegar! — disse Kay, olhando para a carne que começava a tremer sobre a bandeja.
— Está reagindo! Acho que você tem compatibilidade com os trajes do exército! — comentou a mãe de Kay, impressionada.
— Compatível com ghouls? Tô fora! Não aguentaria nem por um segundo o cheiro deles! — disse Kay, fazendo uma careta.
— Mas os trajes não têm cheiro! — retrucou a mãe, franzindo a testa.
— Não sente o cheiro quando o pai está usando? Meu olfato já superou o seu, mãe! — provocou Kay, cruzando os braços.
— Os trajes são preparados exatamente para não terem cheiro. Você deve estar cismado por causa desse odor horrível dos ghouls! — respondeu ela, tentando justificar.
— É fraco, mas o traje do pai emana um cheiro. Dá pra sentir! — insistiu Kay, convicto.
— Vou tentar reparar nisso depois. — prometeu a mãe, refletindo.
Nesse momento, o pai de Kay entrou no laboratório, segurando um pequeno coelho entre as mãos.
— Esse coelho é da Lily! Ela vai te xingar! — disse a mãe de Kay, alarmada.
— Estava na floresta! Eu não sabia que era dela! — defendeu-se o pai, visivelmente desconfortável.
— Chegou em boa hora. — disse Kay, aproximando-se para pegar o coelho das mãos do pai.
Com precisão, Kay fez um pequeno corte no coelho, deixando o sangue escorrer sobre a carne de ghoul na bandeja. O líquido vermelho tingiu a superfície, e a reação foi quase imediata: a carne parecia pulsar levemente.
A mãe de Kay rapidamente colocou outro balde sobre a mesa, e Kay deixou o coelho dentro dele antes de voltar sua atenção para a bandeja. Ele a segurou com cuidado e voltou a colocá-la no congelador.
— Daqui a uns dez minutos, tire a bandeja, espere descongelar, molde no formato da faca e deixe congelando novamente. — instruiu Kay, com um tom sério. — Eu vou me desculpar com a Lily.
— Mas fui eu que cacei o coelho! — protestou o pai de Kay, cruzando os braços.
— Acha que ela vai perdoar mais fácil um ex-colega do exército ou uma criança imatura que só queria caçar algo para comer? — rebateu Kay, arqueando uma sobrancelha.
— Tem razão. Deixo isso com você. — disse o pai, soltando um suspiro resignado.
Kay pegou o balde com o coelho e, sem dizer mais nada, deixou o laboratório.
Ainda na gravação, do lado de fora da casa.
— É você! — disse Kay, com desdém ao cruzar os braços.
— Eu vim falar com sua mãe, não com você! — respondeu Mira, ignorando o tom dele.
— Minha mãe tá ocupada com o pai. Se eu fosse você, não entraria lá. — Kay lançou um olhar direto, quase como um aviso.
— Ata... Eu volto outra hora! — disse Mira, recuando.
Ela então notou algo em suas mãos.
— O que é isso aí? — perguntou, apontando.
— É o coelho da Lily. — respondeu Kay, sem dar muita importância.
Mira deu um passo para trás, horrorizada.
— Você o matou?!
— Bem, não exatamente... Eu ia cozinhá-lo, mas minha mãe disse que era da Lily. Então, estou indo me desculpar. — Kay respondeu, tentando soar casual, mas claramente desconfortável.
— Você? Indo pedir desculpas? — disse Mira, surpresa, com uma sobrancelha arqueada.
— A maneira como você disse isso me irritou! — Kay apertou o passo, claramente incomodado.
— É que você é horrível nisso! — provocou Mira, rindo de leve.
— Claro que sou! Eu não faço nada pra ter que me desculpar com ninguém! — rebateu Kay.
— Você não entende as pessoas mesmo... — suspirou Mira.
— Desculpa por ser uma pessoa sem amigos. Mas, afinal, o que você quer? Por que está me seguindo? — perguntou Kay, irritado.
— Não vou deixar você ir sozinho. Você é péssimo nisso, e nem sempre sua mãe vai poder ir com você. — disse Mira, cruzando os braços.
— Faça o que quiser. — Kay bufou, olhando para o horizonte.
— É o que eu pretendo. — Mira deu de ombros, com um pequeno sorriso.
Os dois continuaram caminhando em silêncio, até que Mira quebrou o clima.